65ª Reunião Anual da SBPC
H. Artes, Letras e Lingüística - 4. Linguística - 5. Teoria e Análise Linguística
A VELHICE NA IMPRENSA E OS SENTIDOS DE APOSENTADORIA DELIMITANDO O DIZER
Simone Valéria de Araujo - Faculdade de Letras –Fale/ Ufal
Helson Flávio da Silva Sobrinho - Prof. Dr. / Orientador - Faculdade de Letras –Fale/ Ufal
INTRODUÇÃO:
Este trabalho, filiado à Analise do Discurso de vertente pecheuxtiana, faz parte da pesquisa de Iniciação Científica (PIBIC/Ufal) e tem como enfoque o trajeto temático: Velhice e Aposentadoria. O estudo que realizamos partiu da constatação de que há um discurso sobre a velhice que se manifesta na imprensa de modo contraditório, pois incentiva que o sujeito não se aposente, e toma esse dizer como evidente para todos velhos/idosos, silenciando as contradições das relações de exploração do trabalho. Como estamos filiados a uma perspectiva teórica que articula o dizer e suas condições de produção, analisamos essa discursividade para compreender como os sentidos de velhice e de aposentadoria não são produzidos de modo abstrato, pois são as contradições históricas que determinam a representação social da velhice para a sociedade brasileira. Como pressuposto, ressaltamos a existência de relações sociais determinadas sustentadoras das condições em que vivem os velhos/idosos, bem como do próprio dizer e/ou não dizer sobre a velhice que, em sua formulação discursiva e circulação na mídia impressa, produz sentidos e tem orientado as ações dos sujeitos.
OBJETIVO DO TRABALHO:
Objetivamos compreender o funcionamento do discurso sobre a velhice e seus trajetos sociais de sentidos a partir dos dizeres materializados na imprensa brasileira no entrecruzamento entre os dizeres sobre velhice e aposentadoria.
MÉTODOS:
O procedimento metodológico para a realização deste trabalho teve como ponto de partida a seleção de matérias/reportagens sobre a velhice publicadas pela revista Veja, demarcado no período entre a década de 1990 e também na primeira década de 2000. Essa coleta de matérias/reportagens para a constituição do corpusfoi realizada através de um trabalho de busca no site da Veja e, em seguida, fizemos recortes das materialidades discursivas guiados pelo trajeto temático, velhice/aposentadoria, que foi cuidadosamente escolhido para o desenvolvimento da análise. Os recortes e a análise estão fundamentados em dispositivo teórico da Análise do Discurso (AD) que tem sustentado nossa reflexão científica na compreensão das determinações históricas dos sentidos de velhice para a sociedade brasileira.
RESULTADOS E DISCUSSÃO:
Em nossa investigação foi possível perceber que a aposentadoria é simbolizada como um marco na vida de cada sujeito, ou seja, uma passagem da vida “ativa” para a “inativa”. No entanto, a pessoa aposentada é considerada “inativa” porque não mais produz mercadoria para o modo de produção capitalista. As análises revelaram a existência de um discurso que incentiva o sujeito a não se aposentar, como vimos no título: “7 razões para não vestir o pijama”, (Veja, 15/7/2009), como se fosse um desejo “natural” de todo ser humano. Esses dizeres produzem sentidos de homogeneização do sujeito velho/idoso, já que, sob este ponto de vista, todos possuem aparentemente os mesmos anseios. No entanto, para o estabelecimento da eficácia desse funcionamento discursivo, o “velho/idoso” é chamado a ocupar um lugar de “jovem”, assumindo um papel de cidadão“ativo” (útil) para a sociedade de consumo, o que implica em uma contradição, pois nem todos os velhos/idosos podem assumir esse lugar diante da desigualdade social. A exigência da sociedade do capital é de que o “velho/idoso” permaneça “jovem” e mostre-se“ativo”, o que culmina na negação da velhice para esta sociedade.
CONCLUSÕES:
Com essa investigação pudemos observar que a tentativa de homogeneizar a velhice implica no silenciamento da realidade cotidiana de muitos velhos/idosos que vivem marginalizados nas esferas desfavorecidas da sociedade burguesa. Ou seja, como diz Eni Orlandi, no livro “As formas do silêncio”, se diz x para não se dizer y, dessa forma, o discurso está sempre imbricado com os interesses e posições de classes em uma conjuntura histórica dada. Os dizeres sobre velhice, no eixo temático velhice/aposentadoria, são atravessados por silenciamentos das contradições da sociedade capitalista que impulsionam a continuidade da manutenção do trabalho e faz “calar” as relações opressoras nas quais o velho/idoso está inserido.
Palavras-chave: Discurso, Silenciamento, Contradição.