65ª Reunião Anual da SBPC
H. Artes, Letras e Lingüística - 5. Semiótica - 1. Semiótica
ROMANCE E FILME MEMÓRIAS PÓSTUMAS DE BRÁS CUBAS: UMA ANÁLISE INTERSEMIÓTICA
Gérsica Cássia Ferreira Leite - Graduanda do Curso de Letras da UPE
INTRODUÇÃO:
O presente trabalho é resultado de uma investigação da relação intersemiótica existente entre a obra literária Memórias Póstumas de Brás Cubas, lançada em 1881, do escritor brasileiro Machado de Assis e sua adaptação cinematográfica de 2001, sob a direção de André Klotzel. Analisando essas duas linguagens diferentes, signos verbais e signos icônicos, foram averiguados quais são os pontos em que ambas se tocam e se afastam. Para tanto, nossas compreensões e conclusões estão subsidiadas nas contribuições teóricas de Regina Braga (1983), Bernadett Lyra (2007), nas entrevistas do autor que interpretou Brás Cubas e do diretor do filme, Reginaldo Faria e André Klotzel, respectivamente. Neste estudo partimos dos procedimentos técnicos básicos utilizados para comparar a adaptação de um texto literário para o cinematográfico: a redução, adição, deslocamento e transformação, propostos por João Batista Brito na obra Literatura no Cinema (2006). A utilização de recursos audiovisuais e a leitura do romance propiciaram uma visão panorâmica de diversos aspectos sociais inerentes à época em que o personagem Brás Cubas viveu, tais como o modelo de relacionamento vigente; e alguns temas mais universais e atemporais, a exemplo da avareza e o egoísmo.
OBJETIVO DO TRABALHO:
Compreender a partir da obra Memórias Póstumas de Brás Cubas, do autor brasileiro Machado de Assis, a transformação da linguagem literária para a cinematográfica, tendo como referência o esquema mínimo do processo adaptativo proposto por Brito (2006).
MÉTODOS:
Como procedimentos metodológicos, realizamos um estudo sistematizado do romance Memórias Póstumas de Brás Cubas, levantando informações sobre a estética literária do autor e as temáticas trabalhadas na obra. Em seguida, lemos o texto ficcional e o comparamos à adaptação cinematográfica. Para facilitar o estudo e compreendermos melhor a transformação dos signos verbais para o icônico, adotamos a proposta de esquema mínimo do processo adaptativo proposto por Brito (2006). Observamos, portanto: quais elementos foram retirados do romance ( Redução); quais foram acrescentados ( Adição); quais elementos permanecem, mas não na mesma ordem cronológica ou espacial (Deslocamento); quais elementos estão em ambos e possuem significados equivalentes, mas a configuração é diferente ( Transformação Propriamente dita) e; quais elementos ganharam dimensão no filme ( Ampliação) ou foram diminuídos ( Simplificação).
RESULTADOS E DISCUSSÃO:
A obra literária e o filme iniciam-se com a célebre frase: “Ao verme que primeiro roeu as frias carnes do meu cadáver dedico como saudosa lembrança estas memórias póstumas” e segue com o enterro de Brás Cubas. Já nas primeiras cenas do filme percebemos a grande semelhança com o texto original, reconhecemos facilmente os fatos outrora descritos no romance. Poucas e pequenas adaptações foram feitas, o que manteve o ritmo da trama. Machado de Assis utilizou artifícios leves e dinâmicos para refletir, criticar e ironizar a sociedade de sua época. Esse também foi um aspecto com o qual o diretor do filme se preocupou. Assim, notamos que as cenas se desenvolvem de modo natural e que a forma como o cenário é iluminado contribui para tal representação. Quanto à redução, percebemos que a maioria das supressões ocorreu em torno dos discursos auto-reflexivos de Brás Cubas, das personagens Sabina, Cotrim, Venância, Viegas e D. Plácida e, ainda, uma diminuição considerável no que diz respeito à intertextualidade. Quanto à adição, esse recurso foi pouco utilizado, se restringido ao acréscimo de algumas informações e diálogos ausentes no romance. Já o deslocamento, transformação propriamente dita, simplificação e ampliação, esses recursos, apesar de utilizados, foram quase imperceptíveis.
CONCLUSÕES:
Partindo do trabalho desenvolvido, compreendemos que a adaptação de uma obra literária é uma tarefa complexa, quando o objetivo é manter a essência do texto original. Esse processo exige do adaptador fazer as escolhas corretas e pertinentes para que o filme não se afaste tanto do romance que está sendo adaptado, nem se prenda a tal ponto de tolher-lhes a liberdade de criação e características peculiares da arte cinematográfica. André Klotzel, apesar de reduzir, adicionar, transformar, simplificar ou ampliar alguns capítulos do livro, continuou fiel à obra de origem. O filme pode, até certo ponto, ser considerado um instrumento facilitador para leitores iniciais de Machado de Assis que desejam compreender melhor a obra, bem como contribui para uma melhor visualização dos aspectos sociais, políticos, econômicos e culturais da época em que viveu o personagem Brás Cubas.
Palavras-chave: Literatura e Cinema, Memórias Póstumas de Brás Cubas, Adaptação.