65ª Reunião Anual da SBPC
G. Ciências Humanas - 7. Educação - 7. Educação Infantil
A ESCRITA DO NOME PRÓPRIO NA EDUCAÇÃO INFANTIL: DO DESENHO PARA O SIMBÓLICO
Cristiane Renata da Silva Cavalcanti - PROGRAMA DE MESTRADO EM CIÊNCIAS DA LINGUAGEM - UNICAP
INTRODUÇÃO:
A proposta do nosso trabalho é investigar o processo de simbolização da criança quando inicia a grafia do nome próprio na escola. Baseamo-nos na Psicanálise lacaniana, pois consideramos o nome próprio como um traço distinto, como algo no qual a criança se apoia para se diferenciar de seus colegas de classe, de seus semelhantes.
Segundo Lacan (1953), o simbólico se relaciona com a linguagem humana articulada, que é a linguagem simbólica, que diferencia o homem dos demais de sua espécie por meio do símbolo. Nas palavras do autor, “é o mundo das palavras que cria o mundo das coisas” (LACAN, 1953, p.277) e é pela palavra que se nomeia aquilo que não está presente, ou seja, pela nomeação o objeto se faz presente, mesmo que ausente.
Entendemos, que nossa pesquisa é relevante, para compreendermos como se inicia o processo de apreensão da língua escrita pelas crianças e a contribuição que ela pode trazer para a Educação Infantil, pois tentamos observar os modos pelos quais a criança constrói, aos poucos, neste processo, o conceito do nome próprio, que deixa de ser uma imagem e passa a ser um símbolo.
Logo, sabemos que o professor ocupa papel privilegiado nesse processo de interação com a aprendizagem da criança. Ele intervém nesse processo com a finalidade de provocar uma mudança de posição por parte da criança que refletirá na produção escrita dela.
OBJETIVO DO TRABALHO:
Analisar, através do processo de simbolização, como as crianças pequenas interpretam as marcas gráficas que produzem no início de sua aquisição/apropriação da linguagem escrita quando solicitadas para escrever o seu nome próprio.
MÉTODOS:
Realizamos, de tal modo, uma investigação em uma turma de Educação infantil composta por 21 alunos de aproximadamente três anos de idade, que frequentaram a Escola Pública Municipal do Município de Jaboatão dos Guararapes no ano de 2012, mas para a composição do texto desse trabalho, tomamos apenas a análise de escrita de uma criança.
Tomamos como corpus de análise da nossa pesquisa o recorte de dez produções escritas de uma estudante da Educação Infantil de uma Escola Municipal do Município de Jaboatão dos Guararapes no ano de 2012. Durante o ano, assistimos à aula da professora e coletamos dados que pudessem fornecer elementos para análise. O corpus é composto por transcrições das aulas, da fala da criança, ao interpretar suas produções escritas e de dez produções escritas de uma criança que a nomearemos de “Camila”. Camila foi escolhida por causa de seu envolvimento com as tarefas de escrita propostas pela professora e pela singularidade das interpretações sobre a própria escrita de seu nome. Assim como por ela se destacar em sala de aula pela sua participação ativa, demonstrando interesse nas atividades propostas pela professora, explicando sempre o que já sabia e também por se oferecer para contar histórias do repertório do grupo ou de sua própria imaginação.
RESULTADOS E DISCUSSÃO:
Na primeira parte do trabalho, procuramos entender os modos pelos quais as crianças constroem o conceito do nome próprio e sua relação interacionista (criança e professor) quando o nome próprio deixa de ser uma imagem e passa a funcionar como um símbolo, destacando a presença desse entrelaçamento.
Depois, procuramos ampliar as reflexões teóricas baseados na abordagem da psicanálise de Lacan que considera o nome próprio como um traço que marca um corpo e, designando uma diferença, o inscreve em um lugar.
Em seguida, explicamos de forma concisa as três categorias pensadas por Lacan, como categorias universais: o real, o simbólico e o imaginário (RSI), e falamos também um pouco como se dá a passagem do imaginário para o simbólico quando estamos diante de uma nova aprendizagem e como se dá essa transformação através do trabalho do simbólico.
Posteriormente, procuramos explicitar qual é a importância do papel do Outro na mediação da transmissão da linguagem oral e escrita, no processo de aquisição da linguagem, e que papel o professor/Outro possui nessa relação com a criança; discorremos também sobre como ocorre esse processo da escrita do nome próprio pelas crianças e, por fim, fizemos a análise do corpus composto pelas dez produções escritas da criança.
CONCLUSÕES:
Ao longo do trabalho, verificamos que a construção do conceito do nome próprio por parte das crianças se efetua através da vinculação dos passos iniciais da metaforização do processo de simbolização que se dá no momento de aquisição do sistema alfabético de representação.
Tentamos descrever como a criança interpreta as marcas gráficas que produz de modo intencional ou acidental ao ser solicitada para escrever seu nome próprio, bem como analisamos o modo como iniciam a apropriação da linguagem escrita e o processo de simbolização.
Então percebemos que a criança se apropria da forma convencional escrita de seu nome pela elaboração do conceito de nome próprio e pela leitura que realiza da marca gráfica que produziu e também pela interação com o Outro, seu interlocutor, que ora afirma, ora questiona suas interpretações.
Desse modo a criança acaba sendo capturada pelo simbólico e, como efeito, percebe que, para escrever, precisa mobilizar escritos cuja característica é pertencerem a um sistema convencional imposto, concebido pela sociedade.
Assim, compreendemos que a criança se assujeita às leis da linguagem e percorre um caminho para se apropriar do sistema de representação escrita. E neste percurso, o papel do Outro/do professor é importante, pois as intervenções feitas por ele, levam a criança a refletir sobre sua escrita e a reformular hipóteses a respeito de sua produção, resinificando sua marca própria de escrever o nome.
Palavras-chave: Aquisição da escrita, Nome próprio, Processo de simbolização.