65ª Reunião Anual da SBPC
H. Artes, Letras e Lingüística - 4. Linguística - 1. Linguística Aplicada
A PALAVRA COMO RECURSO PRIMORDIAL DO PROFESSOR: PACTOS E IMPACTOS NA SALA DE AULA DE LÍNGUAS
Juliet Aparecida de Jesus Sousa - Depto. de Estudos Linguísticos e Literários (DELL) – Letras UESB
Fernanda de Castro Batista Coelho - Profa. Dra./Orientadora - Depto. de Estudos Linguísticos e Literários – UESB
INTRODUÇÃO:
As discussões apresentadas centram-se na atualização da noção de palavra que, na concepção dialógica da linguagem de Bakhtin (1999), se configura como lócus de acesso ao outro. Neste trabalho, focalizamos o modo como a palavra é agenciada pelo docente e como esses usos afetam o engajamento dos alunos no texto oral coconstruído sob gerência do professor de que a aula é resultado (MATENCIO, 2001). A palavra vem sendo objeto de exame de inúmeros autores (BAKHTIN, 1999; FOUCAULT, 1992; COELHO, 2011; COELHO; SOUZA, 2012; LARROSA, 2011) que a têm pensado a partir de diferentes abordagens. Na pesquisa, em curso, a palavra é tematizada como recurso didático primeiro do professor (COELHO, 2012). Para isso, recorremos às noções de palavra dialogada que representa a troca de turnos de fala durante a aula, sendo, portanto, um conceito formal que remete à estrutura da interação didática e a palavra dialógica que se vincula aos significados compartilhados promovidos pela troca da palavra em torno do objeto de ensino topicalizado pelo professor no gênero aula. A relevância da pesquisa em curso centra-se na necessidade de contribuir para a desobvialização do trabalho discursivo do professor e, portanto, de reenquandrar a aula como prática de linguagem e lugar de reconstrução de identidades.
OBJETIVO DO TRABALHO:
Analisar como os sujeitos da pesquisa gerenciam a palavra em aula de línguas a fim de compreender e contribuir para que a sala de aula seja ressignificada como lugar de convivência intersubjetiva, de reconstrução de identidades e campo de pesquisa. Contribuir operacionalmente por meio da transcrição e análise de aulas para que os sujeitos docentes da pesquisa se percebam discursivamente.
MÉTODOS:
A abordagem da pesquisa de cunho etnográfico (PEIRANO, 1992; ERICKSON,1973, 2006; GREEN; DIXON; ZAHARLICK, 2005) e a abordagem qualitativa (FLICK, 2005) orientam a pesquisa em campo, há seis meses em curso, em uma escola pública da rede estadual do município de Vitória da Conquista. O grupo observado, cujas atividades têm sido semanalmente acompanhadas, integra uma turma de 1º ano de ensino médio. Dentre os instrumentos de pesquisa geradores de dados, estão a gravação e transcrição de aulas e o trabalho com questionários. O trabalho com o diário de campo tem permitido também registrar minúcias do dia a dia interacional de professor e alunos (sujeitos da pesquisa) em aulas de língua materna e estrangeira. Tais notações têm possibilitado o registro de outros aspectos discursivos que têm se mostrado, muitas vezes, impossíveis de serem capturados através de gravações. Para tratamento dos dados, temos agenciado princípios de uma abordagem discursiva.
RESULTADOS E DISCUSSÃO:
Os dados em exame têm reiterado a relevância de se investigar o gerenciamento da palavra como o recurso didático primordial e constitutivo do professor (COELHO, 2011; 2012) tendo em vistas a construção das subjetividades e identidades daqueles que na escola desempenham as funções sociointeracionais de alunos e professor. A observação dos movimentos didáticos e discursivos de oportunização da palavra pelos profissionais professores (sujeitos da pesquisa) endossam os achados de Coelho (2011) de que essa i) tende a não ocorrer de modo igualitário, ou seja, nem todos os alunos (sujeitos da pesquisa) parecem dispor dos mesmos direitos de se expor nas aulas. As interações em sala de aula ainda apontam tanto para usos de ii) palavras dialógicas (BAKHTIN, 1999) que impactam no que Matencio (2001) nomeia intervenções (dizeres que contribuem para o projeto didático do professor e que são incorporados por eles ao texto oral coconstruído de que a aula é resultado), como também na presença de palavras dialogadas que parecem apenas marcar a estrutura formal da interação sendo presentificadas na externalização da voz física que por ecoar sem reverberar no projeto didático do professor configura tão somente turnos de fala.
CONCLUSÕES:
As investigações empreendidas apontam para a necessidade de se refletir sobre um saber constitutivo relativo a uma espécie de fazer docente na sala de aula que carece e merece ser ressignificado a partir de pesquisas que mapeiem o que o professor faz ou deixa de fazer por meio da palavra. Daí a crença de que repensar o modo como se administra a palavra no ambiente escolar possibilite redimensionamentos nas práticas de iniciação a docência, como o quer o projeto PIBID. O que acreditamos ser possível dado ao fato de o professor observado ser não apenas sujeito da pesquisa, mas, sobretudo, um profissional que abre as portas das salas de aulas em que leciona na identidade de professor supervisor e, também bolsista PIBID, para divulgar e repensar sua prática. Estar atento às obvialidades da aula para reconsiderar o que foi feito e o que poderá ser (re)(des)feito nas práticas futuras tendo em vista a revitalização da aula e o fato dos alunos serem sujeitos da palavra é o que justifica e encoraja a continuação da pesquisa cujos resultados parciais aqui apresentamos.
Palavras-chave: Dialogismo, Aula, Interação didática.