65ª Reunião Anual da SBPC
C. Ciências Biológicas - 5. Ecologia - 1. Ecologia Aplicada
SÍNDROMES DE DISPERSÃO E PROPRIEDADES GERMINATIVAS DE ESPÉCIES DE VALOR ECONÔMICO NA FLORESTA NACIONAL DE TEFÉ (TEFÉ, AMAZONAS).
Rosiely Silva Cabús - Bolsista PAIC/FAPEAM – Centro de Estudos Superiores de Tefé - UEA
Abraão Alexandre de Souza - Bolsista PAIC/FAPEAM – Centro de Estudos Superiores de Tefé - UEA
Luciane Lopes de Souza - Profa Dr./Orientadora-Centro de Estudos Superiores de Tefé-UEA
INTRODUÇÃO:
A síndrome de dispersão é o conjunto de características morfológicas, químicas e nutricionais presentes nos diásporos das plantas que favorecem a ação de determinados agentes dispersores. Estudos sobre dispersão de sementes constituem uma importante ferramenta para a conservação de comunidades vegetais, pois buscam esclarecer a dinâmica reprodutiva das plantas, suas interações com fatores bióticos, abióticos e seu processo de regeneração. Das florestas da Amazônia, particularmente, do Médio Solimões pouco se sabe sobre a ecologia da dispersão. Algumas espécies vegetais que compõe a Floresta Nacional de Tefé, possuem amplo valor econômico, servindo para uma gama de utilidades, desde a construções de moradias à fármacos, sendo largamente utilizados pelos comunitários. Estudos que caracterizem a germinação de tais espécies são essenciais para promover planos de manejo e conservação a longo prazo, assim como o melhor entendimento da interação mutualística entre as plantas e visando à redução dos riscos de extinção de espécies ameaçadas ou vulneráveis. Este estudo representa o primeiro banco de dados sobre as síndromes de dispersão de sementes na Floresta Nacional de Tefé.
OBJETIVO DO TRABALHO:
Determinar as síndromes de dispersão das espécies de plantas de importância econômica inventariadas na Floresta Nacional de Tefé, assim como caracterizar morfologicamente os frutos e as sementes destas espécies, identificando os potenciais agentes dispersores, sejam eles bióticos ou abióticos e, por fim, realizar testes de germinação com as sementes destas espécies de forma natural.
MÉTODOS:
A Floresta Nacional de Tefé possui uma extensão de 1.020.000 hectares e abrange os municípios de Tefé, Alvarães, Juruá e Carauari, localizada entre os paralelos de 3º 30’ e 4º 30’ S e meridianos 65º e 66º20’W. A área de estudo foi a Comunidade Bom Jesus, onde foram abertas trilhas, com 3.860 m de extensão total, para fins de levantamentos florístico e fenológico. As excursões foram realizadas durante dois dias a cada quinzena, duas voltas a cada dia, somando 8 horas por dia, no período de setembro de 2011 a julho de 2012, com exceção do mês de janeiro, resultando num total de 1. 152 horas de esforço amostral. Durante a visita eram feitas as procura de frutos e sementes (maduros e intactos) no solo ou na copa das árvores. Quando encontrados, os frutos eram coletados e medidos, sendo anotados os dados: espécie (ou nome vulgar), cor, odor, sabor, comprimento, largura, peso, tipo de fruto e dispersão. De cada espécie coletou-se um número igual a cem diásporos (quando possível). A germinação foi considerada a partir da emissão dos folículos e os substratos utilizados foram: vermiculita, terra preta e areia. A duração do teste foi de 150 dias. A identificação das espécies botânicas foi feita com o auxílio das observações de campo e da literatura.
RESULTADOS E DISCUSSÃO:
As espécies estudadas pertencem às seis famílias botânicas: Mimosaceae- Parkia nítida, Burseraceae- Protium spruceanum, Lauraceae- Ocotea sp., Chrysobalanaceae (Hirtella hebeclada), Myristicaceae (Iryanthera laevis) e Apocynaceae (Couma macrocarpa). As espécies estudadas possuem características morfológicas atrativas que apontam para a dispersão zoocórica, embora possam utilizar mecanismos abióticos. Os frutos de Ocotea sp., P. spruceanum, I. laevis e H. hebeclada são do tipo drupa, já P. nítida e C. macrocarpa os frutos são do tipo baga com média de 12 e 11,3 sementes por fruto respectivamente. No teste de germinação a H. hebeclada apresentou resultado de 98% de germinação utilizando como substrato terra preta, nos demais substrato superou 50%. Os testes com I. laevis apresentaram melhor germinação utilizando terra preta com 56%. A espécie C. macrocarpa teve 74% de germinação no substrato vermiculita, P. spruceanum atingiu apenas 14% de germinação em vermiculita. A espécie P. nítida apresentou o melhor índice de germinação em de terra preta com 18%. No teste com Ocotea sp. devido a curta longevidade dessas sementes apresentou 64% de germinação em terra preta.
CONCLUSÕES:
O presente estudo revelou que seis espécies de potencial madeireiro possuem a zoocoria como principal mecanismo de dispersão, ou seja, os animais frugívoros são importantes agentes da manutenção desta floresta. Estes resultados inéditos para região mostram que as espécies vegetais utilizam diferentes estratégias para garantir a dispersão de suas sementes, possuindo diásporos com cores e odores atrativos para os frugívoros locais como primatas e outros vertebrados que vivem na floresta. Nos testes de germinação as taxas maiores foram para as espécies Hirtella hebeclada e Ocotea sp. apesar desta última ter um número reduzido empregado no teste. Em contra ponto as espécies Parkia nítida e Protium spruceanum apresentaram os menores resultados nos testes de germinação. Quanto ao uso dos substratos nos testes, não houve homogeneidade para indicar um substrato mais eficaz, e sim, houve variação nos resultados obtidos de acordo com a espécie testada. Entretanto, mais estudos precisam ser realizados para subsidiar futuras ações de manejo e conservação das espécies potencialmente econômicas desta Unidade de Conservação amazônica.
Palavras-chave: Diásporos, Potencial Econômico,, Germinação,, FLONA-Tefé, Amazônia..