65ª Reunião Anual da SBPC
D. Ciências da Saúde - 3. Saúde Coletiva - 5. Saúde Coletiva
NECESSIDADES DE EDUCAÇÃO PERMANENTE NUMA UNIDADE DE SAÚDE DA FAMÍLIA - VISÃO DOS ATORES
Rebecca Soares de Andrade Fonseca dos Santos - Instituto de Medicina Integral Prof. Fernando Figueira - IMIP
Lílian Bezerra Silva do Nascimento Caldas - Instituto de Medicina Integral Prof. Fernando Figueira - IMIP
Maria Leopoldina Padilha Falcão - Instituto de Medicina Integral Prof. Fernando Figueira - IMIP
Paulo Sávio Angeiras de Góes - Instituto de Medicina Integral Prof. Fernando Figueira - IMIP
INTRODUÇÃO:
A estratégia de saúde da família (ESF) foi regulamentada em 1994 pelo Ministério da Saúde com vistas a modificar a forma tradicional de prestação de assistência à saúde.A principal mudança é no foco de atenção, que deixa de ser centrado no indivíduo e na doença,passando também para o coletivo.O fazer em saúde de forma modificada tem encontrado como grande entrave a formação universitária.Profissionais formados no modelo biomédico não tem a compreensão global do ser humano e sentem dificuldades para atuar na lógica da ESF, tendo,em sua maioria, uma prática de trabalho deformada.Na tentativa de contornar o descompasso entre a formação desses profissionais e os princípios do SUS,o Ministério da Saúde buscou assumir o seu papel na ordenação da formação dos novos profissionais de saúde e na educação permanente (EP) dos trabalhadores já inseridos no SUS. A EP tem como objetivo central a transformação das práticas profissionais e da própria organização do trabalho, tendo as necessidades de saúde das populações como referência.Entendendo a EP como uma ferramenta que trabalha a implicação dos sujeitos modificando o processo de trabalho dos profissionais da ESF,o objetivo deste trabalho foi verificar se a EP é percebida pelos profissionais como capaz de modificar a práxis profissional.
OBJETIVO DO TRABALHO:
O objetivo deste trabalho foi verificar se a Educação Permanente em Saúde é percebida pelos profissionais da Estratégia de Saúde da Família como capaz de modificar suas práxis profissionais.
MÉTODOS:
Trata-se de um estudo qualitativo,ocorrido em novembro de 2010 e realizado numa Unidade de Saúde da Família (USF) localizada na região metropolitana de Recife. Utilizou-se a técnica de grupo focal (GF) para coleta de dados. O GF teve a participação de 7 profissionais de saúde da USF referida, sendo 3 de nível superior,2 de nível técnico e 2 nível médio, com vistas a manter a representatividade e a homogeneidade do grupo. Para nortear a condução do GF, foi utilizado um guia de temas contendo três questões: as percepções dos trabalhadores quanto às dificuldades encontradas no desenvolvimento de suas atividades, seus desejos/frustrações em seus processos de trabalho e as percepções de necessidade de EP. Para preservação das identidades dos participantes foram utilizados codinomes.O GF teve duração de uma hora. Em seguida foi aplicado o passo 1 do Método Altadir de Planificação Popular (MAPP), onde os participantes puderam selecionar os problemas e, em seguida ordená-los segundo a importância que possuem e a prioridade que atribuíram à sua solução. Os dados foram coletados a partir do registro escrito e de áudio do encontro do GF e das observações realizadas pelos pesquisadores. A gravação foi transcrita na íntegra e os dados foram tratados através da análise de discurso.
RESULTADOS E DISCUSSÃO:
Em relação às características dos profissionais de saúde participantes constatou-se a predominância do sexo feminino (86%),com 43% dos participantes sendo de nível superior, 29% nível médio e 29% nível técnico.O tempo médio de trabalho na ESF foi de 9,7 anos (DP±4,7).A análise de discurso dos participantes possibilitou que as temáticas levantadas pelo guia de temas gerassem algumas idéias centrais.Foi possível constatar que existe uma dificuldade de comunicação entre as equipes de saúde e a comunidade,o que leva ao afastamento e a não criação de vínculos entre profissionais e usuários, enquanto a política da ESF propõe o oposto.Observou-se ainda que esses profissionais são submetidos à inadequadas condições de trabalho,como falta de insumos e ausência de profissionais, gerando desmotivação com o trabalho.Apenas alguns profissionais relataram desejo de fazer algo além do que são cobrados, demonstrando um conformismo dos demais com a situação de trabalho em que se encontram.Quanto às percepções de necessidade de educação permanente, um grupo coloca a educação continuada como suficiente,e outro relata a necessidade de matriciamentos. O GF foi finalizado com a aplicação do MAPP,onde se constatou que o grupo buscou a EP para resolução de alguns impasses de seus processos de trabalho.
CONCLUSÕES:
A dinâmica de trabalho numa USF requer grande versatilidade por parte de seus profissionais, de forma a atender com resolutividade às demandas do cotidiano. Nesta pesquisa não foi possível observar esse comportamento por parte dos profissionais, com as equipes atuando de forma desarticulada e descontextualizada da realidade da população adstrita, fazendo com que o modelo biomédico e hospitalocêntrico, tão combatido, se perpetue.Em consonância com outros estudos, foi constatado que, como em outras unidades de saúde país afora, a unidade em estudo sofre com as inadequadas condições de trabalho, causando a desmotivação desses profissionais, o que por sua vez, dificulta a modificação da práxis profissional. Poucos profissionais referiram desejo em realizar atividades além das que já efetuam. Também foi possível observar que apenas alguns profissionais sentiram necessidade de EP atrelada a seus processos de trabalho. Observou-se que apesar de muitas das dificuldades enfrentadas pelos profissionais fugirem de sua governabilidade, quando se toma como objeto de análise seu processo de trabalho (algo significante) e se estimula a reflexão, é possível notar que esses profissionais percebem a EP como uma aliada e propõem soluções para alguns impasses e até mesmo desejos da equipe.
Palavras-chave: Saúde da família, Educação em Saúde, Grupos Focais.