65ª Reunião Anual da SBPC
D. Ciências da Saúde - 5. Farmácia - 5. Farmacognosia
PERFIL QUÍMICO POR CG-MS, DESENVOLVIMENTO TECNOLÓGICO E AVALIAÇÃO IN VITRO DA ATIVIDADE ANTIMICROBIANA E DO EFEITO NA DINÂMICA DA FORMAÇÃO DA PLACA BACTERIANA DOS ÓLEOS ESSENCIAIS DE Citrus nobilis E Citrus aurantifolia
Giovana Signorelli Astolfi Cury - Farmácia – Unicamp
Maria Alcionéia Carvalho de Oliveira - FOSJC – Unesp
Cristiane Yumi Koga-Ito - FOSJC –Unesp
Marcos José Salvador - Prof. Curso de Farmácia –Unicamp
INTRODUÇÃO:
O desenvolvimento tecnológico de produtos contendo fito-derivados biologicamente ativos pode ser extremamente benéfico desde que apresente embasamento científico. Esse fato somado aos inúmeros casos de resistência bacteriana aos antibióticos já existentes faz com que a procura por substâncias com atividade antimicrobiana seja altamente relevante e contribua para a busca de novos insumos farmacêuticos.
Os óleos essenciais (OE´s) podem agir como antimicrobianos em um produto devido à presença de terpenos e de substâncias fenólicas como seus principais constituintes, os quais agem principalmente sobre bactérias Gram-positivas e leveduras.
A atividade do OE de C. aurantifolia contra algumas bactérias associadas à formação da placa bacteriana na cárie dentária já foi comprovada anteriormente. Trata-se de um OE bioativo frente às cepas indicadoras: Streptococcus mutans, L. acidophilus, A. viscosus, P. aeruginosa, V. alcaligens, N. asteroides e Staphylococcus aureus, sendo a primeira a cepa prevalente. No entanto, ainda não há estudos quanto à atividade anti-placa do OE de C. nobilis e tampouco estudos de inclusão dos OE´s de C. nobilis e C. aurantifolia em formulações de enxaguatórios bucais.
OBJETIVO DO TRABALHO:
• Caracterizar os OE´s de Citrus aurantifolia e Citrus nobilis por CG-MS, determinando a porcentagem dos constituintes majoritários nos mesmos; • Elaborar formulação de enxaguatório bucal contendo os OE´s como ativos; • Avaliar in vitro a atividade antimicrobiana e o efeito na formação da placa bacteriana dos OE´s e das formulações de enxaguatórios preparadas.
MÉTODOS:
Os OE´s estudados, adquiridos comercialmente, foram: OE dos frutos de C. nobilis (Mandarina) e duas amostras de OE de C. aurantifolia: Limão Tahiti e Lima destilada, extraídos por diferentes métodos.
As cepas microbianas usadas como indicadoras da bioatividade foram: S. mutans ATCC 25175, P. aeruginosa ATCC 15442, S. aureus ATCC 14458, E. coli ATCC 10799, C. albicans ATCC 102312 e C. dubliniensis ATCC 778157.
A Concentração Inibitória Mínima (CIM) dos OE´s frente às cepas foi determinada por microdiluição em placa de 96 poços, conforme preconizado pela ANVISA (2008).
Foram elaboradas quatro formulações de enxaguatório bucal: duas soluções controle negativo (uma com e outra sem conservante) e duas contendo concentrações distintas do OE de Lima destilada, o qual forneceu melhores resultados nos bioensaios. Estudou-se e o efeito dos OE´s e formulações na formação de placa bacteriana pela cepa indicadora S. mutans em superfície sólida (bengala de vidro e esmalte dentário).
Avaliou-se, ainda, a atividade bactericida e/ou bacteriostática das formulações por semeadura em meio Sacarose Broth: Agar-agar (9:1). A citotoxicidade do OE de Lima destilada foi avaliada in vitro através do ensaio MTT, frente às linhagens celulares: Hakat (keratinocitos) e precursoras de fibroblastos humanos.
RESULTADOS E DISCUSSÃO:
O OE de Lima destilada apresentou menor valor de CIM frente às cepas utilizadas enquanto o de Mandarina apresentou maior valor.
A caracterização química por CG-MS dos OE´s permitiu atribuir maior atividade antimicrobiana a dois componentes que estão presentes (e são abundantes) no OE de Lima destilada e ausentes nos demais OE´s: 1,4-Cineol e p-cimeno. O caráter hidrofílico e maior solubilidade do OE de Lima destilada no meio de cultura utilizado (SB), consequência de sua composição química, contribuíram para a sua maior bioatividade frente à cepa indicadora.
Embora os três OE´s tenham inibido a formação de placa bacteriana e o crescimento da cepa prevalente na cárie dentária, o de Lima destilada o fez quando em menor concentração.
A formulação desenvolvida contendo o OE de Lima destilada inibiu de forma eficaz o crescimento bacteriano e a formação de placa bacteriana em superfície sólida pela cepa indicadora nos dois modelos estudados (bengala de vidro estéril e modelo de esmalte dentário). Os resultados obtidos com os modelos apresentaram boa correlação.
Na concentração utilizada na formulação do enxaguatório bucal, o OE de Lima destilada não mostrou citotoxicidade frente à linhagem de células Hacat (keratinocitos) e às células precursoras de fibroblastos humanos em ensaio MTT.
CONCLUSÕES:
O estudo permitiu constatar que os três OE´s estudados foram eficientes na inibição do crescimento microbiano de bactérias e leveduras. O OE de Lima destilada, no entanto, foi aquele que apresentou menor valor de CIM em todos os casos.
O perfil químico dos OE´s por CG-MS, permitiu associar os componentes 1,4-cineol e p-cimeno, presentes somente no OE de Lima destilada e nele abundantes, à maior bioatividade in vitro desse OE.
Apesar de os OE´s de Lima destilada e Limão Tahiti serem ambos provenientes da espécie C. aurantifolia, os diferentes métodos de extração empregados para se obter cada um resultam em diferenças na composição química e, consequentemente, em suas bioatividades e características físico-químicas.
O OE de Lima destilada, mais rico em componentes oxigenados, distribuiu-se uniformemente pelos meios aquosos usados. Paralelamente, o mesmo foi mais eficiente na inibição da formação de biofilme pela cepa indicadora e apresentou melhor atividade antimicrobiana contra todas as cepas estudadas.
O enxaguatório bucal contendo o OE de Lima destilada mostrou resultado efetivo, impedindo o crescimento e aderência microbiana na superfície sólida e a formação de biofilme in vitro nos modelos experimentais utilizados.
Palavras-chave: Lima destilada, Enxaguatório bucal, Placa bacteriana.