65ª Reunião Anual da SBPC
H. Artes, Letras e Lingüística - 4. Linguística - 1. Linguística Aplicada
O SILÊNCIO E(M) CONTEXTOS DIDÁTICOS DE ENSINO E SEUS (D)EFEITOS: discussões necessárias
LUCIANE NERI PEREIRA - Depto. de Estudos Linguísticos e Literários (DELL) – Letras UESB
FERNANDA DE CASTRO BATISTA COELHO - Profa. Dra./Orientadora - Depto. de Estudos Linguísticos e Literários – UESB
INTRODUÇÃO:
O presente trabalho aborda a aula como um gênero discursivo em que professor e aluno coconstroem diariamente suas identidades interacionais na dialogia constitutiva das interações didáticas da sala de aula (MATENCIO, 2001; COELHO, 2011; COELHO; SOUZA, 2012). Tomando a aula como um texto oral coconstruído por aqueles que ocupam as posições sociointeracionais de professor e aluno, como corpus da pesquisa, analisamos e, assim, mapeamos, ao longo de seis meses, marcas linguísticas que podem ser atreladas a discursos recorrentes em aulas de uma turma de 6º ano do ensino fundamental de uma escola da rede municipal de ensino de Vitória da Conquista. Princípios da Análise do Discurso (FOUCAULT, 1996; ORLANDI, 2002, 2003) e da Teoria das Representações Sociais (MOSCOVICI, 2004) são tomados para entender a complexidade das interações em sala de aula e mapear nos comportamentos encenados em sala de aula não só os dizeres, e os não ditos, como também os porquês das pessoas agirem de tal modo por meio de seus dizeres (COELHO, 2006). Isso porque “compreender, entender e interpretar são ações em torno das quais comunidades, sociedades vêm se construindo e se destruindo, haja vista os diversos conflitos de diferentes naturezas que fazem História” (COELHO, 2006, p. 40). Daí a defesa da pesquisa que analisa os comportamentos em sala de aulas sob o viés discursivo.
OBJETIVO DO TRABALHO:
Analisar os dizeres constitutivos do texto oral aula a fim de melhor compreender os significados dados aos sujeitos da pesquisa às tarefas sociointeracionais de ensinar e aprender para, assim, compreender melhor o discurso didático e os desafios da sala de aula como espaço discursivo e profissional.
MÉTODOS:
A sala de aula é tomada como lugar de pesquisa e, portanto, de observação, assim como campo para iniciação à docência no escopo do PIBID. As observações realizadas orientam-se por uma perspectiva de trabalho de natureza etnográfica (BOUMARD, 1999; ERICKSON,1973, 2006; POWELL, 2006). A geração e análise dos dados são igualmente fruto de uma abordagem qualitativa de pesquisa (FLICK, 2005; COELHO, 2011) que tem como sujeitos alunos e professores de uma escola pública da rede estadual de ensino no município de Vitória da Conquista. Para geração do corpus de análise, trabalhamos com respostas a questionários aplicados em diferentes momentos da pesquisa, bem como com transcrições de aulas de inglês e português gravadas que, associadas a notas de diários de campo, asseguram algumas generalizações tendo em vista o vivenciado em campo.
RESULTADOS E DISCUSSÃO:
A pesquisa apresentou resultados qualitativos frente às questões levantadas, indicando, sobretudo, os diferentes significados que podem ser atribuídos ao silêncio no dia a dia interacional da sala de aula campo de pesquisa, como a falta de compreensão frente ao conteúdo programático que é tematizado pelo professor no enfoque da interação principal (MATENCIO, 2001; COELHO, 2011) como a falta de aceitação do que o professor apresenta como sua proposta didático-pedagógica e até mesmo falta de interesse ou resistência em engajar-se nas tarefas escolares como um todo. Tudo isso, levou a percepção do silêncio como um discurso, materialmente presentificado nas aulas transcritas, que precisa ser melhor estudado academicamente e tematizado no ambiente interacional da sala de aula. A observação etnográfica e, assim, a convivência com os sujeitos da pesquisa possibilitou que se confirmasse o regular e, portanto, os comportamentos recorrentes dos sujeitos. A análise das microinterações engajadas ou não a aquilo que estava sob tematização pelo professor foi igualmente importante para a análise linguístico-discursiva dos dados.
CONCLUSÕES:
Com base nos resultados obtidos nesse estudo de vivência etnográfica, pode-se afirmar a validade de pesquisas que visam des/revelar aspectos estruturantes da interação didática para que se acesse aquilo que subjaz/orienta os comportamentos dos sujeitos (as representações sociais). Conceitos advindos da Análise do Discurso como pré-construído e pressuposto (DUCROT, 1972) foram igualmente importantes para que se pudesse hipotetizar os resultados do silêncio. A transcrição de aulas escolhidas a partir da vivência etnográfica demonstraram a necessidade e produtividade de se pensar a aula como um texto oral e como gênero discursivo que permite acessar e tomar a estrutura da interação com dado de análise. Esses achados enriqueceram o olhar que lanço para o campo da docência e orientam o modo como me posiciono e, assim, construo-me no campo da iniciação à docência.
Palavras-chave: AULA, DISCURSO, SIGNIFICADOS DO SILENCIO.