65ª Reunião Anual da SBPC
H. Artes, Letras e Lingüística - 4. Linguística - 1. Linguística Aplicada
INTERAÇÃO DIDÁTICA E(M) PROCESSOS DE REFERENCIAÇÃO: DE REPRESENTAÇÕES SOCIAIS A (D)EFEITOS DE SENTIDO NO DIA A DIA INTERACIONAL DE UM GRUPO
Janete Sepúlveda da Costa - Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia - UESB
Nivaldo Soares Camerino - Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia-UESB
Fernanda de Castro Batista Coelho - Profa. Dra. Orientadora/ Depto. de Estudos Linguístico e Literários (DELL) –UESB
INTRODUÇÃO:
As interlocuções no domínio da sala de aula abrigam relações discursivas reveladoras de como professor e alunos se re(a)presentam discursivamente. Alinhamo-nos às posições argumentativas de Coelho (2006) para analisar os modos de referenciação recorrentes em uma sala de aula e, assim, mapear as maneiras pelas quais os atores sociais professor e alunos se (re)constroem discursivamente para (rea)firmarem seus papéis institucionais. É, portanto, observando esse lugar de onde o professor enuncia que se pode demonstrar como as representações sociais do sujeito vinculam-se à sua formação, ao status social ao qual está integrado, bem como aponta a sua competência profissional que ecoa através dos seus repertórios de ditos, não-ditos e re(ditos). Na relação professor-aluno, às menções ao outro vem sendo objeto de reflexão de estudos em torno da referenciação (DUBOIS; MONDADA,2003, MATENCIO; SILVA, 2005, COELHO, 2006). Quando o professor enuncia “eles, eles não sabem, eles têm dificuldade com pontuação, não sabem nem Português, que dirá Inglês”, o uso do pronome pessoal “eles” coloca-o em uma relação com o seu par interacional no mínimo curiosa, porque as generalizações que realiza parecem depor contra a sua tarefa sociointeracional e profissional, daí a importância da pesquisa.
OBJETIVO DO TRABALHO:
Mapear, por meio da análise e transcrição de interlocuções em sala de aula, vestígios das representações sociais dos sujeitos (professor e alunos) marcadas nos modos como se referem uns aos outro e a si mesmos no dia a dia interacional e ,assim, contribuir para a compreensão da sala de aula como lugar de reconstrução e projeção de identidades
MÉTODOS:
A metodologia desenvolvida centrou-se na abordagem qualitativa de pesquisa (FLICK, 2005), na modalidade etnográfica para coleta, tratamento e análise dos dados (BOUMARD, 1999; ERICKSON,1973, 2006; POWELL, 2006; SPINDLER, 2006; McDERMONT; VARENNE, 2005), o que se efetivou por meio do acompanhamento semanal ao longo de seis meses de uma turma que integra a etapa de escolarização do 1º ano uma escola da rede pública estadual do município de Vitória da Conquista. A partir das observações no campo de pesquisa, notações de dados em diário de campo foram realizadas durante as aulas para registro de impressões a serem contrastadas com a as aulas transcritas (corpus central da pesquisa). De posse desse acervo documental, permitiu-se que o olhar do pesquisador capturasse, nas relações interpessoais dos sujeitos em (con)vivência na sala de aula, episódios discursivos em que esse sujeito reconhece a si mesmo e aos outros, por meio do que se diz e de como se diz.
RESULTADOS E DISCUSSÃO:
A realização de um trabalho observacional alicerçado pela vivência etnográfica no campo de pesquisa, ao longo dos seis primeiros meses de trabalho, aponta para a necessidade de que, inicialmente, o professor desfaça essa imagem tida como padrão constituída e repercutida na sociedade para as relações professor-aluno. Em seguida, que ele re(construa) o modo como oportuniza e se vale da palavra para (re)estabelecer a dinâmica das interações didáticas, o que se acredita possível pela tentativa de se controlar os processos de referenciação ao grupo de alunos de modo a evitar formatações ou enquadramentos desse grupo de modo generalista e redutor e que, nessa medida, apaguem as especificidades dos diferentes processos de aprendizagem. Uma vez mapeados esses modos de se referir uns aos outros no dia a dia interacional da aula observada, escolhemos o objeto de ensino vocativo em inglês e português para o desenvolvimento de planos de aula que nos permitissem tematizar de modo didatizado os efeitos de sentido promovidos pelas escolhas lexicais, bem como os aspectos interculturais que alicerçam o trinômio linguagem, cultura e sociedade, o que nos permitiu exercer gestos de transposição didática tendo em vista a gestão de processos interacionais e o lugar da linguagem na e para a sociedade.
CONCLUSÕES:
Por reconhecermos que a escola é palco de múltiplas interlocuções nas quais professor e alunos se constroem pares interlocutivos e a partir de múltiplas combinações interagem – quais sejam:i) o professor se dirige a todos os alunos (P→Als); II) O professor se dirige a um aluno em especial (P→A), III) o professor se dirige a um pequeno grupo de alunos (P→pGrAls) ou a iv) um grande grupo (P→gGRAls); v) um aluno se dirige ao professor(A→P); vi) um aluno se dirige a outro aluno (A→A); vii) um aluno se dirige ao resto do grupo de alunos (A→Als); viii) um grupo de alunos se dirige a um aluno (Als→A) ou ix) um grupo de alunos se dirige ao professor(Als→P), etc... –os resultados da pesquisa apontam a necessidade de que o professor tenha uma postura reflexiva sobre o que (des)faz com a palavra de modo a (re)avaliar suas práticas discursivas em especial as representações que constrói e desconstrói ao referir-se a si mesmo e aos outros, o que, sem dúvida, contribui para que o espaço da sala de aula em sua heterogeneidade cultural e social seja cada vez mais democrático e emancipador (FREIRE, 1996) internacionalmente.
Palavras-chave: Processos de referenciação;, Aula;, Efeitos de sentido..