65ª Reunião Anual da SBPC
G. Ciências Humanas - 7. Educação - 15. Formação de Professores (Inicial e Contínua)
O JOGO COMO FRAGMENTO DE CULTURA: ANÁLISE DO USO DOS JOGOS DE MANCALA NO ENSINO DA HISTÓRIA E CULTURA AFRICANA
Naiara de Souza Araújo - Discente do Curso de Pedagogia UFPA/Campus Castanhal
Flavia Maia de Souza - Discente do Curso de Pedagogia UFPA/Campus Castanhal
Débora Alfaia da Cunha - Profª. Dr.ª da Faculdade de Pedagogia UFPA/Campus Castanhal
Gabriela Freitas da Paixão - Discente do Curso de Pedagogia UFPA/Campus Castanhal
José Rodrigo Pontes dos Santos - Discente do Curso de Pedagogia UFPA/Campus Castanhal
Luis Fernando Palheta - Discente do Curso de Pedagogia UFPA/Campus Castanhal
INTRODUÇÃO:
Com o intuito de apoiar as iniciativas do Estado e da sociedade civil para uma educação alicerçada na inclusão e no respeito à diferença, nasceu em 2011 o projeto “Educação e Ludicidade Africana e Afro-brasileira”. O projeto pauta-se na articulação entre atividades lúdicas e o ensino critico e criativo acerca da cultura Africana, em conformidade com a atual versão da Lei de Diretrizes e Bases da Educação, Lei N° 9394/96.
Entre as atividades de pesquisa do projeto destaca-se o levantamento de jogos e brincadeiras de origem africana e afro-brasileira, com ênfase nos mancalas, com intuito de auxiliar os estudos para o ensino das relações etnicorraciais.
A pesquisa apresentada é relevante por se contrapor ao histórico processo de branqueamento realizado no cotidiano da escola brasileira, pois jogando mancala os alunos constroem laços afetivos saudáveis com a ancestralidade negra que caracteriza o Brasil.
OBJETIVO DO TRABALHO:
O objetivo do trabalho foi realizar levantamento de jogos de origem africana e afro-brasileira e sua adaptação para uso no ambiente escolar como recurso didático e metodológico para a educação das relações etnicorraciais.
MÉTODOS:
A metodologia utilizada pautou-se na tríade ensino, pesquisa e extensão, pois articulou os resultados das atividades de pesquisa com os conteúdos e métodos utilizados nas oficinas pedagógicas ofertadas pelo projeto.
O trabalho de pesquisa envolveu o levantamento de variações de mancalas e de propostas didáticas que envolvessem este tipo de jogo. A fonte de dados privilegiada foi a internet, em especial em sites e blogs de países africanos e da Europa. Sites de jogos online também foram utilizados para mapear as variações de mancala disponibilizadas na rede mundial de computadores. Além da pesquisa online, foi realizado levantamento bibliográfico sobre o tema em livros e revistas de educação.
A maioria do material coletado por meio digital precisou ser traduzida para o português e adaptada para as condições das escolas brasileiras. A adaptação das brincadeiras foi testada por meio de oficinas pedagógicas ofertadas para alunos dos campi de Castanhal e Cametá, e para alunos da educação Básica no município de Curuça.
A pesquisa sobre os jogos de mancala envolveu ainda a confecção de alguns tabuleiros com materiais recicláveis mostrando que não há barreiras para se jogar, sendo o mais importante, conhecer algumas de suas regras e tradições.
RESULTADOS E DISCUSSÃO:
A pesquisa evidenciou que o jogo de mancala é pouco conhecido no Brasil, tanto que não foi identificado nenhum traço deste nas comunidades quilombolas visitadas pelo projeto, todas do nordeste paraense.
Mancala é uma denominação genérica a uma família de jogos de tabuleiro estilo semeadura (com cavidades em fileiras) surgida na África, supostamente entre 3.500 a 4000 anos. Na atualidade, o mancala é jogado em diversas partes do mundo e possui mais de 200 variações. Fora do Brasil, os campeonatos de mancala auxiliam na divulgação e atualização do jogo.
O estudo identificou a escassa variação de mancalas disponíveis para treino na internet, mesmo fora dos sites brasileiros, como o ayo e o Kalah, sendo este último apresentado simplesmente sob a denominação geral de mancala. Após levantamento e revisão de literatura, foram selecionados 25 tipos de mancala, originários de várias regiões da África e de outros continentes para serem utilizados na confecção de material didático e em oficinas de formação pedagógica. Nas primeiras oficinas utilizaram-se os mancalas: ayo, kalah, giuthi e oware. Observou-se que os docentes demonstraram interesse pelo jogo, tanto para o estudo da cultura africana quanto para a utilização em aulas de matemática, pelo raciocínio lógico-matemático que exige.
CONCLUSÕES:
A utilização de jogos de mancala como recurso didático traz para o cotidiano da escola a riqueza da cultura africana, bem como propicia o desenvolvimento do raciocínio lógico, pois este é um jogo que exige a capacidade de compor estratégias, realizar projeções de sequências de movimentos e formações de hipóteses. Permite ainda o treino de habilidades cognitivas, como a observação e a contagem, e de habilidades motoras, como a coordenação na movimentação das pedras e sua colocação nas cavas ou buracos do tabuleiro.
Observamos que a escassa variedade de mancalas disponíveis no mercado e na internet, dificultam a utilização deste como recurso didático, até porque se encontram disponíveis as versões mais simples. Tal situação impõe a produção e divulgação de outras variações dos jogos no contexto brasileiro. A pesquisa segue nesse sentido de ampliar o conhecimento sobre a diversidade destes jogos e sua inserção no cotidiano escolar como fragmento da vasta e diversa cultura do continente Africano, como elo de religação com nossa ancestralidade negra.
Palavras-chave: Ludicidade, Etnicorraciais, Didática.