65ª Reunião Anual da SBPC
H. Artes, Letras e Lingüística - 4. Linguística - 5. Teoria e Análise Linguística
A COLOCAÇÃO DE PRONOMES CLÍTICOS NA ESCRITA BRASILEIRA DO SÉCULO XX: ANÁLISE DE ATAS OFICIAIS DA PREFEITURA DA CIDADE DE SÃO JOSÉ DO BELMONTE – PE
Iriani Valentim de Lima - Licenciatura Plena em Letras – Universidade Federal Rural de Pernambuco – UAST
Dorothy Bezerra Silva de Brito - Profa. Dra./ Orientadora - Universidade Federal Rural de Pernambuco – UAST
INTRODUÇÃO:
Este trabalho analisa a colocação dos clíticos na escrita brasileira do início do século XX, em Atas oficiais da Prefeitura de São José do Belmonte, no sertão de Pernambuco. Atualmente no Português Brasileiro (PB) os clíticos posicionam-se, em geral, proclíticos ao verbo, mesmo em contextos escritos formais, e essa é uma das diferenças sintáticas entre o PB e o português europeu (PE). Observando dados da escrita brasileira dos séculos XIX e XX, estudos sociolinguísticos (PAGOTTO, 1992; SCHEI, 2003, 2010; NUNES, 2009; SANTOS, 2010; BIAZOLLI, 2011) constataram, em proporções que variam a depender do gênero textual e do período em questão, o sistema europeu de colocação que foi adotado como modelo normativo no Brasil. Entretanto, os clíticos pronominais foram ocupando preferencialmente a posição proclítica ao verbo no PB. Em recente trabalho Martins (2012) evidencia que a ordenação dos clíticos no curso dos séculos XIX e XX na escrita brasileira refletiria um período de mudança sintática que pode ser interpretado via competição de gramáticas; seriam elas as do Português Clássico (PC), do PE e do PB. O presente trabalho pretende contribuir para um melhor conhecimento dos padrões de uso referentes à ordem dos pronomes clíticos no período e no gênero examinados pela pesquisa.
OBJETIVO DO TRABALHO:
Verificar os diferentes padrões empíricos de variação dos pronomes clíticos no corpus selecionado, através do levantamento dos contextos linguísticos de ocorrência do fenômeno. Comparar os resultados obtidos com os de estudos realizados sobre outras variedades do português brasileiro. Verificar se o gênero textual “ata oficial” estaria condicionando a ocorrência do fenômeno.
MÉTODOS:
Inicialmente foi realizado um levantamento bibliográfico de textos que compartilhavam do objeto de estudo deste trabalho. A coleta dos dados foi realizada em 18 atas fornecidas pelo Banco de Dados do projeto Português: História e Descrição, coordenado pelo Prof. Dr. Marcelo Amorim Sibaldo (UFRPE/UAST). Das 18 atas supracitadas, ficamos responsáveis pela transcrição de cinco. Após a transcrição das atas, foram realizadas a seleção e a quantificação dos dados relevantes para a pesquisa. Os dados foram submetidos a uma análise descritiva prévia do padrão de colocação dos pronomes clíticos no início do século XX em Atas oficiais da Prefeitura de São José do Belmonte.
RESULTADOS E DISCUSSÃO:
Nas 18 atas analisadas foram coletadas 17 ocorrências, envolvendo clíticos proclíticos e enclíticos aos verbos. O se é o clítico mais registrado no corpus, resultado comum ao estudo de Galves (2001) que, comparando o PB ao PE supõe que o “clítico mais frequente no corpus brasileiro [se] (...) talvez seja o que é mais instável na língua”. Das 15 ocorrências de se, 12 foram realizadas como reflexivo, 2 como partícula apassivadora e 1 ocorreu como partícula de realce ou expletiva. Nas duas ocorrências em que se registrou o clítico lhe, este foi realizado com a função de objeto indireto. Pudemos observar que a incidência de ênclise no corpus selecionado é consideravelmente maior (14 ocorrências contra 3 ocorrências de próclise), e que a ocorrência de próclise está condicionada à presença de atratores. O gerúndio foi a forma verbal em que o clítico foi mais registrado, 12 ocorrências, contra 3 ocorrências no indicativo, 1 no infinitivo e 1 no subjuntivo.
CONCLUSÕES:
Observamos que no corpus de nossa pesquisa predomina a ênclise sobre a próclise, uma situação diversa da relatada pela pesquisa de Martins (2012), já que em seu estudo ele identifica um aumento significativo da próclise à medida que as datas das peças teatrais se aproximam da contemporaneidade. Nota-se que, nas atas por nós analisadas, datadas no início do século XX, os padrões encontrados em relação à colocação dos clíticos indicariam reflexos da gramática do PE, já que este tem como padrão categórico a ênclise, ocorrendo a próclise apenas em ambientes em que há presença de atratores. O corpus da pesquisa de Martins (2012) é constituído por peças de teatro, que tentam retratar o contexto de uso informal da língua, diferentemente do gênero textual Ata, analisado em nossa pesquisa, que segue normas de um padrão de uso formal da língua. Posteriormente pretendemos, com a continuação da pesquisa, ampliar o corpus com a coleta, nas mesmas atas, das ocorrências das estratégias concorrentes ao uso do clítico no PB, ou seja, o uso de pronome pleno, de sintagma nominal e o apagamento do objeto, o que nos permitirá verificar se os mesmos contextos de tempo e forma verbal mostram-se mais favoráveis à ocorrência de uma ou de outra estratégia para a realização do objeto no corpus analisado.
Palavras-chave: Clíticos, Colocação Pronominal, Atas oficiais.