65ª Reunião Anual da SBPC
G. Ciências Humanas - 1. Antropologia - 8. Antropologia
O corpo e a indumentária - significado e sentido na folia dos Santos Reis em Vassouras RJ.
Marcus Venitius Bonato Filho - Depto. de Artes e Estudos Culturais / Curso de Produção Cultural - PURO/UFF
Gilmar Rocha - Prof. Dr. / Orientador - Depto. de Artes e Estudos Culturais - PURO/UFF
INTRODUÇÃO:
Nos últimos anos, tem crescido o número de estudos sobre as folias de reis nas mais diferentes localidades do país com fins a desvelar os seus múltiplos significados. Contudo, os temas da indumentária e do corpo carecem ainda de aprofundamento analítico. O corpo e suas performances, indumentárias, técnicas, expressões obrigatórias, como observa Mauss (2003), são fundamentais aos processos de construção de identidades sociais e/ou culturais. O projeto de iniciação científica Indumentária e performance na cultura popular - a festa dos sentidos na jornada dos Santos Reis, em seu segundo ano de execução, dirige a atenção ao significado do corpo no processo de construção das identidades culturais e simbólicas dos grupos folclóricos de folias reis em Vassouras/RJ. As identidades culturais podem ser vistas como um processo social e histórico de representações pessoais e/ou coletivas no qual os indivíduos e/ou grupos sociais em situação de interação social e/ou contato cultural performatizam a construção de uma diferença simbólica entre o “eu” e o “outro”, nós e eles, elegendo alguns objetos, valores e práticas como fundamentais à produção de um sentido étnico-histórico, de uma memória social e/ou de uma tradição cultural dos agentes da relação.
OBJETIVO DO TRABALHO:
Investigar o significado do corpo como idioma simbólico no processo de construção das identidades culturais e simbólicas dos grupos folclóricos de folia de reis em Vassouras/RJ, a partir do trabalho etnográfico e da observação sistemática das performances corporais, reveladas durante o processo ritual da jornada de Santos Reis, em termos de representações emocionais, cognitivas, sacrificiais, etc.
MÉTODOS:
Leituras, estudos e fichamentos de textos, capítulos e/ou livros referentes ao tema e ao referencial teórico da pesquisa; participação em reuniões de estudo; planejamento das atividades a serem desenvolvidas em campo; coleta de dados durante a jornada de Santos Reis (dezembro/2012 e janeiro/2013); organização, sistematização e catalogação do material etnográfico; análise dos dados e elaboração de material para divulgação e publicação (eventos científicos e revistas acadêmicas). A coleta de dados envolveu um trabalho etnográfico, de natureza qualitativa, em que se teve observação participante e sistemática do universo ritualístico da folia de reis. Em setembro de 2012, foi realizado o primeiro contato com a folia “Estrela Guia” que, participou de um Encontro de Folias, também conhecido como “Festa de Reis”, evento no qual foi realizado um primeiro registro fotográfico. No período da jornada de Santos Reis, em dezembro de 2012 e janeiro de 2013, além do acompanhamento e da observação direta da folia de reis “Estrela Guia”, foram feitos novos registros fotográficos e em vídeo dos principais momentos que compõem as atividades dessa folia e seus rituais, principalmente, os que estão relacionados ao entendimento do corpo e da indumentária como um sistema de significados simbólicos.
RESULTADOS E DISCUSSÃO:
A partir do trabalho de campo e da chamada observação participante, durante a jornada da folia Estrela Guia, pode-se afirmar que o corpo na folia de reis parece ser um operador de significados, e todo o sacrifício enfrentado durante a jornada é sentido por ele. O esgotamento se torna evidente na medida em que os dias vão passando, algo que revela num corpo imbuído de significados e tomado pela devoção. Os palhaços, representantes dos soldados de Herodes, aventuram-se em declamar versos e fazer de seus corpos acrobacias insólitas. Eles carregam uma indumentária especial, bem colorida, de cores quentes, feita de tiras de panos, pregadas uma a uma no macacão, nomeado no universo da folia como “farda”. As máscaras são modeladas de acordo com a especificidade de cada rosto, na sua maioria, confeccionadas pelos palhaços que detém todo saber que a máscara pode revelar. Os detalhes dos traços, riscos, perucas, cores e formas grotescas do nariz, da boca e dos olhos, tornam cada máscara uma forma singular. A matéria prima utilizada é basicamente espumas, próteses de animais, purpurina, tinta e muita criatividade. Elas mostram e escondem detalhes que enriquecem e dão significado a um universo simbólico de trocas culturais e de compartilhar de um saber.
CONCLUSÕES:
Desde 2011, o projeto Indumentária e performance na cultura popular vem colhendo um rico acervo fotográfico que ilustram os vários momento de uma folia, desde a sua saída na passagem do dia 24 para o dia 25 até o encerramento no dia 06, também por volta da meia-noite..
À convite do mestre folião sr. Antônio Venâncio, integramos a folia Estrela Guia na jornada de 2012/2013. Já no primeiro dia, passamos de observadores a participante. Esse fato contribuiu não só para uma maior aproximação e confiança dos foliões, mas, principalmente para tentar compreender os objetivos da pesquisa, ou seja, o significado do corpo enquanto idioma simbólico no processo de significação social das folias de reis. Em outras palavras, ao vestirmos o “blusão”, como é o uniforme do folião, passamos a viver uma outra “realidade” e “história”. A realidade dos ritos e a história dos mitos. Sentimos “de perto” e “de dentro” o que vivenciam os foliões. Isso nos permitiu ter uma outra visão, certamente, mais profunda e rica de todo esse processo. Em que todo o ritual que envolve a folia de reis representa um grande e importante sistema de relações sociais, culturais e trocas simbólicas.
Palavras-chave: Folia de Reis Indumentária, Indumentária, Corpo.