65ª Reunião Anual da SBPC
G. Ciências Humanas - 7. Educação - 4. Educação Básica
MEMÓRIAS SILENCIADAS DE PROFESSORES: RELAÇÕES DE PODER EM UMA ESCOLA PÚBLICA DE VITÓRIA DA CONQUISTA-BA, NO PERÍODO DA DITADURA CIVIL-MILITAR NO BRASIL
Elenice Silva Ferreira - Departamento de Ciências Humanas e Letras-UESB.
Carlos Roberto Jamil Cury - Prof. Dr./Orientador- Programa de Mestrado em Educação-PUC/Minas
INTRODUÇÃO:
Sabe-se que no campo da História da Educação brasileira há uma vasta a produção que evidencia as questões didáticas, políticas, e pedagógicas, além da história das instituições escolares em diferentes contextos históricos. Entretanto, as relações sociais estabelecidas no interior das escolas, caracterizadas pelo poder de uns sobre os outros, em decorrência da estrutura hierárquica e burocrática comum nessas instituições, ainda tem sido pouco discutidas, sobretudo, no âmbito das cidades menores. Assim a História da Educação local pouco aparece contemplada nos “documentos oficiais” e, portanto, o sujeito dessa história “menor” é silenciado. Assim sendo, essa pesquisa justificou-se pela necessidade de investigação sobre como se deram as relações de poder entre os sujeitos sociais da Escola Municipal Cláudio Manuel da Costa, sobretudo, os professores, e como essas relações influenciaram no processo de atuação político-ideológica e pedagógica desses docentes, na cidade de Vitória da Conquista. Este trabalho teve como ponto de partida o seguinte questionamento: Como os professores e professoras da rede pública de ensino compreenderam as relações de poder que permearam o contexto educacional local durante o período de Ditadura Civil-militar, na cidade de Vitória da Conquista-BA?
OBJETIVO DO TRABALHO:
A pesquisa teve como teoria basilar a abordagem sobre o poder dentro da Sociologia Compreensiva em Max Weber, tendo como objetivo geral: investigar as relações de poder na Escola Municipal Claudio Manuel da Costa, em Vitória da Conquista-BA, durante o período de Ditadura Civil-militar no Brasil, a partir das memórias de professores.
MÉTODOS:
A referida pesquisa foi de cunho qualitativo e teve como principal fonte as memórias de professores da rede pública de ensino. Assim, lançamos mão da documentação oral, baseada em entrevistas semi-estruturadas. Nesse horizonte, buscamos, por meio do depoimento de um grupo de oito professoras, obter informações sobre o cotidiano do trabalho docente no período investigado, no que diz respeito às relações sociais, políticas e pedagógicas na escola onde essas docentes trabalhavam e às relações de poder estabelecidas entre os sujeitos sociais que atuaram nessa instituição (diretores, professores, secretários, orientadores pedagógicos, etc.). Ademais, mesmo a documentação oral tendo sido eleita como principal instrumento de investigação, lançamos mão também de documentos escritos como leis, atas, correspondências recebidas, livros de ponto, jornais, etc., que nos remeteram à estruturação e às ações da escola investigada.
RESULTADOS E DISCUSSÃO:
Constatamos que, na escola, a organização do trabalho estava bem planejada, com a descrição de tarefas e obrigações dos seus funcionários, determinadas pela Secretaria Municipal de Educação. As atividades eram regidas por normas legais e escritas, conferindo à escola a natureza burocrática, como discutida por Weber. As relações sociais forjadas naquele espaço se desenrolavam de modo a delimitar os espaços de ação de cada sujeito que ali atuava. Todos tinham que dar conta de uma exigência feita por uma autoridade superior, de maneira que assim foi exercido um poder apoiado, sobretudo, nas ordens vindas dos órgãos administrativos da Rede Municipal de Educação. Havia também uma hierarquia militar que avançava o seu poder até a escola, favorecida pela convivência de ambas no mesmo espaço. Enfim, as experiências aqui apresentadas denotam o quanto as relações sociais na escola investigada, permeadas por um sentimento, ora de amizade, ora de respeito, pautadas na atenção, na generosidade, na competência refletem uma prática da dominação legal e carismática, ao mesmo tempo. As resistências e antagonismos comuns nesse tipo de organização institucional existiam, mas, é claro, não se manifestavam no dia-a-dia, evitando as situações de embate ou luta aberta pela imposição dos pontos de vista ou de opiniões contrárias à ordem.
CONCLUSÕES:
Podemos concluir, com os resultados obtidos, que na escola estudada as relações de poder foram semelhantes aos tipos de relações produzidas na sociedade. Estas relações explicitam a dominação racional pautada no movimento de mando e obediência e fortemente permeada por elementos afetivos. Ademais, durante a pesquisa de campo, no que concerne aos sujeitos da pesquisa, foram encontrados registros do distanciamento da luta política e dos embates ideológicos por alguns, como também da atuação como agentes de resistência ao Regime autoritário por outros, atuando como educadores em prol da redemocratização da sociedade brasileira e de sua transformação. Enfim, concluímos esta pesquisa acreditando ser ela um caminho que pode levar à valorização e a preservação da memória educacional local e de seus sujeitos.
Palavras-chave: Escola Pública e Memória, Relações de Poder e Professores, Educação e Ditadura Civil-militar..