65ª Reunião Anual da SBPC
G. Ciências Humanas - 5. História - 9. História Social
HISTÓRIA E MEMÓRIA NA VÁRZEA AMAZÔNICA: A PESCA DO CAMARÃO POR MULHERES DA COMUNIDADE DE SÃO SEBASTIÃO DA BRASÍLIA, PARINTINS-AM.
Ana Regina Pantoja Guerreiro - Bolsista do Programa de Apoio à Iniciação Cientifica- PAIC 2012/2013-UEA
João Marinho da Rocha - Profº. MSc. /Orientador. Depto. História. Universidade do Amazonas
INTRODUÇÃO:
No cenário atual das comunidades de várzea amazônica a pesca realizada por mulheres é tão importante quanto à dos homens, já que tais sujeitas desempenham inúmeras papeis nos processos de organização e manutenção da vida cotidiana dessas comunidades, gerando renda e desenvolvimento local. Essa atividade relaciona-se com o sistema das águas na várzea amazônica marcado por cheia/enchente e vazante/seca, influência na vida das pescadoras na qual realiza sua atividade de acordo com o ritmo das águas (SANTOS & COSTA, 2008). A pesca do camarão realizada por mulheres na comunidade de Brasília, Parintins-AM, é uma atividade periódica que varia entre os meses de julho (começo da vazante) a novembro (inicio da enchente). Estudos como o de Silva (2011) indicam que pesca do camarão iniciou-se 1961, nos lagos próximo das comunidades da Brasília e do Cá Te Espero, quando algumas mulheres observaram a quantidade de camarão nos lagos da região. Tal fato deve ser entendido como uma das estratégias de lidar com o ambiente. Um lidar que se afasta das perspectivas teóricas do determinismo ecológico pensado para as populações da várzea (MEGGERS, 2009 In: NEVES, 2009) e dialogando com os indicativos de um lidar horizontal com o ambiente, produzindo suas culturas e modos de vida variados.
OBJETIVO DO TRABALHO:
Geral: Conhecer como se dá o processo da pesca do camarão realizada por mulheres da comunidade da Brasília. Específicos: a) Perceber como se iniciou o processo da pesca do camarão por mulheres na comunidade de Brasília; b)Descrever como ocorre os processos da pesca do camarão realizada por mulheres da comunidade de São Sebastião da Brasília.
MÉTODOS:
De natureza qualitativa esta pesquisa buscou entender a realidade dos sujeitos, como suas vivências, crenças e valores do meio onde o mesmo encontram (MINAYO, 1994). Foi desenvolvida na comunidade de São Sebastião da Brasília, que se encontra num ambiente amazônico de várzea à margem esquerda do rio Amazonas, com cerca de 7.0 km da sede do município de Parintins-AM. Teve como sujeitos cinco mulheres pescadoras de camarão, que ao lado do cultivo agrícola das culturas de várzea (tubérculos e hortaliças) formam a base econômica da comunidade. Situa-se no campo da história social, onde aborda problemáticas históricas de grupos sociais que antes não apareciam na história tradicional, mas que tem grandes conhecimentos da sua realidade onde vive (BARROS, 2008). Também se apoia em procedimentos como a Etnografia (MINAYO, 1994) e técnicas como: a observação participante, questionários e entrevistas guiadas pela História Oral Temática que mais do que sobre eventos, fala sobre significados; nela, a aderência ao fato cede passagem à imaginação, ao simbolismo (MEIHY, 2011). Por fim, os dados coletados foram categorizados e analisados.
RESULTADOS E DISCUSSÃO:
Quando as águas sobem inundando as terras baixas da várzea os moradores são levados a criar estratégias como elevação das moradias, até a busca de novas formas de sobrevivência como agricultura de várzea e a pesca do camarão (FRAXE, 2002). Maria Goreth, 40 anos, que há 20 pesca camarão em Brasília, diz que “o meu pai junto com a minha tia que queria uma forma de sobreviver, então começaram pescar o camarão”. Isso pode ser entendido como uma das estratégias das comunidades amazônicas de lidar com o ambiente. Um lidar que se afasta das perspectivas teóricas do determinismo ecológico pensado para as populações da várzea (MEGGERS, 2009 In: NEVES, 2009). A pesca do camarão ocorre ao entardecer, variando conforme os lagos, “quando a gente pesca lá pro lago arara, a gente saí daqui 4h da tarde e já chega no horário de pescar, iscar e rabiscar, umas 6h. Agora pra cá pra esses lagos como Araçatuba é mais longe e a gente sai 1h tarde, e gente chega meio tarde pra pescar”. Assim, essas mulheres pescadoras foram, aos poucos criando meios de se relacionar com os ambientes onde vivem, estabelecendo relações de trabalho que lhes permite também ser uma provedora de renda para sua família.
CONCLUSÕES:
Este estudo ilumina para as varias estratégias de sobrevivência construídas por moradoras de várzea amazônica no lidar com o ambiente em que vivem. Estratégias em sua maioria obtidas através do conhecimento do meio onde as mesmo estão inseridas. Também indica para participação de dos sujeitos locais nos processos de repensar pensar os modos de viver nas comunidades de várzea amazônica, na medida em que possibilita que as mulheres que realizam atividades de pesca possam refletir sobre suas práticas na comunidade. Mais ainda, a introdução da pesca do camarão por mulheres na comunidade da Brasília, indica para novas perspectivas de vida para essas mulheres que também são entendidas como produtoras de conhecimentos locais sobre o ambiente físico e humano da várzea amazônica.
Palavras-chave: Vivências de Mulheres pescadoras, comunidade rural amazônica.