65ª Reunião Anual da SBPC
G. Ciências Humanas - 7. Educação - 5. Educação de Adultos
A POLÍTICA DA EDUCAÇÃO NÃO FORMAL: UM ESTUDO DE CASO DOS PROCESSOS DE FORMAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS EM UMA ORGANIZAÇÃO SOCIAL DA CIDADE DO RECIFE.
Auta Jeane da Silva Azevedo - Mestranda em Educação na Universidade Federal de Pernambuco
INTRODUÇÃO:
O debate sobre os vínculos entre a democratização das instituições políticas e os problemas relativos à exclusão social tem muito a contribuir com a educação enquanto instrumento de formação política. Isso acontece porque a consolidação democrática não conseguiu superar a dívida social que continua a desafiar tanto o sistema estatal, quanto a sociedade civil organizada. Por isso, têm sido realizados estudos que tratam da educação não formal (CARO, 2011; GOHN, 2005) como um campo de atuação onde a população passa a ser atuante na luta pela garantia de direitos. Nesse cenário, passou-se a exigir dos governos a elaboração de uma nova finalidade para a formação do cidadão, o que possibilitou que se tomasse consciência da relevância da participação política dos atores sociais.
Esperamos com este estudo poder contribuir para o debate sobre o papel da sociedade civil na construção de práticas democráticas que fortaleçam o direito à educação em nosso país. Pretendemos fortalecer a importância dos espaços de educação não formal como lugares que propiciam a formação de sujeitos outros, baseados em outras pedagogias (ARROYO, 2012), em experiências que colocam as relações humanas como fonte de aprendizado, contribuindo para o fortalecimento dos movimentos sociais e suas lutas.
OBJETIVO DO TRABALHO:
Compreender como os processos formativos desencadeados pelas organizações da sociedade civil contribuem para a formação política de jovens e adultos moradores das periferias urbanas do Recife. Procuramos entender de que forma esses sujeitos colocam em prática os aprendizados éticos e políticos vivenciados no processo formativo e apreender o papel do pedagogo nas organizações da sociedade civil.
MÉTODOS:
Fizemos uso dos parâmetros da pesquisa de campo a partir de uma abordagem qualitativa, devido a nossa concordância com Estéban (2010) ao apontar como característica fundamental dos estudos qualitativos a atenção ao contexto, pois a experiência humana tem lugar em contextos particulares, de maneira que os acontecimentos e fenômenos não podem ser compreendidos adequadamente se são separados daqueles. Operacionalmente, escolhemos como instrumentos de estruturação dos dados a observação participante, a análise de documentos, a entrevista semiestruturada e a técnica do grupo focal. Isso foi possível porque a pesquisadora encontrava-se atuando como educadora da instituição que funcionou como lócus da pesquisa. Os procedimentos foram gravados em áudio, com exceção do grupo focal, cuja gravação em vídeo se fez necessária para uma melhor análise dos dados. Tivemos como documentos de análise o projeto político pedagógico da instituição e relatórios de atividades. As observações participantes foram anotadas em diário de campo, as entrevistas realizadas com um educador e uma coordenadora da instituição e os grupo focal com dez participantes das ações formativas da Etapas e aconteceram na própria instituição devido a disponibilidade de salas amplas e da facilidade acesso dos participantes.
RESULTADOS E DISCUSSÃO:
O processo de construção da cidadania é algo indissociável do processo educativo como um todo. Não se educa um cidadão sem preocupar-se com o exercício da cidadania. E antes desse exercício vem a construção de uma consciência que seria a apropriação da noção de cidadania, de direitos, deveres, de uma maior criticidade com relação aos problemas que afligem os menos favorecidos, de um empoderamento político social que se reflete diretamente na ação transformadora. Os processos formativos no campo da educação não formal contribuem para a formação desses sujeitos porque constroem os processos formativos em contextos concretos. As pedagogias voltadas para esses sujeitos são inseparáveis das relações sociais de poder/dominação (ARROYO, 2012), precisando, portanto, ser organizadas de modo a desconstruir as formas de relação vigentes. Percebemos ainda a necessidade da apropriação de conteúdos de uma forma lúdica, relacional, algo que não pode prescindir da participação do pedagogo para tal função. A tomada de consciência política não é dada pelo processo formativo, mas pela reflexão, pela leitura de mundo que as atividades formativas propiciam, pois essa consciência política surge das experiências de inclusão perversa pelas quais passam esses sujeitos em seu dia a dia.
CONCLUSÕES:
É possível destacar a ampliação dos conhecimentos acerca das políticas públicas, especialmente no campo da política urbana, a partir de uma percepção pessoal enquanto sujeito de direito, que nutre os potenciais de ação transformadora perante a sociedade (GOHN, 2005), bem como maior compreensão de valores como mobilização social, organização coletiva e participação política.
Acreditamos que a maior contribuição das experiências de educação não formal realizadas pela Etapas para a vida dos participantes tenha sido no âmbito da formação pessoal, pois todos eles demonstraram diante das vivências observadas e no grupo focal, elevação da autoestima, maior disponibilidade para trabalhar em grupos e consciência da importância de seu papel como ator político na sua comunidade e na cidade. De fato, as atividades realizadas aguça neles o desejo de lutar por liberdade, igualdade, justiça e por direitos básicos negados cotidianamente. Reconhecer essas pedagogias de libertação e emancipação passa a ser uma questão político-epistemológica para as teorias pedagógicas (ARROYO, 2012). É preciso olhar para essas experiências pedagógicas como uma reação ao pensamento e as práticas excludentes que vivenciamos em cidades como Recife, elas apontam para formas outras de relação entre as pessoas.
Palavras-chave: Educação de Adultos, Formação Política, Cidadania.