65ª Reunião Anual da SBPC
F. Ciências Sociais Aplicadas - 10. Comunicação - 1. Comunicação Digital
As Mídias Virtuais Como Propulsoras De Movimentos Sociais: Uma Análise Do Movimento #Boicoteacantina Do Setor De Aulas II Da UFRN
André Araújo da Silva - Depto. De Comunicação Social – UFRN
Juciano de Sousa Lacerda - Prof. Dr./Orientador – Depto. Comunicação Social – UFRN
INTRODUÇÃO:
“O processo do digital não é em substituição, é em relação e, às vezes, em reconfiguração” (BRITTO, 2009, pág. 137) e um exemplo prático dessa reconfiguração é o uso das mídias sociais digitais para manter contato com outras pessoas, emitir opiniões sobre determinados assuntos e estabelecer redes. O Facebook possui hoje 1 bilhão de usuários ativos, que têm a possibilidade de se conectar e interagir com pessoas do mundo inteiro. Nota-se que “dentro deste espaço de convivências, [...] as pessoas frequentemente iniciam relações, formam grupamentos, criam ligações fortes em intensidades por vezes bastante significativas” (RIBEIRO apud LEMOS e PALACIOS, 2001, pág. 140), como é o caso de movimentos que surgem nas redes sociais digitais e transcendem esse espaço para o meio atual (LEVY, 1999), em busca de objetivos compartilhados por grupamentos virtuais. Logo, vê-se a importância de analisar o movimento de #BoicoteACantina do setor de aulas teóricas II, da UFRN, organizado por alunos da própria instituição, que reivindicaram melhorias no serviço prestado pela administração do estabelecimento, bem como o fim do assédio moral sofrido pelas funcionárias, que foi pensado a partir de um relato publicado no Facebook, por um estudante, que vivenciou e presenciou maus tratos na cantina.
OBJETIVO DO TRABALHO:
Interessa-nos observar como as mídias sociais digitais, especificamente o Facebook, agem como agente propulsor de debates entre grupos que compartilham uma mesma ideia ou não, afim de um determinado objetivo, no caso, o #BocoiteACantina. O objetivo é analisar, qualitativa e quantitativamente o movimento, que aconteceu a partir de um relato feito por um estudante da própria instituição no Facebook.
MÉTODOS:
A apreciação do estudo de caso se deu a partir de uma análise quantitativa, na qual foi tabulado os dados como número de “likes” do conteúdo postado pelo estudante no Facebook, bem como o número de compartilhamentos e comentários. A análise também foi feita de forma qualitativa, avaliando se os comentários feitos na postagem, tanto no perfil do estudante, quanto nos grupos de Comunicação Social e UFRN, eram positivos ou negativos, sendo positivos os que apoiavam o que fora relatado e os que também relatavam casos semelhantes, e negativos os que nunca passaram pela mesma situação do estudante ou que não concordavam com a indignação. Além disso, com os dados obtidos, foi feita uma análise de conteúdo, que visou otimizar a qualificação dos comentários feitos na postagem. Como suporte teórico da análise, foi feita uma discussão a partir das ideias dos autores Rovilson Britto (2009), Gottfried Stockinger e José Carlos S. Ribeiro (in LEMOS e PALACIOS, 2001), Pierre Levy (1999) e Luís M. S. Martino (2012) sobre cibercultura, ambientes virtuais e interatividade nesses ambientes.
RESULTADOS E DISCUSSÃO:
597 pessoas curtiram a publicação, 35 compartilharam o conteúdo, que teve 358 comentários, tanto no perfil pessoal do estudante quanto nos grupos citados. 345 comentários compartilhavam da mesma opinião do estudante e/ou relatavam casos semelhantes na mesma cantina, 13 relataram não ter vivenciado ou presenciado algo semelhante. Todos os compartilhamentos foram feitos por pessoas que se identificavam com o caso de alguma maneira. Quanto aos likes, que significa “curtir”, foi feito o juízo positivo deles.
“Sendo capaz de produzir sentido, a rede passa a constituir, ela própria, um sistema de sentido, com ações sociais sui generis, ações sociovirtuais com funções de reflexão” (STOCKINGER apud LEMOS e PALACIOS, 2001, pág. 111), causando identificação entre os membros e gerando uma mobilização de Centros Acadêmicos e do Diretório Central dos Estudantes da Universidade, que se reuniram fora da rede virtual e organizaram o movimento #BoicoteACantina, realizado em março de 2013, fazendo uma petição com o problema relatado, encaminhando-a para a Reitoria e ouvidoria da Instituição, reivindicando novas regras de funcionamento para a cantina, tratamento respeitoso aos estudantes e funcionários por parte da administração da cantina e diversidade de alimentos oferecidos.
CONCLUSÕES:
Percebe-se que realmente a “cibercultura tem como germe uma cultura mais interativa, mais coletiva, mais participativa, ou seja, ela é um convite para o agir, o optar, o escolher” (BRITTO, 2009, pág. 168) e o relato feito pelo aluno proporcionou a identificação da maioria dos estudantes presentes na rede, que possibilitou uma mobilização para buscar melhorias no serviço prestado pela cantina do setor de aulas teóricas II, da UFRN. Os estudantes não se limitaram em discutir a problemática apenas no meio virtual, eles foram para o meio atual (LEVY, 1999) para buscar resultados concretos, através do movimento #BoicoteACantina, que teve a integração dos alunos que estudam naquele setor de aulas ou até mesmo em outros setores. Nos dias do movimento, os organizadores ofertaram, a preço de custo, alimentos para os estudantes do setor II, distribuíram panfletos, adesivos e camisas para reivindicar melhorias na cantina do setor. O movimento colocou em discussão temas importantes não só para os próprios estudantes, como também para as funcionárias do estabelecimento, que frequentemente são vítimas de assédio moral, por parte da empresária. Além disso, o movimento abriu um espaço de diálogo entre estudantes e gestores da Universidade para que os problemas sejam sanados.
Palavras-chave: Redes sociais digitais, Movimentos sociais, Facebook.