65ª Reunião Anual da SBPC
G. Ciências Humanas - 7. Educação - 3. Educação Ambiental
EDUCAÇÃO PATRIMONIAL NUM PROJETO DE EXTENSÃO UNIVERSITÁRIA: PERTENCIMENTOS E SIGNIFICADOS
Maiara Bessa Ferreira - Licenciatura Plena em Ciências Naturais com Habilitação em Biologia - UEPA
Flávia Cristina Araújo Lucas - Profa. Dra./ Orientadora – Depto. de Ciências Naturais - UEPA
INTRODUÇÃO:
O reconhecimento de um patrimônio perpassa por ações educacionais que buscam o entendimento dos ambientes em suas múltiplas significações. Constitui-se como um instrumento de sensibilização num processo que vise incentivar e possibilitar a apropriação da identidade social sobre o espaço (Souza; Pedon, 2007), promovendo a construção coletiva de cultura e cidadania. A comunidade Vila da Barca localizada na cidade de Belém-Pa convive com inúmeras dificuldades socioambientais. Dados da Secretaria Municipal de Habitação (Prefeitura Municipal de Belém, 2004) estimaram que a maioria dos moradores possui baixo poder aquisitivo e o descaso assistencial por parte do poder público. Neste local, impera a violência, o descuido com o meio ambiente e a insatisfação quanto à qualidade de vida. Os direitos coletivos não são respeitados e as ações mobilizadoras em educação ambiental são escassas (Lucas et al., 2010). Com base nestas observações, o projeto de extensão “Ações interdisciplinares em Educação Ambiental para crianças da Comunidade da Vila da Barca, Belém-Pará”, iniciado em 2009, tem como proposta desenvolver atividades que despertem, num processo contínuo de experimentação e descoberta, a postura crítica e cidadã perante o indivíduo, a comunidade e o patrimônio.
OBJETIVO DO TRABALHO:
A presente pesquisa teve como objetivo promover ações diversificadas em educação patrimonial na cidade de Belém-Pa, com os partícipes do projeto de extensão “Ações interdisciplinares em Educação Ambiental para crianças da Comunidade da Vila da Barca, Belém-Pará”. Foram aplicadas ações pautadas na ampliação da percepção, pertencimento e valorização do ambiente e cultura regional amazônico.
MÉTODOS:
Para o enriquecimento individual e coletivo, as atividades em Educação Patrimonial iniciaram com a compreensão do perfil da comunidade e do envolvimento com as famílias. Foram realizadas visitas, orientadas por professores e graduandos, que observaram de forma participativa (Jordão, 2008) os espaços e comportamentos na Vila da Barca. Em outro momento, foi pontuado o entendimento conceitual do que é Educação Patrimonial, num aprendizado multimodal (Moreira, 1999) e significativo (Ausubel, 1980). Slides projetados em sala de aula apresentaram uma pouco da riqueza no estado do Pará, destacando o folclore, a música, a culinária e a biodiversidade. O complexo do Ver-O-Peso, Estação das Docas, Theatro da Paz, Museu Paraense Emílio Goeldi e Jardim Botânico Bosque Rodrigues Alves, mostraram-se em diferentes evidências e manifestações locais. Posteriormente, cada um desses espaços foi visitado, continuamente, num processo de construção da própria identidade. Os resultados das ações foram obtidos através de observações e registros feitos pelos alunos por meio de desenhos, fotografias, maquetes e murais interativos que expressaram a descoberta e envolvimento com os objetos patrimoniais materiais e imateriais. As observações e registros também foram documentados em ata pelos graduandos.
RESULTADOS E DISCUSSÃO:
Os resultados das ações mostraram que 80% das crianças nunca tinham visitado os locais selecionados para este estudo. Mesmo em datas festivas, como o Círio de Nazaré, em que é estimulada a participação da população nos encontros populares, esse público não se sente capaz de apropriar-se dos bens culturais da cidade de Belém. As famílias assistidas pelo projeto vivem isoladamente na comunidade. As manifestações culturais restringem-se às festas de igreja, reuniões em bares de esquina e festejos na própria Vila, acompanhados de ritmos como o “treme” e o “tecnobrega”. Para Pelegrine (2006) a Educação Patrimonial e Ambiental é um instrumento para construção da cidadania, por elevar a auto- estima e valorizar identidades culturais. Os recursos multimodais utilizados geraram melhor entendimento e sensibilização, os quais foram perceptíveis nas falas e desenhos preparados em telas e cartazes. As visitas oportunizaram a exploração do patrimônio da cidade e suscitaram perguntas quanto à idade de uma peça histórica, o peso do lustre da entrada principal do Theatro, o significado das pinturas, quantas espécies encontravam-se ameaçadas no Jardim Botânico, dentre outras. Esses exercícios estimularam comparações entre a história e cotidiano das crianças.
CONCLUSÕES:
As ações continuadas, realizadas em etapas sucessivas de percepção e interpretação por parte de toda equipe do projeto, evidenciaram a carência de conhecimentos patrimoniais para a cidade de Belém. Foi perceptível a necessidade de ações continuadas nesse processo educacional. O momento de globalização cultural, mesmo sendo oportuno, é, ao mesmo tempo, perigoso, pois na comunidade enquanto a tecnologia é visualmente perceptível, a memória, a observação e a análise de julgamento crítico com o patrimônio são renegados. Nesse sentido depreende-se que a possibilidade de maior reconhecimento sobre o espaço social e ambiental atrelado à compreensão da identidade peculiar do lugar onde se vive, significou para as crianças o encontro de si mesmas na sociedade. A utilização de recursos multimodais atendeu as características peculiares de aprendizagem de cada aluno. Conhecer e explorar novos ambientes do seu contexto social proporcionou momentos de aprendizado e encantamento. A valorização do aprendizado cultural despertou para elas, a importância das lendas, da natureza, dos pontos turísticos, da festa do círio, e de outras manifestações locais.
Palavras-chave: Cultura, Sensibilização, Amazônia.