65ª Reunião Anual da SBPC
G. Ciências Humanas - 4. Geografia - 1. Geografia Humana
A Formação do Campesinato no Rio Madeira/Manicoré-AM
Maria Jacilene Bentes de Oliveira - Departamento de pós-graduação em Geografia-PPGEO/UFAM – Mestranda
Manuel de Jesus Masulo da Cruz - Departamento de pós-graduação em Geografia-PPGEO/UFAM - Prof. Dr./Orientador
INTRODUÇÃO:
O Rio Madeira é um dos mais importantes afluentes do Rio Amazonas, a ocupação desse rio por outros povos, além dos indígenas que já habitavam a região, foi impulsionada pela busca de novos espaços territoriais e econômicos. Foi a partir dessas ações que o campesinato foi se formando, em um primeiro momento foram os portugueses e bandeirantes que iniciaram o processo de apropriação territorial e o comércio das drogas do sertão foi uma das primeiras atividades a fixar esse campesinato. Posteriormente a extração da borracha leva a um aumento significativo das comunidades rurais camponesas na região e a partir do governo militar são os projetos governamentais como a criação de assentamentos que influenciam a formação de um novo campesinato. Os principais autores que fundamentam a análise teórica da pesquisa são Teodor Shanin (1980), Alexander Chayanov (1974 ) Claudio Raffestin (1993), Rogério Haesbaert (2004), Robert Sack (1986), Ariovaldo Umbelino de Oliveira (2004) e Eliane Tomiasi Paulino (2001), além desses, autores regionais. A relevância desse estudo está principalmente na necessidade de conhecer a formação desse campesinato, pois apesar de o Rio Madeira ser área de estudo de diversas pesquisa, não encontramos referencias voltadas para esse entendimento.
OBJETIVO DO TRABALHO:
Entender o processo de formação do campesinato no Rio Madeira/Manicoré, identificando quais os fatores influenciaram em sua consolidação.
MÉTODOS:
A pesquisa teve um caráter exploratório, baseado no método dialético de análise, tendo como, procedimentos técnicos: leituras bibliográficas, observação direta com trabalho de campo, entrevistas, análise documental e levantamentos de dados sobre a região. Para entender o processo de formação do campesinato no Rio Madeira, foi feito um levantamento e leituras das obras com estudos publicados sobre a área, assim como literaturas dos autores de fundamentação teórica da geografia agrária. Na pesquisa de campo no município de Manicoré, foram feitas visitas aos órgãos responsáveis por dados populacionais e de responsabilidade de assistência rural, como Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - IBGE, Instituto de Desenvolvimento Agropecuário e Florestal Sustentável do Estado do Amazonas - IDAM, Secretaria Municipal de Agricultura, Produção e Abastecimento – SEMAPA, Colônia dos Pescadores, Secretaria de Meio Ambiente do Município. Foram feitas visitas às comunidades rurais, com entrevistas com representantes comunitários e moradores, especificamente foram escolhidos os moradores mais antigos. Depois de todos os dados coletados, as informações foram organizadas e referenciadas teoricamente.
RESULTADOS E DISCUSSÃO:
A partir da pesquisa bibliográfica e de campo, entendemos que o campesinato no Rio Madeira começou a se formar a partir da ocupação portuguesa, sendo a exploração das drogas do sertão a primeira atividade a contribuir com a fixação camponesa ainda no século XVIII (FERREIRA, 1982; HUGO, 1991;). Porém foi com a extração da borracha no final do século XIX e início do século XX, que a ocupação rural foi mais intensa e após a decadência da borracha os trabalhadores dos seringais, maioria nordestinos, passaram a construir seus territórios e formar as comunidades camponesas (TEXEIRA, 2009). A partir da segunda metade do século XX, as políticas desenvolvimentistas do governo militar influenciam diretamente o Rio Madeira com construção de rodovias e projetos de assentamentos trazendo um novo modelo de ocupação camponesa. Observamos que o campesinato no Rio Madeira foi criado e recriado pelas influências capitalistas, isso nos remete aos teóricos da geografia agrária como Lenin (1985), Kautsky (1980) e Chayanov (1974), para os dois primeiros o campesinato se extinguiria com o capitalismo, já o último afirmava que ele não teria fim com o avanço capitalista, e nesse estudo concordamos com Chayanov, pois apesar da força atuante do capitalismo no Rio Madeira os camponeses persistem.
CONCLUSÕES:
Neste trabalho identificamos os principais fatores de formação do campesinato no Rio Madeira e concluímos que sua formação e consolidação se deu pela atuação do próprio sistema capitalista. Mas sua permanência como classe camponesa se deve ao modo de vida particular que eles mantêm, e na Amazônia, com o exemplo do Rio Madeira, essas particularidades são muito evidentes quando vamos a campo. E essa particularidade camponesa está não só na organização produtiva, mas principalmente nos valores morais como nos mostrou Woortmann (1990). O campesinato no Rio Madeira, tem sua forma organizacional nas comunidades camponesas, e elas são centenas espalhadas pelas margens dos rios (Madeira e seus afluentes) e das estradas. Um fator importante observado são as diferenças de formação das comunidades camponesas, enquanto as primeiras se consolidaram as margens dos rios, exatamente pela influência das explorações econômicas, as últimas originadas a partir das politicas de ocupação se localizam as margens das estradas. Baseado em Adams (2006) denominamos de camponeses históricos os primeiros e de neo-camponeses os últimos. E concluímos que as comunidades camponesas permanecem se nutrindo de relações não-capitalistas, mas necessitando manter relações com o mercado, para sua própria sobrevivência.
Palavras-chave: Campesinato, Rio Madeira, Manicoré.