65ª Reunião Anual da SBPC
G. Ciências Humanas - 7. Educação - 8. Educação Matemática
O ENSINO DE MATEMÁTICA NO PROGRAMA MULHERES MIL: UMA OPORTUNIDADE DE REPENSAR O FAZER PEDAGÓGICO
Marcia Rosa Uliana - Instituto Federal de Rondônia Campus Cacoal /REAMEC - Polo UFMT
INTRODUÇÃO:
O Programa Mulheres Mil foi criado pelo Governo Federal no ano de 2008 e tinha como objetivo inicial promover a formação profissional e tecnológica de cerca de mil mulheres em situação de vulnerabilidade social. Em 2011, devido ao sucesso, o programa foi expandido para todo o País e ficou a cargo dos Institutos Federais de Educação, Ciência e Tecnologia (Ifets) do país, ampliar e implementar a oferta para atender 100 mil mulheres desfavorecidas do Brasil até 2014. “O programa possibilitará a inclusão social, por meio da oferta de formação focada na autonomia e na criação de alternativas para a inserção no mundo do trabalho, para que essas mulheres consigam melhorar a qualidade de suas vidas e das comunidades” (BRASIL, 2011). O Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rondônia - IFRO/Campus Colorado do Oeste atendendo ao disposto no Programa Nacional Mulheres Mil implementou no ano de 2012, ofertando 100 vagas em um curso técnico de Processamento de alimentos. A matriz curricular desse curso foi elaborada com disciplinas da área técnica e básica como Matemática e Língua Portuguesa. O presente trabalho se pauta no processo ensino-aprendizagem de Matemática vivenciado no curso.
OBJETIVO DO TRABALHO:
Compartilhar com a comunidade acadêmica uma experiência bem sucedida de ensino e aprendizagem de matemática num grupo de alunas com diferente grau de escolaridade – Programa Mulheres Mil.
MÉTODOS:
Analisando a ficha socioeconômica das cem mulheres das duas turmas de 2012 percebemos que teríamos uma turma com formação acadêmica bem heterogênea, desde mulheres analfabetas a com curso superior concluído. O desafio consistia em planejar e trabalhar uma ementa de Matemática coerente com o curso de Processamento de Alimentos e que possibilitasse que todas fossem incluídas no processo de aprendizagem. Optamos por utilizar Modelagem Matemática, pois segundo Araújo (2007), Biembengut (2009), Barbosa (2007) essa metodologia possibilita aproximar o aluno do saber teórico-prático a fim de melhorar a apreensão desses conceitos ao utilizar situações e objetos inerentes ao seu cotidiano, além de desenvolver habilidade e competências na resolução dos problemas. Os conteúdos de conjuntos numéricos, operações, frações, unidade de medida, proporcionalidade, noções de matemática financeira, porcentagem e noções de geometria plana e espacial que foram desenvolvidos a partir de receitas, utensílios domésticos, orçamento de custo de fabricação de alimentos, embalagens e uso de calculadoras.
RESULTADOS E DISCUSSÃO:
As atividades, em sua maioria, foram desenvolvidas em grupos: algumas alunas que tinha mais facilidade para escrever faziam os registros, outras que ainda estavam aprendendo participavam apenas verbalmente ou trabalhavam de maneira manual para medir as dimensões de embalagens, assadeiras, panelas e utensílios. As alunas que tinham mais facilidade com os cálculos orientavam as colegas e, as que tinham mais disponibilidade de tempo faziam a cotação de preço no comércio no horário extraclasse. No entanto, todas participavam e conseguiam argumentar e estabelecer as relações dos conteúdos matemáticos com a produção de alimento e agregavam novos conhecimentos aos que já possuíam. Isso ficou evidente ao longo das vinte horas de aula e na avaliação proposta no final do curso. As mulheres sem habilidades com a escrita fizeram a avaliação oral. Ao término da avaliação foi requisitado que as mesmas lhes atribuíssem uma nota de zero a dez e justificasse por qual o motivo. Das cem mulheres que compunham as duas turmas, apenas uma desistiu do curso e segundo a coordenadora do programa, a disciplina de matemática apresentou o menor índice de falta das alunas.
CONCLUSÕES:
A experiência de ensinar matemática num grupo de mulheres de diferente escolaridade exigiu repensar o fazer pedagógico e assim experimentar novas metodologias de ensino. Além de desmistificar que os alunos precisam estar todos no mesmo patamar de desenvolvimento cognitivo e possuírem os pré-requisitos para a turma ter sucesso no processo de aprendizagem matemática. Sendo assim, é válido ressaltar que, a metodologia de ensino adotada possibilitou trabalhar com a zona de desenvolvimento proximal de cada uma das estudantes, atingindo a máxima no processo educativo conforme aborda Visgostki (1997). Logo, ficou notório nas alunas a satisfação por terem aprendido conteúdos de matemática, algo que muitas até então não haviam vivenciado no ensino tradicional.
Palavras-chave: Modelagem Matemática, Mulheres, Matemática.