65ª Reunião Anual da SBPC
G. Ciências Humanas - 5. História - 9. História Social
História oral, identidades e migrações: resgatando memórias da formação do Estado de Rondônia
Yara Regina Alves Machado - Instituto Federal de Rondônia
Shirley Espíndola de Matos - Instituto Federal de Rondônia
Damysson Henrique Bezerra da Silva Dias - Instituto Federal de Rondônia
Andressa da Silva Pereira - Instituto Federal de Rondônia
Lourival Inácio Filho - Prof. Esp./Orientador- Instituto Federal de Rondônia
INTRODUÇÃO:
No início da década de 1980 o Território Federal de Rondônia passou a Estado. O coronel Jorge Teixeira foi designado pelo Governo Militar no final da década anterior para estruturar aquela transição do estado e tornou-se seu primeiro governador. A construção ideológica das mentalidades dos migrantes “pioneiros” em relação a formação e, principalmente, aceitação daquele espaço “novo” encontrou forte amparo naquele personagem histórico mitificado pelo imaginário local. Esta pesquisa apresenta possibilidades de através da história oral temática compreender a formação simbólica do fenômeno de heroificação de “Teixeirão” e a cordialidade como aspecto social rondoniense em que ocorre uma hipertrofia da esfera privada sobre a pública.
OBJETIVO DO TRABALHO:
Demonstrar à construção imagético-oral-discursiva do governador Jorge Teixeira a época da criação do estado de Rondônia pelos depoimentos de antigos pioneiros enquanto norteador da cordialidade inerente aquele processo histórico.
MÉTODOS:
O recorte analítico utilizou treze entrevistas com pessoas das mais diferentes classes sociais, gênero e profissão. Da capital ao interior estivemos em cinco cidades com pessoas oriundas das mais diversas regiões do país. Como método básico utilizamos a história oral temática, buscando articular migração, criação do estado e a mitificação de Jorge Teixeira. Esta metodologia de pesquisa que consiste em realizar entrevistas gravadas com pessoas, as quais podem testemunhar sobre acontecimentos, conjunturas, instituições, modos de vida ou outros aspectos da história contemporânea. Não é uma abordagem simples como parece, envolve sérias implicações anteriores e posteriores a entrevista (ver Paul Thompson, Ecléa Bosi, José Carlos S. B. Meihy). Como procedimento, utilizamos primeiro a pesquisa bibliográfica e documental, mas buscando ir além das falas, contextualizando e fazendo conexões numa perspectiva interdisciplinar, na qual dialogamos com a Teoria da Comunicação, Estudos Culturais, História e Sociologia.
RESULTADOS E DISCUSSÃO:
Foram realizadas 13 entrevistas com diferentes classes sociais em Porto Velho, Cadeias do Jamari, Ariquemes e Ouro Preto do Oeste. Com migrantes de várias regiões do Brasil. Inclui-se de doméstica a professor universitário. Articulando migração, Rondônia e a mitificação de Jorge Teixeira. Intentamos uma visão do processo. Para um policial aposentado de 53 anos, Porto Velho era pacata apesar da dificuldade de abastecimento. Teixeira aparece como um “comandante muito bom”. Para um pequeno agricultor de 82 anos o enfoque era busca de terras para plantio: “O Incra que distribuía [terras]. Então a gente ia [...] foi lutando assim até que conseguiu abrir um pouco lá do lote”. A visão de violência é contraditório: “Violência não tinha muito. O problema que deu aqui muito feio foi no garimpo”. Muda-se as questões de sobrevivência e mantem-se a mitificação de Jorge Teixeira, apesar de uma fala desconfiada no impessoal: “Diz que ele foi um governador muito bom, né?”. Apesar de semiestruturada, deixamos os entrevistados à vontade para responder, e o que se constatou é um padrão claro e recorrente que nos possibilita analisar tais falas por aspecto culturais inerentes à migração e a propaganda governamental transformada muitas vezes em ato político pela vinculação aos meios de comunicação.
CONCLUSÕES:
A cordialidade – que hipertrofia a esfera privada sobre a pública – se moldou em aspecto cultural de longa duração em Rondônia, centrado nos signos da “terra da providência” e da acomodação dos que chegam por uma “via prussiana”, perceptível em nossos homens públicos, readaptando-se no período democrático como uma prática recorrente.
Se no passado Teixeirão conseguiu não se envolver em escândalos político-administrativos pela sua índole de militar que estava em missão se mitificando como herói perante o povo, fez também com que este povo, fruto daquele momento histórico ficasse um tanto quando atrelado a um tipo de “patrimonialismo” – perceptível nas entrevistas – que talvez o torne apático ante as problemáticas que envolvem a cultura política hoje no Estado. O que torna a mitificação patrimonialista de Jorge Teixeira no herói externo que constrói espaços em Rondônia e na Amazônia e neste sentido é sintomático perceber que o histórico político local elegeu apenas um rondoniense.
Palavras-chave: Cordialidade, Memória coletiva, Formação social.