65ª Reunião Anual da SBPC
G. Ciências Humanas - 9. Sociologia - 7. Sociologia
"MULHERES DA GENTE": A ENUNCIAÇÃO DO FEMININO NO JORNAL AQUI PE.
Mércia Cristina da Silva Assis - Graduanda do Depto. de Serviço Social/UFPE
Vivian Matias dos Santos - Prof. Dra/ Orientadora - Depto. de Serviço Social - UFPE
INTRODUÇÃO:
Fotos na capa, com jovens em trajes minúsculos e rostos sensuais. Matérias curtas, de no máximo meia página, com linguagem direta, simples e eivada de estereótipos do senso comum. Formato tablóide, também conhecido como “modelo americano”. Eis as características do jornal Aqui PE que se propõe a “informar” com preço baixo e matérias “objetivas”. Devido à amplitude dos temas abordados pelo jornal, foi dado destaque nas questões da construção do “sujeito feminino” através do jornal Aqui PE possuindo como norte as reflexões de Joan Scott (2010) ao compreender o gênero como primeiro modo de dar significado as relações de poder na sociedade. Assim, sendo as questões viscerais para esse estudo centraram-se na compreensão de como o jornal Aqui PE retrata e representa as mulheres de modo geral, pois para Van Dijk (2008) analisar o jornal impresso no âmbito dos seus discursos e lógicas é adentrar nos textos jornalísticos através de elementos culturais, sociais e históricos somando-se as estratégias de persuadir e influenciar a opinião pública. O jornal Aqui PE, nesse sentido, serviu como documento-fonte primordial, sendo objeto de estudo e fonte. Nesse sentido, estratégia adotada para compreender os discursos do jornal Aqui PE foi a análise dos meses de março à julho de 2012.
OBJETIVO DO TRABALHO:
Entender os discursos e os modos como são descritas e representadas às mulheres no jornal Aqui PE, no sentido de compreender se há unidade nessas representações que possuem como objeto a enunciação do feminino. Nesse percurso, compreender quais estratégias discursivas e lingüísticas foram utilizadas, como finalidade de atrair o leitor, para as matérias que possuem como objeto a(s) mulher(es
MÉTODOS:
O jornal Aqui PE foi documento fonte primordial para a presente pesquisa. Como recorte temporal para análise desse documento os meses de março à julho de 2012, entendendo que nesse espaço de publicações foram feitos “confrontos” afim de compreender as similaridades e divergências discursivas no que tange ao sujeito feminino. Acrescentamos a isso, o levantamento bibliografia que norteou as reflexões tabuladas referente ao discurso do jornal proposto. Tendo em vista a analise das representações e os discursos que o jornal Aqui PE produz sobre o sujeito feminino, tomamos as reflexões metodológicas que Foucault (1996) utiliza para a análise dos discursos como produtores de verdades em um determinado momento histórico, espacial e temporal.
RESULTADOS E DISCUSSÃO:
A análise dos discursos produzidos pelas mídias vai para muito além de uma mera descrição das abordagens midiáticas sobre determinados temas, ou sobre suas funções nas relações sociais. O discurso, segundo Foucault (1996, p.09), contém procedimentos que tendem ao controle. Os discursos institucionalizados são primordiais para compreender como estes são disseminados e legitimados nas sociedades como verdadeiros ou falsos. Assim sendo, na análise documental do jornal, foi possível o levantamento de cerca de 150 periódicos. A partir desse levantamento percebeu-se que diariamente o sujeito feminino é central nos noticiários tomando, na maioria das vezes, as manchetes principais. O jornal centra esforços, principalmente, na erotização dos corpos femininos, local esse, marcado pelo menos intelectual. O corpo seria, assim, para as mulheres lugar privilegiado para a ascensão social e visibilidade. No lado oposto do corpo está o sujeito feminino vitima ou causadora da violência. Para ela resta o espetáculo da violência e das estatísticas do caos urbano, além da exposição da privacidade, da violência causada/sofrida. Para estas, não resta sequer à ascensão social, apenas o local do grotesco, da pobreza, da “desestrutura” de suas vidas, ou até mesmo, da incapacidade de gerir-las.
CONCLUSÕES:
O jornal impresso é local privilegiado para compreender as mudanças e continuidades de representações, sendo estas, construídas e pensadas -embora aparentem neutralidade- por grupos e “atores sociais”. No que tange a mulher, o jornal Aqui PE retroalimenta diariamente concepções que naturalizam e perpetuam o local do feminino e masculino na sociedade, estabelecendo hierarquias entre esses sujeitos “expressos em doutrinas religiosas, educativas, políticas e jurídicas e que opõe de maneira binária e inequívoca as concepções de masculino e feminino” (FILHO apud SCOTT, 1990, p. 135) Nesse sentido, as práticas discursivas desse jornal, procura utilizar estratégias lingüísticas mais próximas do falar popular; explorando as gírias, palavrões, expressões populares e etc. que visam tratar os fatos do mundo social de forma engraçada e pitoresca. Assim sendo, o jornal Aqui PE ao proporcionar a visibilidade feminina por duas vias, quais sejam, por meio de seus corpos sensualidados enquanto objeto de desejo; e por meio do seu envolvimento como “atores sociais” de um cenário violento onde elas figuram objetos ou sujeitos de uma ação violenta, tratam essas questões a alimentar preconceitos e estereótipos de forma a naturalizar e normatizar o local da mulher na sociedade.
Palavras-chave: Discurso, Jornal Impresso, Feminino.