65ª Reunião Anual da SBPC
H. Artes, Letras e Lingüística - 4. Linguística - 4. Sociolinguística
AS REALIZAÇÕES FONÉTICAS DE /R/ NA COMUNIDADE DE PORTO DA RUA, LITORAL NORTE DE ALAGOAS.
Jeylla Salomé Barbosa dos Santos - Universidade Federal de Alagoas
INTRODUÇÃO:
O objeto de estudo desta pesquisa é uma descrição linguística e sociolinguística da realização da variável /R/ em posição final de sílaba, final de palavra (como em “mar”) e quando em final de sílaba em meio de palavra (como em “porta”) na variedade de Português falado em Porto da Rua, litoral norte de Alagoas. O estudo compreendido neste trabalho insere-se no arcabouço teórico da Sociolinguística Quantitativa Laboviana, com o principal objetivo de analisar estatisticamente as realizações de /R/, apresentando uma descrição do conjunto de variáveis linguísticas e extralinguísticas que influenciam a realização do fenômeno, e também objetiva verificar se há indício de uma mudança em curso ou se estamos diante de um caso de variação estável.
OBJETIVO DO TRABALHO:
Nosso objetivo foi descobrir quais fatores linguísticos estariam condicionando a realização da variante estudada, uma vez que esta ocorre posição de coda, medial ou final, e sua ocorrência parece depender da natureza da consoante seguinte. E Quais fatores extralinguísticos estariam condicionando a realização da variante estudada.
MÉTODOS:
Seguimos os métodos de investigação da Sociolingüística Variacionista (quantitativa). Selecionamos uma amostra constituída de quarenta e oito informantes, aos quais foi solicitado que falassem sobre um tema da sua escolha ou sugerido de acordo com o conhecimento que tivemos do informante.
RESULTADOS E DISCUSSÃO:
Encaixamento linguístico
Tabela 1. Distribuição das variantes conforme a classe da consoante seguinte e quando em coda final.
Durante toda a coleta observamos quais classes de consoantes estariam influenciando ou não a realização da variante em análise, a aproximante pós-alveolar e, concluímos que a classe das fricativas obteve um percentual de 1% e um peso relativo igual a (.3), a classe das oclusivas atingiu um percentual igual a 23% e um peso relativo igual a (.65) e em coda final um percentual de 21% e um peso relativo igual a (.64). Observamos que os dois últimos fatores se aproximam quanto ao peso relativo. Mas a oclusiva favorece mais a realização da aproximante. Observando a realização da fricativa glotal surda [h], percebemos que as duas classes de consoantes e quando em coda final influenciam a sua realização.
Tabela 3: Distribuição das variantes conforme a escolaridade
Observamos que os informantes não escolarizados favorecem a realização da aproximante pós-alveolar, com uma frequência de 63% e um peso relativo igual a (.90) em contraposição aos escolarizados, com uma frequência de 7% e um peso relativo de (.37). Os falantes escolarizados favorecem a realização da fricativa glotal surda com uma frequência de 93% e um peso relativo igual a (.63). Na verdade, já esperávamos um resultado como este, pois a escola se faz presente a cada dia na vida da maioria desses informantes.
CONCLUSÕES:
Nesse corpus, as restrições controladas foram sexo, escolaridade e faixa etária e como restrição linguística foi a consoante seguinte, ou melhor, o ambiente seguinte. Diante do resultado dos dados segundo o fator linguístico, foi favorável à existência da variação. Uma de nossas hipóteses era que o ambiente seguinte, que pode ser a classe da consoante seguinte quando em meio de palavra, seria um dos condicionadores linguísticos da realização da variante em estudo. Analisamos todas as consoantes seguintes que se apresentaram nos dados e verificamos que as oclusivas se destacaram por terem tido uma atuação quase categórica em relação às demais consoantes em relação ao condicionamento, sendo as consoantes [t e d] as que mais influenciam a realização da aproximante pós-alveolar. Quanto aos fatores não linguísticos, ressaltamos a relevância de todos eles. Em relação ao fator escolaridade, este também teve seu destaque em nossas observações. Os dados revelaram que os não escolarizados realizam mais a aproximante pós-alveolar e os escolarizados a fricativa glotal surda. Por fim, temos o fator faixa etária, que nos revela uma possível mudança ou uma gradação etária na comunidade pesquisada. Em relação à mudança, dizemos isso porque a faixa etária 1(de 15 a 30 anos) obteve um percentual muito baixo para a variante pós-alveolar. Referimo-nos à gradação etária porque na medida em que a porcentagem da aproximante pós-alveolar sobe, a porcentagem da fricativa desce.
Palavras-chave: Róticos, Variação linguística, Fonética acústica.