65ª Reunião Anual da SBPC
F. Ciências Sociais Aplicadas - 3. Economia - 8. Economias Agrária e dos Recursos Naturais
Fatores determinantes do perfil microeconômico feminino na agricultura familiar do Semiárido do Ceará.
Marciana de Lima Soares - Mestrado Acadêmico em Gestão e Logística - Univ.Federal do Ceará - UFC
Déa de Lima Vidal - Profa. Dra./Orientadora - Faculdade de Veterinária - UECE
Daniel Paraguay Alves Santos - Curso de Geografia - Universidade Estadual do Ceará - UECE
INTRODUÇÃO:
No atual estágio do processo de desenvolvimento e evolução das sociedades, ainda se observa a presença preconceituosa da desigualdade entre gêneros, com acentuada desvalorização da mulher pelo não reconhecimento de sua participação ativa em amplos setores da economia. Apesar da ONU haver colocado como objetivo a ser atingido até 2015 a superação das disparidades de gênero ao nível político-econômico nos ambientes rural e urbano, o mundo da mulher rural continua sofrendo tradicionalmente um desinteresse evidente por parte do restante dos setores socioeconômicos. Assim, a divisão tradicional de gênero esconde as proporções da participação econômica da mulher na construção da riqueza rural e de seu consequente desenvolvimento, acentuando a problemática da invisibilidade do trabalho feminino na agricultura familiar.
OBJETIVO DO TRABALHO:
Considerando o acima exposto, este trabalho teve como objetivo caracterizar o perfil microeconômico do trabalho feminino através da determinação dos fatores estatísticos em unidades rurais (UR) do Distrito do Baixo Trici, Município de Tauá, região semiárida do Estado do Ceará.
MÉTODOS:
Foram estudadas 96 mulheres rurais distribuídas entre 6 comunidades do Distrito do Baixo Trici (Município de Tauá), CE, a saber: Junco (n=22), Tapera (n=22), Lustal 1 (n=19), Lustal 2 (n=8), Tiassol (n=15) e Queimadas (n=10). O total de UR existentes nessas comunidades ascende a 305, portanto, o presente estudo abrangeu 31,8% das UR do distrito. A coleta de informações originais foi realizada através de questionário aplicado no local. A matriz de dados foi elaborada a partir de vinte e uma variáveis relativas a microeconomia dessas UR, incluindo a participação produtiva da mulher no tocante à intensificação do capital, rentabilidade da superfície total e produtividade e rentabilidade dos fatores de produção manejados pelos membros da família. Na sequência, uma Análise Multifatorial de Componentes Principais (ACP) foi executada sobre essas variáveis para determinação dos fatores estatísticos explicativos da variância microeconômica (F). Genericamente, as atividades econômicas dessas comunidades rurais estão vinculadas à produção de carne de pequenos ruminantes, leite e queijo bovino, hortaliças e pomar. A mulher rural encontra-se predominantemente na faixa de 45,52 anos com prole em idade escolar e não possui educação formal.
RESULTADOS E DISCUSSÃO:
Os 4 fatores iniciais da ACP explicam 63,55% da variância total, valor considerado satisfatório, do qual o F1 explica 24,82% da mesma e caracteriza as UR onde os resultados microeconômicos do sistema de produção anual são positivos, expressados pelos valores agregados bruto e líquido. Esse fator relaciona o rendimento microeconômico à concentração dos esforços na produção vegetal realizada pela mulher no trabalho em hortas e pomares. Com 17,94% da variância explicada, o F2 define que, as rentabilidades da Superfície Total e da Superfície Agrária Útil são inversamente proporcionais à produtividade da mão de obra feminina. Isso permite inferir que as maiores produtividades das superfícies laboradas por mulheres serão alcançadas em UR com áreas de pequenas dimensões. O F3, com 11,12% da variância, explica a atuação satisfatória do trabalho da mulher especificamente com a produção de aves em UR através da elevada intensificação do capital em relação à Unidade de Trabalho Anual (UTA) feminina. Enquanto o F4, com 9,68% da variância caracteriza as UR onde a elevada intensificação do capital vincula-se à participação do trabalho da mulher principalmente em outras produções (mel, doces e compotas) e a mesma relevância produtiva de ruminantes manejados por assalariados
CONCLUSÕES:
A determinação dos fatores estatísticos explicativos demonstra a participação microeconômica feminina em diversas atividades produtivas, destacando-se o manejo agropecuário com aves, suínos, hortas e pomares. Foi observado ainda que a mulher, dotada de sua criatividade natural, consegue desenvolver atividades produtivas mesmo em pequenas extensões de Superfície Agrária Útil, nas quais diversifica seu trabalho em outras produções. As implicações, portanto, mostram a necessidade da valorização e reconhecimento do trabalho feminino não apenas como fator coadjuvante, mas imprescindível ao desenvolvimento econômico das UR. Sugere-se o aprofundamento e ampliação dos estudos sobre microeconomia de gênero em sistemas de produção familiares e camponeses para as regiões frágeis ecológica e economicamente como o semiárido nordestino.
Palavras-chave: mulher rural, microeconomia, agricultura familiar.