65ª Reunião Anual da SBPC
G. Ciências Humanas - 5. História - 9. História Social
VIDA NO BECO: TRAJETÓRIAS E VIVÊNCIAS DE MORADORES DO BECO SUBMARINO, PARINTINS-AM.
ÁTILA SOUSA SOMBRA - Universidade do Estado do Amazonas - UEA
MÔNICA XAVIER DE MEDEIROS - Universidade do Estado do Amazonas - UEA
INTRODUÇÃO:
Esta pesquisa possibilitou uma análise das trajetórias e vivencias de víveres urbanos de uma área sujeita a alagações periódicas que fica “escondida” entre duas das maiores vias de Parintins –AM, conhecida como “Beco Submarino”, onde 75 famílias vivem de forma insalubre e em condições precárias. Tivemos como suporte principal para o acesso a essas trajetórias e vivências as narrativas orais de moradores, suas reminiscências possibilitaram entendimento do processo de ocupação daquele espaço e como se relacionam com o resto da cidade. Assim, este estudo indica como esses sujeitos que vivem no Beco Submarino em constante tensão pela busca do direito a cidade, pois estão em uma área no centro da cidade.
OBJETIVO DO TRABALHO:
GERAL:Analisar como moradores/ trabalhadores do Beco Submarino interpretam a tensão do viver urbano em Parintins (AM).ESPECÍFICO:A) Verificar como a cidade vai emergindo das experiências de seus moradores, especificamente os do Beco Submarino.B)Perceber qual a rede de relações que os moradores do beco vão construindo no seu viver seja com os moradores dos bairros do entorno ou com o poder público.
MÉTODOS:
O recorte temporal da pesquisa inicia-se com a constituição do Beco Submarino, época de profundas transformações na cidade. Pois as fontes orais foram necessárias para atingirmos nosso objetivo principal, que era analisar como os moradores interpretavam suas experiências de viver na cidade, pois segundo (PORTELLI, 2004) as estórias contadas nas entrevistas de pesquisas em História Oral têm sempre o presente como referência. Os sujeitos foram selecionados para as entrevistas segundo o critério de tempo de moradia no local, privilegiado os mais idosos. Embora a análise de narrativas orais seja central para o desenvolvimento do trabalho, também recorri a documentos antigos e oficiais da cidade, para tentar perceber como a classe dominante local projeta a imagem desses moradores. A metodologia da História oral permitiu perceber “os modos de viver, de morar, de lutar, de trabalhar e de se divertir dos moradores que impregnam e constituem cotidianamente a cultura urbana” (ALMEIDA, 2004). Através das narrativas desses moradores/trabalhadores pude perceber o processo de transformação da cidade “destacando a construção de temporalidades, de projetos e, sobretudo, de sujeitos que elegiam outros momentos, processos e lugares para cunhar os sentidos das mudanças na cidade” (CALVO, 2004).
RESULTADOS E DISCUSSÃO:
A Francesa está em uma área valorizada da cidade, onde é constituído por uma boa infraestrutura, com comércio, hospitais e escolas, mas nesse bairro visto por muitos como um lugar de referência a moradia, por ser um bairro bem estruturado e “sem problemas sociais, econômicos e culturais”, vivem também sujeitos sociais trabalhadores, pais de famílias que muita das vezes passam despercebidos aos olhos da sociedade por morarem em um lugar que não condiz com a realidade de boa parte da sociedade, que é o Beco Submarino. Deuza dos Santos, 56 anos, que há 16 anos mora no Beco, diz que “Aqui é ruim aqui só pro tempo da cheia, mas pra mim eu me acostumei bastante aqui, por que aqui tudo é perto, é perto da feira é perto do supermercado é perto da, do encoste de barco e escola tudo é perto”. Isso pode ser percebido como uma forma de apropriação dos bens sociais localizados no bairro. Mesmo vivendo em condições precárias, habitar no centro era mais viável que morar, como inquilino, em condições ainda piores nas periferias distantes dos locais de trabalho e sem infraestrutura urbana (COSTA,1997). A cidade tem uma história; ela é a obra de uma história, isto é, de pessoas e de grupos bem determinados que realizam essa obra nas condições históricas, Lefebvre (2001).
CONCLUSÕES:
Para muitos viver no Beco Submarino é sinônimo de desorganização, para eles que vivem a um bom tempo nesse local, tiveram que de uma forma ou de outra se organizarem, para assim lutarem pelo direito de terem um espaço a moradia, por mais precário que seja ao ver das classes hegemônicas, mas na visão deles é uma moradia como outra qualquer, com problemas de saneamento básico. Mesmo vivendo em condições precárias, habitar no centro era mais viável que morar, como inquilino, em condições ainda piores nas periferias distantes dos locais de trabalho e sem infraestrutura urbana (COSTA,1997).Muitas das famílias que hoje se encontra morando no Beco Submarino vieram em busca de melhorias, tratamento médico, escolas e, por hora se instalando na casa de parentes, conhecidos e amigos. E por realmente quererem melhorar de vida acabaram ficando, e sem ter um pedaço de chão acabaram por formar o que hoje é o Beco Submarino. Muitos estão ali por se identificarem com o local, por ser próximo à lagoa da Francesa, que é lugar de embarque e desembarque de mercadorias, outros por realmente não terem para onde ir. Com isso dentro de suas condições financeiras acabaram por formar ali suas moradias que fogem ao “padrão” estabelecido e visto pelo poder público e a sociedade.
Palavras-chave: Cidade, Sujeitos Sociais, Direitos.