65ª Reunião Anual da SBPC
G. Ciências Humanas - 7. Educação - 11. Ensino-Aprendizagem
"EDUCAÇÃO E LUDICIDADE AFRICANA E AFRO-BRASILEIRA": A Oralidade como recurso metodológico na produção de matérias didáticos para Escolas Quilombolas do nordeste do Pará.
Gabriela Freitas da Paixão - Discente da Faculdade de Pedagogia da Campus universitário de Castanhal -UFPA
José Rodrigo Pontes dos Santos - Discente da Faculdade de Pedagogia da Campus universitário de Castanhal -UFPA
Luiz Claudio Silva de Castilho Junior - Discente da Faculdade de Pedagogia da Campus universitário de Castanhal -UFPA
Naiara de Souza Araújo - Discente da Faculdade de Pedagogia da Campus universitário de Castanhal -UFPA
Luiz Fernando Palheta - Discente da Faculdade de Pedagogia da Campus universitário de Castanhal -UFPA
Débora Alfaia da Cunha - Prof. Drª . Orientadora, Faculdade de Pedagogia do Campus Castanhal -UFPA
INTRODUÇÃO:
O trabalho apresenta o levantamento de atividades lúdicas, vivenciadas na infância por moradores idosos de três comunidades remanescentes de quilombos no Estado do Pará. A pesquisa vincula-se ao projeto "Educação e Ludicidade Africana e Afro-brasileira: Produção de material didático e de metodologias específicas para escolas quilombolas". O projeto configura-se como uma ação educacional afirmativa, em conformidade com a legislação contemporânea, que cobra das universidades a elaboração de uma pedagogia antidiscriminatória. (BRASIL, 2009).
As ações do grupo focam na utilização de recursos lúdicos para o ensino do respeito à diversidade. Como explica Luckesi (2002), o lúdico, sendo uma experiência subjetiva, caracterizada pelo prazer, o envolvimento pleno e a atenção ao presente, permite o estabelecimento de uma relação alegre e prazerosa tanto conosco, quanto com os outros, criando novos patamares de convivência.
Assim, pela capacidade de abertura e flexibilidade, a atividade lúdica se apresenta como uma estratégia didática promissora para a inclusão de temas difíceis e dolorosos, como é o caso da questão racial. Além disso, a ludicidade se afirma como um elemento importante para a compreensão da capacidade de resistência, criação e recriação da cultura negra.
OBJETIVO DO TRABALHO:
O objetivo da pesquisa foi realizar um levantamento sobre as atividades lúdicas, vivenciadas na infância por moradores idosos de três comunidades remanescentes de quilombos no estado do Pará: as comunidades de África e Laranjituba, no município de Abaetetuba, e a comunidade de Itaboca, em Inhangapi, no intuito de subsidiar a construção de materiais didáticos sobre a ludicidade afro-brasileira.
MÉTODOS:
Metodologicamente, a pesquisa é qualitativa, voltada ao rememorar das atividades lúdicas, dos jogos, brincadeiras e folguedos que marcaram a vivencia de antigos moradores das três comunidades quilombolas selecionadas para estudo.
A definição das comunidades quilombolas inseridas no levantamento seguiu o critério de acessibilidade. Por esse critério três comunidades foram incluídas no estudo.
O levantamento exigiu o deslocamento da equipe para as comunidades. As idas ocorreram sempre aos sábados em virtude da disponibilidade dos entrevistados e do veiculo da instituição. O trabalho de campo envolvia em media 6 pessoas, que se revessavam nas funções de entrevistar, filmar, tirar fotos da comunidade, selecionar depoentes, etc.
O critério de seleção dos entrevistados foi a idade e a importância cultural e politica para a comunidade quilombola que estávamos pesquisando.
As entrevistas foram filmadas, pois seriam utilizadas como material para um documentário sobre as comunidades estudadas.
O tratamento dos dados se constituiu na transcrição e analise das entrevistas, bem como no tratamento de imagens para a confecção de material didático sobre ludicidade afro-brasileira. Aproximando as escolas urbanas da realidade das comunidades quilombolas da Amazônia paraense.
RESULTADOS E DISCUSSÃO:
Foram realizadas 7 entrevistas com moradores idosos das comunidades remanescentes de quilombos inseridas no levantamento. Os dados indicam que a ludicidade não surge imediatamente ligada a brincadeiras ou jogos específicos, mas principalmente da interação com a natureza, com trabalho na lavoura, com as festas religiosas – festas de santo – e com o pequeno tempo vivido na escola.
Os entrevistados, com idades entre 70 e 80 anos, narraram uma infância na qual o nadar no rio, o correr no mato, o colher frutas e caçar pequenos animais deram o colorido da infância.
O trabalho também se mistura as lembranças e surge como elemento lúdico. Há um brincar de trabalhar, que já era trabalho junto aos pais na lavoura, mas também era espaço de sorrisos com as outras crianças.
A ludicidade se torna vivência religiosa pelos folguedos vividos nas festas de santo, no arraial, no cordão de boi, etc. música, dança e risos, em uma ludicidade que se espelha pelo corpo.
Por fim surge a escola, tão pouco vivida que nela mal aprenderam a assinar o nome, mas que deixou marcas profundas e contraditórias na memória. É da escola a lembrança amarga da palmatoria e das surras. É da escola a lembrança das cirandas que marcaram a infância, como a ciranda da princesa, cantada por um dos entrevistados.
CONCLUSÕES:
O estudo evidenciou que a ludicidade africana e afro-brasileira constitui-se como um tema emergente, no contexto da educação das relações etnicorraciais, não se constituindo em tema de fácil acesso no Brasil, pela “escassez de pesquisas sobre a questão”. (Santos, 2010).
Além disso, a revisão de literatura e a pesquisa de campo evidenciam que não é possível delimitar a ludicidade negra a um conjunto fechado de jogos, folguedos e brincadeiras. Aliás, nem é possível falar de uma ludicidade exclusivamente africana ou afro-brasileira, “em virtude dos processos de trocas e misturas culturais, muitas vezes violentos, impostos pela colonização da África e pela lógica da diáspora”. (CUNHA, 2011.p 8).
Assim, a ludicidade negra se confunde com a própria cultura afro-brasileira. Com os diferentes modos de vidas, costumes e tradições dos negros e pardos do Brasil. O levantamento da infância nos quilombos nos releva que a ludicidade desses espaços é atravessada pela vivencia desses espaços. A natureza é tanto brinquedo, quanto espaço de trabalho, luta e lazer. Tudo junto.
A ludicidade das comunidades remanescentes de quilombolas inseridas no estudo evidencia a relação com a terra que marca esses grupos e os tornam, na radicalidade do termo, “povos da floresta”.
Campo 11: Autorização legal
Palavras-chave: Quilombos, História, africanidades.