65ª Reunião Anual da SBPC
G. Ciências Humanas - 7. Educação - 4. Educação Básica
RELAÇÕES DE GÊNERO E PRÁTICAS EDUCATIVAS: UMA ANÁLISE SOBRE A EDUCAÇÃO NO DIA-A-DIA DE UMA SALA DE AULA
Wanessa de Assis - Depto. de Educação – UFV
Kíria Lúcia de Carvalho - Depto. de Educação – UFV
Silvana Claudia dos Santos - Profa. Ms.Orientadora - Depto.de Educação – UFV
INTRODUÇÃO:
Quando se determina que o objeto de um estudo será a escola, encontramos diferentes enfoques para análise: as políticas educacionais, as relações escolares, a prática pedagógica, a gestão administrativa, a formação docente, os processos avaliativos, entre outros. O ambiente escolar é rico em situações que nos permitem um estudo, uma reflexão e neste contexto de diversidade de abordagens, as relações presentes no cotidiano escolar são elementos chave para a construção de identidades. A escola não se apresenta como uma instituição estática, pelo contrário, a cada dia reconstrói sua história, pois é convidada a encarar novos desafios e demandas, sejam elas burocráticas e/ou pedagógicas. Em seu cotidiano as relações entre seus diferentes sujeitos – direção, professores, alunos, funcionários e família – precisam ser cuidadosamente construídas e trabalhadas. Sendo assim, há que se discutir sobre as relações de gênero existentes no cotidiano escolar, bem como suas implicações no ensino dos educandos. O âmbito escolar carece de discussões de gênero para melhor lidar com as relações que vivencia, para não perpetuar ainda mais as desigualdades e opressões construídas historicamente e tão presentes na sociedade atual.
OBJETIVO DO TRABALHO:
Apresentar e analisar algumas situações vivenciadas ao longo do ano de 2012 por professores e alunos/as de uma sala de aula de 3o ano do ensino fundamental, de uma escola periférica da cidade de Viçosa/MG, a fim de buscar indícios que possibilitem o entendimento de como se dão as relações de gênero no cotidiano escolar, bem como as tensões entre as diferenças e identidades no ensino dos educandos.
MÉTODOS:
Para a realização do trabalho foram, inicialmente, relatadas e descritas algumas ações comportamentais de professores e alunos de uma turma de 3o ano do ensino fundamental de uma escola periférica, lócus de atuação do Pibid Pedagogia. Posteriormente, foi realizada uma pesquisa bibliográfica a cerca das relações de gênero, construindo uma breve análise histórica do tema e correlacionando-a com o cotidiano escolar. Essa análise pautou-se no diálogo com autores como SCOTT (1990), FOUCAULT (1988), PATEMAN (1993), entre outros. O trabalho se baseou no gênero enquanto categoria de análise, priorizando não apenas a descrição das diferenças no ensino de meninos e meninas, mas sim a compreensão dos motivos, das causas dessa diferença. Parte-se do princípio que o gênero é um elemento constitutivo das relações sociais e o desafio é desmascarar, desmistificar a representação quase que eterna do gênero enquanto binarismo.
RESULTADOS E DISCUSSÃO:
As discussões sobre gênero têm conquistado cada vez mais espaço nos trabalhos acadêmicos, principalmente a partir dos anos 90, pois é indiscutível sua relevância, sobretudo em locais como a escola, que se configura como lugar privilegiado para as construções de relações sociais e culturais. Historicamente, o conceito de gênero surge em meio aos movimentos feministas, por volta da década de 70 do séc. XX, e era utilizado como forma de referência à organização e construção das relações entre os sexos, não pautado nas diferenças biológicas, mas nas sociais e culturais. Contrapunha-se às interpretações meramente biologistas e procurava-se entender como foram construídas socialmente as desigualdades entre homens e mulheres. Entretanto, o que se evidencia, especialmente no âmbito escolar, é a reprodução das diferenças sexistas. Prioriza-se, por meio de um discurso de poder, um certo comportamento para meninas e meninos, parte-se do princípio de que na sala só existem sujeitos heterossexuais e que atendem aos “padrões” estabelecidos e legitimados pela sociedade. A escola, assim como a ciência, acaba sendo para os sujeitos nela envolvidos, principalmente para os estudantes, um regime de verdade que por meio de seus discursos e práticas normatizam comportamentos, valores e atitudes.
CONCLUSÕES:
Ao se estudar gênero, patriarcado, identidade e papéis sociais percebemos o quanto as desigualdades sexistas estão presentes no cotidiano. Mesmo havendo avanços na busca pela igualdade, principalmente com os movimentos feministas, ainda se observa a reprodução das diferenças com as quais vivemos historicamente. Não é uma tarefa fácil agir de maneira diferenciada quando o meio acaba nos impondo um padrão, onde predominam atitudes e convenções sociais discriminatórias. Contudo, minimizar essas desigualdades deve ser nosso foco, sobretudo quando somos educadoras. A escola é uma instituição legitimada para a construção do conhecimento, para a formação e desenvolvimento humano. É composta por uma complexa rede de relações, as quais podem produzir, reproduzir e ressignificar atitudes discriminatórias. Nas salas de aulas é comum evidenciarmos separações e diferenças no tratamento de meninos e meninas, bem como a reprodução de comportamentos, valores, atitudes esperados socialmente. Cabe à instituição questionar e repensar as diferenças, pois as mesmas não passam de construções sociais para afirmar e manter as relações de poder. Deve-se priorizar a formação de indivíduos que não façam alusão a uma sociedade preconceituosa e desigual, mas sim referência à democracia e a justiça.
Palavras-chave: Cotidiano Escolar, Práticas de Ensino, Desigualdades Sexistas.