65ª Reunião Anual da SBPC
C. Ciências Biológicas - 14. Zoologia - 6. Zoologia
Ocorrência da Lontra Neotropical, Lontra longicaudis (Olfers, 1818), em um gradiente altitudinal no Rio das Pombas, Parque Nacional de Saint- Hilaire/Lange, Serra da Prata, PR
Camile Letícia Cordeiro dos Santos - Graduanda em Gestão Ambiental pela UFPR Litoral
Juliana Quadros - Professora Adjunta, UFPR Litoral
Rodrigo Filipak Torres - Analista Ambiental, ICMBio, Parque Nacional de Saint-Hilaire/Lange
Luiz Francisco Ditzel Faraco - Analista Ambiental, ICMBio, Parque Nacional de Saint-Hilaire/Lange
Beatriz Nascimento Gomes - Analista Ambiental, ICMBio, Parque Nacional de Saint-Hilaire/Lange
INTRODUÇÃO:
A Mata Atlântica abrangia aproximadamente 1.000.000 km2. Atualmente está entre os 25 hotspots mundiais das regiões mais ameaçadas do planeta. A maior porção de seus remanescentes encontra-se na região litorânea do Paraná, abrangendo desde a Floresta Ombrófila Densa das encostas até e planície litorânea caracterizada pela vegetação aluvial e de terras baixas, formações pioneiras como brejos, manguezais e restingas. A hidrologia local é constituída de rios com águas claras e rasas, de fluxo rápido e fundo rochoso nas partes montanhosas. Já na planície os rios tornam-se mais escuros, profundos e meândricos, sofrendo constantemente influência das marés nas porções mais próximas da foz. Esses rios são habitados pela Lontra Neotropical, mustelídeo semiaquático de médio porte, que possui ampla distribuição geográfica (norte do México ao Uruguai) e altitudinal (nível do mar a 3000 m). No Paraná encontra-se ameaçada de extinção na categoria vulnerável. São ameaças a caça, a poluição da água, a escassez de alimentos e a degradação e destruição de seus habitats devido a superexploração dos recursos naturais, crescimento da urbanização, especulação imobiliária e atividades econômicas agropecuárias e industriais.
OBJETIVO DO TRABALHO:
Esta pesquisa teve por objetivo avaliar a distribuição altitudinal da Lontra Neotropical, Lontra longicaudis (Olfers, 1818), ao longo do Rio das Pombas, litoral do Paraná.
MÉTODOS:
O Rio das Pombas nasce na vertente leste da Serra da Prata, dentro do Parque Nacional de Saint-Hilaire/Lange (PNSHL), de onde corre para a planície e torna-se um tributário do Rio Vermelho, bacia do Rio Guaraguaçu. O trecho estudado apresenta 3 km e está localizado entre 60 m e 420 m de altitude, no PNSHL, em área de encosta bem conservada e com elevada diversidade biológica. Aproximadamente no meio do trecho estudado há três quedas d’água intransponíveis pela equipe inviabilizando a revisão de cerca de 300 m. Portanto, o trecho amostrado foi de 2,7 km. Para análise dos dados, o trecho estudado foi dividido em superior (S), acima da cachoeira; e inferior (I), abaixo da cachoeira. As idas a campo ocorreram nos meses de agosto, setembro, outubro e dezembro de 2012, e fevereiro de 2013. O esforço amostral foi de 7,5 km percorridos no trecho S, e 6 km no trecho I. Foram registrados ou coletados vestígios (tocas, arranhados, pegadas e fezes) presentes nas margens do rio percorrido a pé por duas duplas, sendo uma em cada margem. Os vestígios encontrados foram georreferenciados, fotografados e as fezes foram coletadas. Os pontos foram plotados em imagem por meio do software ArcGis. Para comparação do número de vestígios entre S e I foi utilizado o teste do Qui-quadrado.
RESULTADOS E DISCUSSÃO:
No trecho S, foram observados 13 pontos com vestígios, sendo que havia fezes em todos. Quatro correspondem a sinais de utilização em tocas, e não foram registradas pegadas ou arranhados. No trecho I, foram observados 27 pontos com vestígios, dos quais 21 correspondem a registros em tocas, havia fezes em 10 pontos, arranhados em 10 pontos, e pegadas em 10 pontos. Comparando o número de pontos com vestígios em S e em I (Qui-quadrado= 4,45) observou-se que foram encontrados significativamente mais vestígios abaixo da cachoeira do que acima. Acrescenta-se a isso que em S foram localizadas apenas três tocas confirmadas pela presença de sinais de utilização recente, e em I foram localizadas nove tocas também com sinais de utilização. Diversos fatores ambientais podem estar influenciando negativamente a ocorrência da lontra no trecho S, como declividade das margens e leito do rio, parâmetros físico-químicos da água, disponibilidade de alimento e de locais para construção de tocas, e impossibilidade de transpor a cachoeira, a qual representaria uma barreira geográfica. Protocolos de pesquisa que visam estudar essas variáveis estão sendo desenvolvidos. Observações pessoais da equipe indicam uma maior disponibilidade de presas (peixes e crustáceos) em áreas mais planas do Rio das Pombas.
CONCLUSÕES:
Há um indicativo de que a cachoeira representa uma barreira física para o deslocamento das lontras pelo Rio das Pombas, reduzindo sua ocorrência no trecho acima das quedas d’água. Acrescenta-se a isso o fato de que nas áreas de planície abaixo do trecho de rio estudado, porém, contíguo a este, há evidências de maior disponibilidade de alimento.
Logo, contrapondo-se aos dados presentes na literatura no que se refere a sua ocorrência em grandes altitudes, é possível que na Floresta Atlântica de encosta, em declives acentuados e maior altitude, a ocorrência das lontras seja mais escassa ou mesmo nula. A partir dessas hipóteses, pretende-se intensificar os estudos nas áreas de planície, a fim de testar a hipótese de maior ocorrência nestas regiões e compreender os fatores ambientais determinantes.
Palavras-chave: Floresta Atlântica, Litoral do Paraná, Espécies Ameaçadas.