65ª Reunião Anual da SBPC
G. Ciências Humanas - 7. Educação - 12. Ensino de Ciências
COMO PROFESSORES DE CIÊNCIAS DO ESTADO DE SÃO PAULO REPRESENTAM O PLANETA TERRA?
Flávia Polati Ferreira - Mestranda do Programa de Pós-Graduação em Ensino de Ciências – PPGEC/USP
Cristina Leite - Profa. Dra./Orientadora - Depto. de Física Experimental – IF/USP
INTRODUÇÃO:
O Sistema Solar é um dos temas da Astronomia mais abordados em sala de aula tanto pelos livros didáticos de Ciências quanto por professores de Ciências do ensino fundamental. Porém, a forma mais comum de ensinar estes conteúdos é através da memorização e poucas são as atividades que envolvem a representação de modelos em três dimensões ou de desenhos. A dificuldade tanto de crianças quanto de professores em perceber a forma tridimensional do planeta Terra, por exemplo, é apresenta nos trabalhos nacionais e internacionais de Nussbaum e Novak (1976), Mali & Howe (1979), Baxter (1989), Nardi e Carvalho (1996), Bisch (1998) e Leite (2002), dentre outros. Tais trabalhos evidenciam que as noções de Terra de crianças e adolescentes do ensino fundamental em distintas culturas variaram desde a forma plana até esférica. Mesmo os estudantes que representam a Terra na forma esférica alguns demonstravam dificuldades em localizar nosso planeta num espaço limitado e de apresentar a direção vertical “para baixo” apontada sempre para o centro da Terra. Ainda, indicam que a evolução das noções mais próximas da atualmente aceita ocorre à medida que a escolaridade e idade aumentam. Desta maneira, neste trabalho busca-se compreender como professores de Ciências representam o planeta Terra.
OBJETIVO DO TRABALHO:
O objetivo central deste trabalho é apresentar algumas maneiras como professores de Ciências do Estado de São Paulo representam o planeta Terra, evidenciando representações dos professores investigados e estabelecendo paralelos entre aquelas encontradas nos estudantes relatadas pelos trabalhos citados. Espera-se contribuir com pesquisas e cursos de Astronomia para a formação de professores.
MÉTODOS:
Os dados foram obtidos em um curso de formação continuada de professores que ocorreu durante uma semana, com 40 horas-aula, nas dependências da USP. Utilizou-se nesta pesquisa a metodologia qualitativa de investigação (Bogdan e Biklen, 1994), do tipo estudo de caso. A análise dos dados se constituiu através da análise conteúdo proposto por Bardin (1995) para interpretação da descrição das repostas dos professores. As maneiras como os professores investigados representaram o planeta em que vivemos e seus elementos foram descritas na atividade denominada O que significa morar no planeta Terra? Através da questão Como vocês representam (em um desenho) o planeta em que moramos, juntamente com duas pessoas localizadas no hemisfério Sul e Norte, obtivemos os resultados desta pesquisa. Dentre os 18 professores que responderam esta questão, grande parte deles ministra aulas em escolas públicas e apenas 5 em escolas privadas. A disciplina e o nível escolar que os professores atuam refletem um espectro diversificado, em que 7 deles afirmaram ministrar a disciplina de Física; 8 de Ciências; 2 de Química; 1 de Geografia; 4 de Matemática; 2 de Biologia e 2 de Filosofia.
RESULTADOS E DISCUSSÃO:
Grande parte dos professores (17 deles) representaram a Terra como uma circunferência. Apenas um professor desenhou elementos vivenciáveis do cotidiano, sem que mantivesse preso a forma circular de nosso planeta. Os demais professores buscaram representar um circulo perfeito (10) ou achatado (7). Nas situações em que os polos eram representados de maneira achatada, alguns desenhos remetem a ideia de um planisfério ou com um leve achatamento nos pólos, em um pequeno plano em que estariam situadas as pessoas. Em todos os desenhos os professores procuraram representar também os continentes do planeta. Grande parte dos professores representaram pessoas dentro desta circunferência (14). Embora houvesse apenas 4 professores que representaram as duas pessoas na superfície da Terra, corretamente, todos eles representaram sujeitos próximos aos pólos Sul e Norte. Tal perspectiva revela a necessidade de um plano para nossa morada, e ainda, certa dificuldade em desenhar pessoas nas regiões próximas ao equador e assim considerar a orientação das mesmas para o centro da Terra, de maneira se mantenham “em pé”, sem cair. Houve apenas um professor que representou as pessoas “dentro” da Terra, como “pontos”, evidenciando uma perspectiva de observação através de um ponto perpendicular a Terra.
CONCLUSÕES:
Nesta pesquisa relata-se que muitas das noções sobre o planeta Terra encontradas nas pesquisas citadas também estão presentes nas representações feitas por professores de Ciências do Estado de São Paulo, como exemplo, a dificuldade de representação de pessoas na superfície da Terra com a direção vertical correta. Outra característica apresentada pelos professores é a noção de Terra com um exagerado achatamento nos pólos, que se assemelha aos modelos de planisférios que costumam aparecer nos livros didáticos e atlas geográficos – fonte de formação e informação para muitos professores da atualidade. Os resultados relatados neste trabalho reforçam a necessidade de trabalhar as noções de Terra esférica, associada à nossa vivência cotidiana, em pesquisas e cursos de Astronomia para a formação de professores de Ciências. Afinal, somos moradores do planeta e, como tal, nosso olhar para o mesmo precisa ser considerado no processo de ensino-aprendizagem das Ciências.
Palavras-chave: Ensino de Astronomia, Formação de Professores, Planeta Terra.