65ª Reunião Anual da SBPC
G. Ciências Humanas - 4. Geografia - 1. Geografia Humana
ESPAÇO, LUGAR E URBANO: UMA ABORDAGEM A PARTIR DO NÍVEL DO VIVIDO ENTRE OS ESTUDANTES DO ENSINO MÉDIO EM VIÇOSA, MG
Inácio Alves de Amorim Junior - Mestrando - EDUCIMAT - IFES
Ronan Eustáquio Borges - Prof. Dr./Orientador - Depto. de Geografia, UFG
Carlos Roberto Pires Campos - Prof. Dr./Co-orientador - EDUCIMAT - IFES
INTRODUÇÃO:
Estudar a cidade e o espaço urbano requer uma análise que vai além da simples percepção do olhar. Sendo a cidade palco de disputas e contrastes, em razão da enorme disparidade que existe na distribuição dos recursos e da renda, a qual, por sua vez, reflete vários conflitos sociais, cabe ao observador proceder a um recorte das diferentes situações vividas no espaço urbano e analisá-las a partir de diferentes perspectivas. O cotidiano pode ser considerado uma perspectiva, isso, porque representa o espaço vivido e o presente vivido. As aspirações, as diferentes visões de mundo do ser humano transparecem em seu comportamento, assim como na organização de sua vida e de seu espaço habitado e vivido.
Este trabalho propõe uma leitura analítica a partir do espaço vivido, com a intenção de perceber como ocorre a dinâmica do elemento humano com seu espaço cotidiano. A escolha da cidade de Viçosa como palco do tema a ser explorado ocorreu devido a nossa experiência enquanto aluno do curso de Geografia da UFV, e também como professor da educação básica de algumas escolas desse município.
Portanto, essa dicotomia de usos do espaço do centro da cidade pode ser explicada pelos estudantes do ensino médio das escolas (públicas e privadas) de Viçosa, a partir dos relatos dos seus espaços vividos.
OBJETIVO DO TRABALHO:
Pôr em discussão o cotidiano espacial a partir do nível vivido daqueles que nasceram e que moram na cidade de Viçosa, em outras palavras, o espaço vivido. Para tanto, escolhemos estudantes do ensino médio como sujeitos da pesquisa, pelo fato de manter contato bem próximo como alguns deles em nossa recente experiência como professor de educação básica na cidade de Viçosa.
MÉTODOS:
Com base no material coletado, por meio de questionários e observação sistemática, e nas informações cedidas pelos alunos das diferentes escolas, procuramos tabular e analisar os dados em gráficos e textos das áreas vividas e freqüentadas por eles. A partir do conceito de cidade, urbano e lugar, aliado às informações cedidas pelos estudantes do ensino médio, buscamos alcançar tanto quanto possível o espaço vivido desses estudantes, e como eles encaram e percebem o espaço experienciado e vivido em seu cotidiano.
A análise bibliográfica se deu após reflexões em sala de aula do curso de graduação em Geografia. Alguns autores como Henri Lefebvre, Flávio Villaça, Ana Fani A. Carlos, Yu-Fu Tuan e Raquel Rolnik ofereceram a base teórica para a discussão.
Diante da diversidade e quantidade de escolas da educação básica em Viçosa, escolhemos cinco escolas para serem pesquisadas, a partir do critério de conveniência. Duas são da rede publica (Escola Estadual Effie Rolfs e Santa Rita de Cássia) e três do ensino privado (Colégio do Carmo, Ágora e Anglo). A partir daí passamos para a terceira etapa que foi a aplicação dos questionários e a elaboração de mapas mentais de interesse demonstrados por parte dos estudantes do ensino médio das escolas selecionadas.
RESULTADOS E DISCUSSÃO:
Antes de tudo é preciso considerar a paisagem uma construção humana, em que se relacionam questões do ambiente social, assim, é possível compreender a maneira como as paisagens se conformam ao uso humano. A cidade surge como um meio físico que é transformada em uma nova realidade, o espaço social: humanizado, econômico, habitacional, político, territorial, entre outros. Isso ocorre como resultado de uma ordenação imaginada a partir de modelos mentais de espaços propícios para a vivência dos mesmos atores. Assim, quando pretendemos investigar os mapas mentais de modelos de interesse, pretendíamos chegar à dimensão simbólica que compõe parte essencial da paisagem social.
O material de representação do espaço produzido revelou a grande influência do centro como área de atração dos diferentes públicos pela sua funcionalidade e localização. Contudo, essa atratividade pode representar uma descontinuidade em relação ao espaço vivido, principalmente por aqueles que não podem usufruir das vantagens dessa localização privilegiada.
Apesar disso, uma outra dinâmica urbana foi também constatada, baseada nos laços de afetividade e identificação com o espaço. Esse caráter afetivo da dinâmica urbana englobou também locais pouco considerados e evidenciados da cidade como as áreas periféricas.
CONCLUSÕES:
O espaço vivido pode variar de amplitude e escala dependendo de como determinados atores sociais, em seu respectivo segmento social, vivem e concebem esse espaço. A análise das cidades passa pela condição socioeconômica do cidadão, mas não é característica única nesse tipo de observação, como afirma Carlos (2001), pois o elemento humano é peça fundamental na concepção, construção e compreensão das cidades. Nessa perspectiva, de acordo com Yi-Fu Tuan (1983), a questão da identidade e pertencimento baseada na experiência cotidiana do cidadão é uma dinâmica importante dentro desse contexto urbano, e irá determinar a dimensão espacial desse lugar. O espaço vivido pode ser, então, somente uma rua, uma praça, um bairro, somente o centro da cidade ou até mesmo a cidade inteira, dependendo em que nível se encontram as possibilidades de relação, identificação e pertencimento com o local em que se vive e em que dimensão espacial essa rede de relações alcança.
A categoria de análise do lugar enquanto espaço vivido no nível do próximo, do particular, possui, dessa forma, sua importância na geografia, uma vez que considera tanto o elemento humano em seu cotidiano como o elemento econômico e espacial.
Palavras-chave: Paisagem urbana, Mapa mental, Cotidiano.