65ª Reunião Anual da SBPC
H. Artes, Letras e Lingüística - 3. Literatura - 4. Literaturas Modernas
A PRESENÇA DE NIETZSCHE NUM CONTO DE ANTÓNIO PATRÍCIO
Ytanajé Coelho Cardoso - Profo. Dr./Otávio Rios Portela - Dept. de Literatura Portuguesa
INTRODUÇÃO:
Ao analisarmos o conto “Diálogo com uma águia”, de António Patrício (1878-1930), escritor e poeta português, podemos observar imagens que nos direcionam para uma concepção decadentista permeada de conceitos nietzschianos, através dos quais a realidade da época se manifesta de forma desolada ante o falacioso projeto do progresso positivista. Este trabalho é resultado de algumas leituras e reflexões propostas pelo Programa de Apoio à Iniciação Científica-AM-2012/2013, com financiamento da FAPEAM, cujo título do projeto, “Ruínas Finisseculares: a escritura decadentista de António Patrício” surge como uma oportunidade de investigação de uma escrita ainda pouco explorada pela crítica, talvez por razões político-ideológicas como sugere Moisés. Entretanto, a riqueza de pormenores e as possibilidades de interpretações não se esgotam. É pensando nisso que lançamos nossa análise sobre o conto de Patrício, na tentativa de depreendermos as ressonâncias de Nietzsche no conto patriciano, e como essas reverberações moldam uma estética de fim-de-século.
OBJETIVO DO TRABALHO:
O presente trabalho tem como objetivo evidenciar, por meio do conceito da “morte de Deus”, de Nietzsche, o niilismo que ecoa na tessitura do conto “Diálogo com uma águia”, de António Patrício, e como essa manifestação de negação moral acaba por caracterizar uma estética decadentista.
MÉTODOS:
Esta investigação se inscreve como pesquisa de iniciação científica de caráter bibliográfico. Assenta-se, portanto, nas leituras individuais e coletivas, discussões em grupo realizadas nas reuniões periódicas do projeto, fichamento e produção de resenhas das obras teóricas estudadas e da fortuna crítica dos textos literários elegidos, assim como do corpus bibliográfico em si. Portanto, O alicerce teórico desta reflexão compreende leituras tais como: Monteiro (1997), Bittencourt (2011), Lopes (1994), Vattimo (2010) e, é claro, Nietzsche (2012) e Patrício (2000).
RESULTADOS E DISCUSSÃO:
Debruçar-se sobre o conto “Diálogo com uma águia” nos incitou a uma instigante analogia com o pensamento de Friedrich Nietzsche, para o qual convergem não só a literatura de Patrício, mas também grande parte da literatura portuguesa finissecular. Sendo assim, esta comunicação procurou evidenciar a presença de Nietzsche num conto de António Patrício, através do qual o niilismo se afirmará como ferramenta na produção de uma estética decadentista. Dessa forma, tomando o conceito da “morte de Deus”, claramente niilista, podemos perceber que a personagem águia é a própria imagem deste conceito, haja vista que a ave, além de ser descendente de outra que cravara as garras no peito de Cristo, guarda um segredo que desconcertaria a fluxo das motivações humanas, qual seja, o de que Jesus teria confessado seu arrependimento por ter sacrificado a si próprio para que a humanidade pudesse viver. Mas o ponto máximo desse niilismo evidencia-se na frase: “Levava-me ao suicídio essa águia velha”, quando a águia convence o narrador de que o mundo em que este vive não passa de uma ilusão, levando-o ao suicídio. Assim sendo, temos uma estética cujo plano de fundo é o rompimento com uma verdade etérea, ocasionando um momento de crise na estrutura psíquica do homem, que acaba por decretar a “morte de Deus” através da sua própria, como fez o narrador.
CONCLUSÕES:
O niilismo foi uma manifestação, sem dúvida, bastante recorrente no pensamento decadentista finissecular, visto que vários fatores incitaram o surgimento de um sentimento de revolta, de desprezo à condição humana pela degenerescência dos valores morais, em fim, pela descrença no novo projeto que despontava no espírito da sociedade não só portuguesa, mas de todo o mundo, ou seja, o Positivismo. Destarte, Patrício utilizou-se do niilismo para caracterizar sua escrita, enlevada por ressonâncias nietzschianas, cujo tecido textual desenvolve o conceito de “Assim falava Zaratustra”, ou seja, a “morte de Deus”, segundo o qual as certezas e as crenças em valores morais estão passando por uma crise, manifestação fortemente afirmada no conto “Diálogo com uma águia”.
Palavras-chave: Niilismo, Morte de Deus, Decadentismo.