65ª Reunião Anual da SBPC
G. Ciências Humanas - 3. Filosofia - 2. Filosofia
CINEMA DE ANIMAÇÃO E EDUCAÇÃO: POSSIBILIDADES DE ANÁLISE CRÍTICA E CRIAÇÃO ESTÉTICA NO ENSINO FUNDAMENTAL
Cláudio Emanuel dos Santos - CP/EBAP/UFMG
Thiago Franco Ribeiro - CP/EBAP/UFMG
INTRODUÇÃO:
O presente trabalho teve como meta propiciar uma interface entre o cinema de animação e a disciplina Filosofia, através de uma reflexão crítica da realidade social brasileira; além de abrir um campo significativo na reflexividade da imagem pelos adolescentes e mesmo tempo estabelecer um processo educativo efetivo, dialógico e criativo.
Tendo em vista as profundas rupturas e rearranjos ocorridas no campo da tecnologia e nas formas de reestruturação da economia no âmbito mundial, um quadro paradoxal se delineia: as experiências sociais são perpassadas pelos recursos e meios tecnológicos e ocorre a aceleração e o aprofundamento dos níveis de precariedade para grande parte da população mundial. Tal quadro, dentre outros fatores, tem instituído um campo de no que tange às questões da diversidade, de consolidação de projetos coletivos, de desafios da formação humana e da justiça social nas metrópoles urbanas.
Numa perspectiva provocativa, a partir da Disciplina Introdução á Filosofia voltada para 90 adolescentes entre 12 a 13 anos, foi construída uma via de análise profunda sobre os dilemas e possibilidades do paradoxo apontado acima. Para tanto, um enfoque teórico-prático- reflexivo-sensível foi colocado em movimento, no sentido de propiciar o debate e provocar reflexões críticas sobre a maneira que as questões de subjetividade são atravessadas pelos adolescentes, na problematização das questões básicas da vida dos homens a partir da produção e criação de filmes pelos alunos.
OBJETIVO DO TRABALHO:
A experiência tem como objetivos ampliar os níveis de conhecimento dos alunos fazendo com que eles apliquem na prática das Artes e Animação as reflexões criticas propostas na teoria da Filosofia; desenvolver o desejo de experimentar a arte de criar histórias através do Cinema de Animação; desenvolver a Criatividade; provocar a conscientização das regras sociais através do enfoque teórico-prático.
MÉTODOS:
O projeto de interdisciplinaridade entre cinema e filosofia, desenvolvido em 2009 no CP/EBP/UFMG, tem como proposta primordial a produção de curtas metragens pelos alunos para discutir temas de sociologia e filosofia, numa perspectiva critica, apresentados em sala.
A proposta foi desenvolvida em etapas: Introdução à Filosofia constituindo dinâmicas de análises e reflexão (debates, rodas de conversas, apresentações de trabalhos coletivos e síntese compartilhada) no sentido de trazer em evidência os temas sociais, a percepção dos limites e das contradições e sua superação mediante formas mais criativas de se viver o humanamente concreto. Esse processo foi realizado numa interface efetiva e significativa com a produção cinematográfica disponível (“Boca de Lixo”, “Ilha das Flores”, “Estamira”, “Crianças Invisíveis” etc.) que possibilitava os alunos o contato com outras abordagens imagéticas do real e a configuração de uma prática pautada na reflexividade e na sensibilidade. A segunda etapa implicou na divisão dos alunos em pequenos grupos como objetivo de desenvolverem suas temáticas e a partir delas a construção e a concepção dos roteiros de seus curtas-metragens em animação. Para tanto, foram desenvolvidos os roteiros e as possibilidades estéticas que as diferentes técnicas de animação trariam a cada filme.
Os professores buscaram incentivar produções ligadas aos temas sociais relevantes abordados, como o racismo, desigualdades e violência contra a mulher e adolescentes.
RESULTADOS E DISCUSSÃO:
O principal resultado imediato obtido foi o curta-metragem: “Quanto Vale?”, dir.: Alice Mesquita, Belo Horizonte, 2009.
É importante ressaltar que incialmente o projeto proposto era a prática na ampliação do olhar do alunos sobre os temas propostos na Introdução à Filosofia. Os professores envolvidos tinham em mente os desafios que o número excessivo de alunos envolvidos iria gerar, principalmente pela falta de espaço e organização estrutural da escola para determinados fins de produção de animação – estrutura física, materiais dispostos, apoio institucional e o tempo que demanda a realização de uma animação.
Essas limitações encontradas se tornaram fundamentais para a estética e consolidação da proposta. Os alunos realizaram suas produções, em geral curtas de animação, com as limitações oferecidas pela escola, usando de materiais descartáveis como elementos dos filmes e os filmes repesados a partir dos elementos disponíveis para suas produções. Essas soluções estéticas e técnicas encontradas apontaram um desdobramento diferenciado do fazer e crítica antes vistos pelos alunos, como por exemplo na apropriação de tijolos pintados em cores diversas e compostos em cenários que ilustrassem a favela brasileira.
Isso fundamenta a nossa idéia em que os processos são de fundamental importância assim como os produtos obtidos.
CONCLUSÕES:
Assim, a experiência e prática de Ensino Aprendizagem com adolescentes do CP/EBAP/UFMG, na interdisciplinaridade entre a Filosofia e o Audiovisual constituiu-se produções e processos audiovisual voltados para uma metodologia de estudo, discussão e elaboração de roteiro, técnicas de edição, montagem e produção, comprometidas com os estudos e criticas sociais por meio da formação da consciência reflexiva.
Percebemos que os alunos estão dispostos a reverem valores e atitudes cristalizados em nossa sociedade a respeito das questões da diversidade e seu papel na pluralidade da realidade social brasileira e estão se lançando em novos aprendizados nas atividades em sala de aula.
Precisamos unir esforços com professores de matérias diversas para que os alunos não sejam essa diversidade como mais um ‘problema social’, mas como uma sociedade com sujeitos diferenciados que tem maior capacidade produtiva e expressiva.
A experiência também nos levou a perceber que nos grupos diversos de alunos verificamos verdadeiros espaços democráticos, onde a proposta diversificada interdisciplinar ampliou oportunidades de acesso e capacidade critica dos alunos sobre os temos sociais abordados.
Palavras-chave: Filosofia, Artes, Experiências.