65ª Reunião Anual da SBPC
F. Ciências Sociais Aplicadas - 3. Economia - 7. Economia Regional e Urbana
O ALGODÃO COLORIDO E SEUS IMPACTOS SOBRE A COMPETITIVIDADE DO ESTADO PARAIBANO
Thayse Andrezza Oliveira Do Bu - Depto. de Ciências Econômicas – UFCG
Cryslãine Flavia da Silva Rodrigues - Depto. de Ciências Econômicas – UFCG
Camila Lilian Andrade Chang - Depto. de Ciências Econômicas – UFCG
Carlos Alberto da Silva - Prof. Dr./ Orientador - Depto. de Ciências Econômicas – UFCG
INTRODUÇÃO:
Em meio a um cenário em que, ao longo dos últimos dez anos, se verifica uma crescente valorização e difusão dos discursos de especialistas e da mídia em torno do tema “sustentabilidade ambiental”, o estado da Paraíba tem assumido papel de destaque pelo seu pioneirismo em cultivar o algodão naturalmente colorido para a transformação em têxteis e confecções. Isto justamente porque, possibilitado pelos decisivos esforços públicos de pesquisas realizadas, desde o final dos anos de 1980, pela principal instância em que vem ocorrendo a conquista científica das variedades coloridas de algodão no Brasil – qual seja: o Centro Nacional de Pesquisa do Algodão (CNPA) da Empresa Brasileira de Pesquisas Agropecuárias (EMBRAPA) –, o referido tipo de algodão dispensa o uso de qualquer corante artificial nos processos de transformação das suas fibras em produtos manufaturados. Considerando-se que, de acordo com a teoria schumpeteriana e os seus desdobramentos, as inovações, no âmbito das economias capitalistas, constituem importante elemento de diferencial competitivo entre as empresas, a presente pesquisa representa uma relevante contribuição ao entendimento da importância da inovação nas fibras do algodão naturalmente colorido paraibano para a ampliação da competitividade do Estado.
OBJETIVO DO TRABALHO:
A partir do entendimento dos fatores que levaram à busca por uma nova variedade de algodão naturalmente colorido na Paraíba, a presente pesquisa teve como objetivo estudar os efeitos gerados sobre a competitividade do Estado pela inovação nas fibras do algodão de cor oriundas das pesquisas, promovidas pelo CNPA, de melhoramento genético deste insumo têxtil.
MÉTODOS:
O presente trabalho teve sua gênese a partir de uma revisão bibliográfica realizada no âmbito das disciplinas “Economia da Tecnologia” e “Formação Econômica do Brasil II” ministradas no curso de Ciências Econômicas da Universidade Federal de Campina Grande (UFCG), as quais instigaram o aprofundamento da temática. Nessa perspectiva, a metodologia utilizada na presente pesquisa constituiu-se num estudo de campo de caráter essencialmente exploratório, uma vez que foram realizadas visitas à EMBRAPA (situada na cidade de Campina Grande do estado da Paraíba), com vistas ao melhor entendimento dos estudos, promovidos pela mesma, que proporcionaram o melhoramento genético do algodão colorido, de modo a tornar a fibra mais resistente e assim, apta para a produção têxtil. Como procedimento para coleta e análise de dados, respectivamente, realizamos entrevistas com pesquisadores da EMBRAPA e adotamos como referencial teórico tanto a teoria schumpeteriana e seus desdobramentos como os conceitos sobre os principais tipos de inovação apontados no Manual de Oslo, desenvolvido pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE). Ademais, a pesquisa pode ser classificada como sendo de ordem puramente qualitativa.
RESULTADOS E DISCUSSÃO:
Observamos que o primeiro impulso na Paraíba à busca por novas variedades coloridas de algodão partiu do interesse apresentado por empresários têxteis japoneses que visitaram a EMBRAPA – Algodão, localizada em Campina Grande-PB, em 1989. Mediante a verificação da existência de uma potencial demanda de nichos de mercado, variedades comerciais do algodão de cor foram inventadas no CNPA através do cruzamento genético entre as amostras de algodão colorido do seu banco de germoplasma com espécies coloridas importados e variedades brancas de algodão, resultando nas linhagens comerciais dos seguintes algodoeiros possuidores de fibras com resistência adequada para o seu uso no processamento têxtil paraibano e de outros estados brasileiros: BRS 200, BRS Safira, BRS Rubi e BRS Verde. A supracitada inovação de produto deu origem a outras inovações (de produto, processos, mercadológicas, organizacionais e institucionais) que tiveram aplicação difundida não só na indústria têxtil e de confecções, mas também na indústria artesanal local, ou seja, na produção de elementos rústicos e tradicionais da cultural regional nordestina e paraibana. Por fim, verificamos que as referidas inovações, sobretudo as institucionais, representam importantes elementos de diferencial competitivo para a Paraíba.
CONCLUSÕES:
Percebeu-se que os seguintes fatores estruturais e conjunturais levaram à mercantilização do algodão colorido, quais sejam: a passagem do paradigma produtivo fordista para o de acumulação flexível/neoliberal e a significativa propagação do bicudo algodoeiro na Paraíba (1983-1984). Esses fatos, ao promoverem tanto a crise do complexo gado/algodão branco/culturas de subsistência como o acirramento da exposição dos produtores têxteis paraibanos à competição com outros mercados – sobretudo após abertura comercial do Brasil em fins da década de 1980 (concorrência com os asiáticos) –, obrigaram tais fabricantes a procurar um diferencial competitivo para reforçar a sua especialização produtiva. Tal diferencial foi possibilitado pelas inovações nas fibras do algodão colorido promovidas pelo CNPA e a aplicações das mesmas na produção têxtil, de confecções e artesanal se deu, a partir dos anos 2000, por meio da interação de diversas instituições paraibanas (estatais e privadas). De modo geral, as inovações mencionadas representaram novas oportunidades para as instituições públicas da Paraíba promoverem a reinserção competitiva internacional do estado em nichos de mercado que possibilitaram o aproveitamento de uma demanda crescente que se identifica com a causa ambiental e com o “exótico”.
Palavras-chave: Inovação, Interação institucional, Reinserção competitiva.