65ª Reunião Anual da SBPC
G. Ciências Humanas - 8. Psicologia - 6. Psicologia do Desenvolvimento Humano
O GRUPO FOCAL COMO UM MÉTODO DE APROPRIAÇÃO DA PERSISTÊNCIA PESSOAL E CULTURAL DOS ÍNDIOS XUKURU
Vanessa Cavalcanti de Torres - Autarquia Educacional do Belo Jardim - AEB
INTRODUÇÃO:
Compreender a persistência pessoal e cultural de indivíduos pressupõe a utilização da noção de continuidade do self que, segundo Chandler e Colaboradores, diz respeito ao processo de se reconhecer a mesma pessoa ou de resolver o “paradoxo” de continuar o mesmo, apesar das mudanças inevitáveis ocorridas no decorrer do tempo. Esses autores apontam em suas pesquisas que os aborígines do Canadá foram perdendo, ao longo da história de colonização do seu povo, o senso de pertencimento e envolvimento em relação ao local onde vivem. Nesse sentido, a percepção de uma identidade desconexa do contexto cultural pode favorecer dificuldades para resolver o dilema da continuidade na mudança. De forma semelhante ao que se observou em relação aos sujeitos da pesquisa de Chandler, o povo Xukuru passou por intensas mudanças, ao longo de sua história, resultando em conflitos e mortes. Em consequência, eles foram expulsos de seu território, só retomando há pouco mais de duas décadas, podendo estes acontecimentos terem favorecido processos de dificuldade em resolver o dilema de continuar o mesmo frente às mudanças inevitáveis da vida. Sendo assim, a análise dessa população, a partir de uma perspectiva dialógica, enfrenta o desafio de abarcar a dinâmica e poder construtivo do diálogo.
OBJETIVO DO TRABALHO:
Investigar na dinâmica dialógica do grupo focal, o sentido de persistência cultural dos índios Xukuru, através de uma análise dos aspectos que continuaram ou mudaram em suas vidas.
MÉTODOS:
Os participantes dessa pesquisa foram 11 indígenas da etnia Xukuru do Ororubá que residem na cidade de Pesqueira-PE, a moderadora (pesquisadora) e um observador. O trabalho seguiu todos os procedimentos éticos para seu desenvolvimento através da anuência do Cacique, FUNAI, FUNASA e autorização por parte do CEP e CONEP. O instrumento utilizado foi um grupo baseado na técnica do grupo focal. Este grupo utilizou um roteiro que servia de guia para a moderadora e o observador sobre os assuntos que faziam a composição do tema que estava sendo debatido. Além do grupo, todos e todas, responderam a um questionário sócio-demográfico, a fim de traçar um perfil dos participantes. O grupo foi audiogravado e videogravado, depois transcrito.
RESULTADOS E DISCUSSÃO:
A análise do resultado do diálogo construído no grupo focal baseou-se nos estudos propostos de Marková et. al. (2007), como um diálogo que é construído coletivamente através de uma livre circulação de ideias que propiciaram emergiar os conteúdos de persistência pessoal e cultural ao qual o estudo tinha como objetivo. O diálogo foi analisado através do dilema proposto, o framing e a circulação de ideias. Observamos que o dilema proposto – a continuidade e mudança desses indivíduos – assumiu a forma de uma discussão aberta. O framing caracterizou-se como um diálogo de reflexões de suas vidas e tradições. Com relação à circulação de ideias, identificamos cinco tópicos contendo alusão a diversos conteúdos semânticos relativos à “continuidade desses indivíduos frente às mudanças resultantes do processo de colonização sofrido”. Investigamos a trajetória tomada por estes tópicos e suas modificações no diálogo sobre o dilema referido. A análise aponta para o uso de citações literais de frases relembrados por eles, ao falar sobre o cacique falecido da aldeia. Foram identificados padrões globais de temas que exploram um conhecimento social compartilhado que sugerem representações sociais, razoavelmente estáveis, dos fatos traumáticos ocorridos.
CONCLUSÕES:
Evidenciou-se um padrão temático recorrente: a perseguição sofrida e as lutas travadas para retomada do território e de seus direitos. Todavia, sugere-se que os indivíduos diferem nas possibilidades de resolverem o dilema de continuarem os mesmos apesar das marcantes mudanças sofridas. Encontraram-se padrões de resistência à mudança ao lado de uma maior flexibilidade em aceitá-las e, assim, desenvolverem perspectivas para o futuro.
Palavras-chave: Persistência pessoal e cultural, Índios Xukuru, Grupo focal.