65ª Reunião Anual da SBPC
F. Ciências Sociais Aplicadas - 3. Economia - 6. Economia Monetária e Fiscal
EFEITOS REAIS E NOMINAIS DA POLÍTICA MONETÁRIA SOBRE OS NÍVEIS DE PRODUÇÃO, EMPREGO E PREÇOS NO BRASIL : UMA ANÁLISE ECONOMÉTRICA DO PERÍODO 1999-2009
Rodrigo Guimarães Seves - UPM - Centro de Ciências Sociais Aplicadas (IC)
Pedro Raffy Vartanian - Prof. Dr. - UPM - Centro de Ciências Sociais Aplicadas (Orientador)
INTRODUÇÃO:
Em janeiro de 1999, ocorreu uma mudança do regime cambial brasileiro, que passou a ser flutuante, após um período de utilização da âncora cambial como um dos pilares de sustentação da estabilidade de preços na estratégia de controle da inflação sob o Plano Real, implementado em 1994. Alguns meses após a desvalorização cambial de janeiro de 1999, foi implementado o regime de metas para a inflação. Em um regime de metas para a inflação, a política monetária assume um papel preponderante entre as opções de política econômica para o alcance e a respectiva manutenção da estabilidade dos preços. A condução da política monetária, por parte do Banco Central do Brasil, tende a influenciar os níveis de preços, renda e emprego da economia. Neste sentido, destaca-se a importância de avaliar os efeitos da política monetária sobre as variáveis reais e nominais da economia, tendo em vista que, do ponto de vista da evolução da macroeconomia, uma discussão presente na literatura refere-se aos efeitos da política monetária, especificamente no que se refere aos efeitos sobre as variáveis reais e nominais.
OBJETIVO DO TRABALHO:
O objetivo geral desta pesquisa é avaliar os efeitos reais e nominais da política monetária sobre a produção, emprego e preços no período 1999-2009. Para tanto, estabeleceram-se como objetivos específicos a análise das principais correntes teóricas que tratam da política monetária, a investigação do impacto da política e o prazo com que se dão tais efeitos.
MÉTODOS:
A pesquisa teve como embasamento teórico as principais teorias macroeconômicas, com destaque para as vertentes clássica, keynesiana, monetarista, novo-clássica e novo-keynesiana no que se refere ao papel e aos efeitos da política monetária. Após a revisão teórica, foi realizada a coleta de dados macroeconômicos das seguintes séries com periodicidade mensal: IPCA, Produto Interno Bruto, Taxa Selic e Taxa de desemprego. Estas variáveis, que constituem os dados relevantes à análise da política monetária de acordo com o arcabouço teórico anteriormente estudado, foram incluídas em um modelo econométrico com o objetivo de se avaliar os efeitos da política monetária. O modelo econométrico escolhido foi o de vetores autorregressivos (Modelo VAR) a fim de estimar os parâmetros que caracterizam as relações entre as variáveis estudadas, bem como as funções de impulso-resposta. Com a estimativa aplicada a um sistema de múltiplas equações, foi possível identificar o efeito da política monetária, por meio da taxa de juros, sobre as demais variáveis. A escolha do período se justificou com base na adoção do atual regime de metas para a inflação até o período em que os dados se encontravam disponíveis quando da realização da pesquisa.
RESULTADOS E DISCUSSÃO:
A análise dos resultados da modelagem econométrica tem como foco as funções de impulso-resposta do emprego, dos preços e da produção frente a um choque na taxa de juros, uma vez que o objetivo é estudar os efeitos da política monetária. Estas funções sugerem que tais efeitos podem ser verificados tanto em termos nominais (influência sobre o nível de preços) como nas variáveis reais (emprego e produto), embora nas últimas este efeito seja identificado apenas no curto prazo, verificando-se principalmente entre o segundo e o quinto meses, enquanto nos preços o efeito tende a perdurar por mais de dez meses. Também foi analisada a decomposição de variância de erro de previsão do modelo, que representa a sensibilidade de cada variável aos choques em si mesma e nas outras variáveis. Esta análise sugeriu uma relação de longo prazo entre produto e taxa de juros, assim como a natureza autorregressiva do desemprego, isto é, sua tendência a ser fortemente influenciado por seus valores passados.
CONCLUSÕES:
O modelo econométrico estimado demonstrou que tanto a variável nominal quanto as variáveis reais analisadas respondem aos choques na taxa de juros com uma defasagem de um período, embora a duração do efeito do choque difira em cada caso: o nível de preços leva até doze meses para voltar à sua tendência, enquanto o desemprego leva até oito meses e o produto até seis meses. Assume-se assim que, durante o período estudado, a política monetária afeta de maneira significativa tanto as variáveis nominais quanto as reais, sugerindo, à guisa de conclusão, que a política monetária não é neutra, e que se constitui como uma ferramenta efetiva para a correção de eventuais desequilíbrios macroeconômicos. Além disso, os resultados encontrados permitem aproximar o cenário econômico brasileiro ao arcabouço teórico keynesiano e novo-keynesiano, em que a política monetária afeta variáveis reais da economia em decorrência da rigidez de preços e salários presentes no curto prazo.
Palavras-chave: política monetária, economia brasileira, metas inflacionárias.