65ª Reunião Anual da SBPC
G. Ciências Humanas - 5. História - 2. História do Brasil
Amor e liberdade na literatura anarquista de Domingos Ribeiro Filho
Leonice da Rocha Soares - Curso de História/PPGLCH – UNIGRANRIO
Angela Maria Roberti Martins - Profa. Dra./Orientadora – Curso de História/PPGLCH – UNIGRANRIO
INTRODUÇÃO:
No início do século XX, na cidade do Rio de Janeiro, militantes anarquistas, com destaque aos mais intelectualizados, marcaram presença privilegiada nas atividades socioculturais implementadas, com destaque para certa “literatura de compromisso” com os princípios libertários. Nesse conjunto de intelectuais que aderiram à causa, encontra-se Domingos Ribeiro Filho (1875-1942), um escritor, jornalista, cronista e funcionário público que transformou seus livros em “romances de ideias”, abrindo-se às teses anarquistas e servindo-se delas para analisar e criticar os valores da sociedade, bem como projetar uma nova moral. A pesquisa, articulando-se em torno do diálogo entre História e Literatura, centrou a reflexão em dois romances desse escritor: "O Cravo Vermelho", de 1907 e "Vãs Torturas", de 1911, vistos como espaço privilegiado de crítica social e de projeção de um determinado ideal. No mundo acadêmico, não conhecemos nenhuma trabalho que se volte especificamente para a obra desse escritor. Há uma tese de doutoramento em Letras (UFRJ), de André Luiz dos Santos, que trata do romance “O Cravo Vermelho” (1907) e de algumas crônicas do escritor militante publicadas na revista Careta.
OBJETIVO DO TRABALHO:
Estabelecer relações entre a ficção e o processo histórico. Identificar as questões sobre a moral da sociedade da época, discutindo as subjetividades de homens e mulheres. Refletir acerca do papel do escritor como crítico social e difusor de novas ideias sobre as relações entre homens e mulheres. Estabelecer relações entre alguns eixos temáticos das obras e o ideário anarquista.
MÉTODOS:
Trata-se de uma pesquisa histórica que se orientou pela perspectiva da história social. O trabalho de investigação foi realizado em bibliotecas e arquivos públicos. Em primeiro lugar, foi feita uma pesquisa bibliográfica para levantamento da trajetória intelectual e política de Ribeiro Filho de modo a estabelecer seu processo de formação como escritor, jornalista, cronista e libertário. Em seguida, em visitas à Biblioteca Nacional (BN), ao Real Gabinete Português de Leitura (RGPL), ao Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro (IHGB), encontramos alguns textos de/sobre Domingos Ribeiro Filho. Com os romances nas mãos, foi feita uma leitura exploratória e, em seguida, a análise, empregando os métodos qualitativos, com destaque para os de interpretação de texto. Pretendia-se, assim, captar o sentido e a função da obra, identificando não só o que o autor abordou, mas, sobretudo, como abordou determinados temas e situações. Nosso intento foi o de captar e analisar o campo semântico, isto é, os verbos e adjetivos que gravitam em torno dos temas centrais e personagens principais dos textos. Chegando a esse ponto de pesquisa e reflexão, procedemos à organização da documentação pesquisada e analisada, na perspectiva de contribuir para a construção de novos saberes.
RESULTADOS E DISCUSSÃO:
A pesquisa buscou contribuir para os estudos sobre o campo da cultura no movimento anarquista, mais especificamente sobre a ficção libertária de um autor que ao longo dos anos foi esquecido pela crítica literária, ficando desconhecido do grande público. Colocado à margem provavelmente por apostar em uma atitude ideológica comprometida com a causa anarquista, longe, portanto, de uma perspectiva acadêmica vinculada às elites intelectuais, Ribeiro Filho, com seus romances, exercia uma crítica ácida à sociedade da época, com seus valores autoritários e repressivos. O resultado mais abrangente da pesquisa foi a possibilidade de conferir (re)conhecimento e valorização à obra de Ribeiro Filho e sua contribuição ao movimento anarquista na cidade do Rio de Janeiro e à vida literária do Brasil. A pesquisa ainda possibilitou: a organização de um pequeno acervo com alguns textos de/sobre Domingos Ribeiro Filho. A apresentação que a bolsista fez da sua pesquisa no Seminário de Iniciação Científica da UNIGRANRIO em 2012, valeu-lhe o prêmio de melhor trabalho na área de Ciências Humanas e possibilitou, entre outros, a difusão de uma parte importante da literatura anarquista no Brasil, ao apresentar uma análise dos dois romances de Domingos Ribeiro Filho.
CONCLUSÕES:
A pesquisa debruçou-se sobre a proposta de uma nova moral na obra de Domingos Ribeiro Filho, a partir da problematização dos romances “O Cravo Vermelho” (1097) e “Vãs Torturas” (1911). Ambos são profundamente articulados a uma perspectiva ideológica, que se projetava além da propagação do ideário, posto que se preocupava com a reflexão social e a difusão de outra sensibilidade. Denunciam a opressão e apontam para a libertação de homens e de mulheres, enunciando outro arranjo social/sexual. Ao propor o fim da virgindade e do casamento monogâmico indissolúvel em favor do amor livre e da livre união, projetava a formação de um novo homem, de uma nova mulher. Apresentam uma crítica aos princípios cristãos e aos valores burgueses que forjaram uma moral sexual repressiva assentada em regras afetivo-sexuais. Enquanto libertário o autor mostrava-se disposto a lutar para a destruição da tradição misógina, das referências da moral cristã e dos padrões sexistas que definiam os modelos de feminino e de masculino, estabelecendo regras para as relações afetivas e sexuais. Trata-se de uma “literatura de ação”, voltada para a resistência e a mudança. A narrativa é simples, mas os livros podem ser vistos como um canto à vida e à liberdade; uma celebração à capacidade de homens e mulheres de (re)tomar o destino em suas mãos.
Palavras-chave: Literatura anarquista;, Domingos Ribeiro Filho;, Nova moral..