65ª Reunião Anual da SBPC
A. Ciências Exatas e da Terra - 3. Física - 2. Ensino de Física
O PERCURSO DA CONSTRUÇÃO DA TEORIA DA RELATIVIDADE RESTRITA NAS ABORDAGENS DOS LIVROS DIDÁTICOS DE FÍSICA
Douglas Alves Ferreira - Governo do Estado da Paraíba – Secretaria de Estado da Educação e Cultura
Maria Amélia Monteiro - Profa. Dra./ Orientadora - Depto de Física - UEPB
INTRODUÇÃO:
Nos últimos anos, os livros didáticos de física tem sido objeto de intensa discussão entre pesquisadores da área. Certamente, isto se deve a intensa utilização desse material didático no contexto educacional, tanto por professores quanto por estudantes, chegando mesmo a definir várias atividades educacionais. Com isso, a qualidade do livro didático é fator determinante para o êxito da educação científica. Particularmente no contexto educacional brasileiro, é bastante evidente a importância assumida pelo livro didático na educação básica, haja vista a prioridade dispensada ao mesmo em termos de políticas públicas, a qual contempla desde a elaboração de diretrizes para a construção do mencionado material, como também a distribuição gratuita para todas as escolas públicas do país. Por isso, várias ações têm sido realizadas em torno dos livros didáticos, no sentido de qualificar este objeto de estudo. Dentre as várias abordagens e conteúdos apontados como importantes para a constituição dos livros didáticos de física, destacamos as abordagens contemplando a História e a Filosofia da Ciência, bem como a inserção de conteúdos da Física Moderna e Contemporânea.
OBJETIVO DO TRABALHO:
A presente pesquisa tem por objetivo analisar as abordagens históricas acerca do percurso de construção e construtores da Teoria da Relatividade Restrita nas abordagens de alguns livros didáticos de física brasileiros, utilizados no nível médio de ensino.
MÉTODOS:
Na presente investigação, foram analisados quatro livros didáticos de física, sendo um aprovado pelo PNLD e os demais pelo PNLEM. Todas as obras foram implementadas recentemente no Brasil, a partir do ano de 2005. Em todos estes livros consta algum conteúdo histórico referente à gênese da Teoria da Relatividade Restrita. Esse conteúdo histórico foi analisado a partir de um referencial teórico construído com tal propósito específico.
Assim, previamente, procedemos com a construção de dois referenciais teóricos. O primeiro consistiu em uma revisão contemplando a influência que o livro didático exerce no contexto educacional, bem como as principais pesquisas que tem sido feitas em relação a aspectos dos livros didáticos utilizados na educação básica brasileira, focando especificamente em pesquisas sobre as abordagens da Física Moderna e Contemporânea no mencionado material didático. O outro referencial consistiu de uma revisão contemplando o uso da História e da Filosofia da Ciência no ensino, bem como a construção de um referencial histórico , no sentido de investigarmos as questões de pesquisa então propostas. Com o referencial anterior construído, buscamos analisar nas abordagens dos livros didáticos de física, especificamente nos capítulos que explanavam sobre a Teoria da Relatividade Restrita, menções relacionadas com a sua gênese. Diante destas menções, procedemos com uma análise comparativa com os referenciais teóricos construídos.
RESULTADOS E DISCUSSÃO:
Dos vários problemas identificados, o mais comum é referirem-se a construção da Teoria da Relatividade Restrita como tendo sido originada de um trabalho exclusivamente construído por Albert Einstein. Creditar a uma única pessoa a autoria de uma teoria complexa como a mencionada, é uma completa distorção da história. Esta visão simplificada acaba prejudicando o entendimento dos alunos com respeito à construção do conhecimento científico. Outro aspecto relevante constatado nas abordagens de alguns livros didáticos é creditarem a gênese da Teoria da Relatividade Restrita exclusivamente aos resultados inesperados das experimentações realizadas por Michelson e Morley com o interferômetro. Sem dúvida, experimentos e observações são importantes na física, mas a relação entre a empiria e a teoria é bem mais complexa do que expõe os livros didáticos. A história empirista não só empobrece a história da ciência, mas também induz a visões distorcidas da natureza da ciência e do empreendimento científico.
CONCLUSÕES:
A análise das abordagens sobre o percurso da construção da Teoria da Relatividade Restrita em alguns livros didáticos de física utilizados no nível médio de ensino brasileiro, evidencia que a utilização da história e da filosofia da ciência está longe de alcançar as potencialidades apontadas pelos pesquisadores acerca dessa abordagem para a educação científica. As abordagens dos livros didáticos focalizam apenas os aspectos finais da teoria, deixando de lado outros fatores como o processo de construção do conhecimento, o papel da disputa das ideias no desenvolvimento da ciência entre outros aspectos. Assim, acabam comprometendo tanto a inserção da história e filosofia da ciência quanto o uso da física moderna e contemporânea no ensino.
Palavras-chave: Análise de Livros Didáticos, História e Filosofia da Ciência, Teoria da Relatividade Restrita.