65ª Reunião Anual da SBPC
H. Artes, Letras e Lingüística - 3. Literatura - 5. Teoria Literária
A literatura do oprimido como possibilidade de transcendência epistemológica: confrontos entre a perspectiva freireana e a perpspectiva goldmanniana
Nailton Santos de Matos - Depto de Educação, Ciências Humanas e Tecnologia - FATEC - UNASP - UNINOVE
INTRODUÇÃO:
Como produto cultural, a literatura precisa ser vista como forma de conhecimento objetivado.Como conhecimento, a obra literária se coloca como um saber sistematizado, complexo e legítimo. Não é um simulacro do real como pensava Aristóteles. É a representação no nível simbólico da visão de mundo da classe social que a produziu. Desse modo, a literatura se configura em uma racionalidade. Não se trata de um saber concorrente ao da razão científica, mas como uma alternativa epistemológica que pode enriquecer a compreensão do mundo.
Goldmann, em diversos estudos, revelou haver uma homologia entre a forma romanesca e a classe social que produziu a obra literária. Indo além da mimese aristotélica que via a literatura como uma simulação do real, Goldmann defende que na estrutura formal do romance estão presentes as projeções mentais da classe que produziu a obra e que a existência desta se deve ao esforço daquela classe em dar o máximo de coerência possível à sua visão de mundo.
OBJETIVO DO TRABALHO:
O objetivo deste trabalho é resolver o impasse criado por Goldmann ao destacar a impossibilidade de transcendência da visão de mundo burguesa na forma romanesca, uma vez que ela é uma criação dessa classe para representar no plano simbólico seus esquemas mentais. Para ele, não há possibilidade de superar a visão de mundo burguesa fazendo uso de uma invenção legitimamente burguesa.
MÉTODOS:
Esta pesquisa qualitativa de natureza bibliográfica buscou estabelecer um paralelo entre o pensamento de Paulo Freire e de Lucien Goldmann sobre as bases que sustentam toda produção cultural. Para Goldmann, todo fenômeno cultural deve ser analisado dentro de sua totalidade. É fundamental que se entenda que nenhum fenômeno é uma realidade autônoma. Nele convergem todos os traços salientes da estrutura psíquica que orienta a visão de mundo de uma classe social. Em Pedagogia do oprimido, Freire destaca a necessidade de resgatar a visão de mundo do oprimido como única possibilidade de superar os esquemas mentais impostos pela burguesia. A pesquisa coloca em questão as implicações entre as duas concepções epistemológicas.
RESULTADOS E DISCUSSÃO:
Para resolver o problema apresentado, esta pesquisa toma como referência Paulo Freire para quem a superação da visão de mundo burguesa só é possível através das alternativas de visão de mundo dos oprimidos. Só o oprimido pode oferecer novas possibilidades formais capazes de estruturar novos esquemas para compreender e explicar o mundo.
Toda produção cultural nasce como uma resposta significativa às contingências históricas. No caso específico da literatura, essa resposta se dá por meio de uma representação simbólica. O autor materializa na forma e no conteúdo literário os esquemas mentais que orientam a visão de mundo da classe em que ele está inserido.
CONCLUSÕES:
Todo processo cultural simbólico é um sistema de representação com o qual o sujeito e a classe social legitimam, interpretam, explicam e buscam dar a coerência máxima possível à sua existência. Deste modo, a produção cultural dos oprimidos oferece outras alternativas epistemológicas para compreender e explicar o mundo.
A possibilidade de transcendência só pode vir de uma razão oprimida. Somente os oprimidos podem revelar as contradições da visão de mundo do opressor. A consciência possível de uma classe social oprimida é capaz de revelar dimensões muito interessantes sobre os modos de ver o mundo a partir de lugares de enunciação que oferecem explicações e saberes sobre o mundo.
Palavras-chave: Epistemologia, Teoria literária, Educação.