65ª Reunião Anual da SBPC
H. Artes, Letras e Lingüística - 4. Linguística - 2. Linguística Histórica
DESCRIÇÃO DO USO E FUNÇÃO DO CLÍTICO “SE” EM TEXTOS COM INTERPOLAÇÃO DA NEGAÇÃO E ADJACÊNCIA: UM ESTUDO DIACRÔNICO DO PORTUGUÊS EUROPEU ENTRE OS SÉCULOS XV A XIX.
Eloísa Maiane Barbosa Lopes - Depto. de Estudos Linguísticos e Literários - UESB
João Henrique Silva Pinto - Depto. de Estudos Linguísticos e Literários - UESB
Cristiane Namiuti Temponi - Profa. Dra./Orientadora - Depto. de Estudos Linguísticos e Literários – UESB
INTRODUÇÃO:
A investigação sobre o clítico SE é de grande importância, pois na história do português seu uso tem algumas particularidades que o diferenciam dos demais pronomes clíticos. No Português Clássico (século XVI-XVIII), nos contextos de variação próclise e ênclise, diferentemente dos demais clíticos, produtivos em estruturas proclíticas, o SE apresenta-se produtivo em estruturas enclíticas (CHOCIAY, 2003), podendo variar a sua função: indeterminado, passivo, inerente, reflexivo, inerente e reflexivo ou ambíguo. Na diacronia do português, nos contextos de próclise categórica, o pronome pode variar quanto à adjacência ao verbo e à interpolação de constituintes entre o clítico e o verbo. Considerando a importância do fenômeno da interpolação para se entender as mudanças profundas na sintaxe da língua, o presente trabalho desenvolvido no âmbito do projeto Novos meios para antigas fontes: sintaxe diacrônica em corpus eletrônico do português visa apresentar os resultados da investigação do uso do clítico SE em estruturas com interpolação da negação (se-neg-verbo) e estruturas com adjacência (neg-se-verbo); nos textos portugueses dos séculos XV a XIX extraídos do Corpus Histórico do Português Tycho Brahe, investigando o fator tipo de SE e sua função.
OBJETIVO DO TRABALHO:
Este trabalho tem como objetivo observar e descrever o uso e comportamento funcional do Clítico SE nas estruturas com interpolação da negação (SE-neg-verbo) e adjacência (neg-SE-verbo) em textos de autores portugueses nascidos entre os séculos XV a XIX.
MÉTODOS:
O corpus da pesquisa constitui-se de 33 textos escritos por autores nascidos entre os séculos XV e XIX os quais foram retirados do Corpus Histórico do Português Anotado Tycho Brahe, composto de textos em português escritos por autores nascidos entre 1380 e 1845 e disponibilizado na rede mundial de computadores. Fizemos o levantamento dos dados com clíticos e buscamos as sentenças com o clítico SE através da busca automática (Corpus Search) nos contextos de próclise em estruturas com interpolação da negação e adjacência SE-verbo. Posteriormente, separamos os textos, analisamos os clíticos SE quanto sua função indeterminado, passivo, inerente ao verbo, reflexivo, ambíguo ou inerente/ reflexivo das respectivas estruturas. Finalmente, avaliamos quantitativamente os dados com a ajuda das ferramentas do EXCEL.
RESULTADOS E DISCUSSÃO:
Com a busca automática dos dados, levantamos 1246 ocorrências com Clítico SE em sentenças negativas com e sem interpolação que figuravam nos 33 textos do corpus e descrevemos as ocorrências do SE no tempo (século XV ao XIX). Comparando a estrutura de interpolação da negação em relação à de adjacência, vemos um comportamento diferente dos tipos de SE. Nos textos dos séculos XV e XVI, o SE com função sujeito (indeterminado e passivo) é atestado com frequência em estruturas de interpolação da negação, seguido do SE inerente ao verbo e de formas ambíguas, já o SE com função complemento (reflexivo) é mais atestado em estruturas de adjacência (neg-SE-verbo). No século XVII, notamos que também o SE reflexivo, além do indeterminado e dos ambíguos, são frequêntes em estruturas de interpolação; já o SE passivo, assim como o inerente, passa a aparecer mais frequentemente em estruturas de adjacência. No século XVIII, o SE é mais produtivo em estruturas com adjacência SE-verbo, mas nas estruturas com interpolação o SE indeterminador permanece o mais freqüente. No século XIX o SE indeterminador passa a ser mais produtivo nas estruturas com adjacência, e o SE reflexivo, também o passivo, passa a ser mais freqüente na interpolação.
CONCLUSÕES:
Para concluir, os resultados desta pesquisa apontam um comportamento específico do pronome Clítico SE tanto nas estruturas de interpolação quanto nas de adjacência (SE-verbo). Podemos atestar que, no geral, existe uma preferência pelo SE indeterminador (função sujeito) nas estruturas com interpolação desde o século XV até o XVIII. No século XIX, observa-se uma mudança – o SE indeterminador deixa de ser preferencialmente atestado nas estruturas com interpolação da negação. O SE reflexivo (função de complemento) e o SE Passivo (função de sujeito) ocorrem mais frequentemente nas estruturas de adjacência até o século XVIII, no século XIX, estas são as funções do SE mais freqüentes em estruturas com interpolação da negação.
Palavras-chave: Clítico SE, Interpolação, Adjacência.