65ª Reunião Anual da SBPC
G. Ciências Humanas - 5. História - 8. História Regional do Brasil
CASSIANO RICARDO: IDENTIDADE NACIONAL E A UNIVERSALIZAÇÃO DA PAULISTANIDADE – A SIMBIOSE POLÍTICO-INTELECTUAL DA DÉCADA DE 1930.
Larissa Lima Almeida Moraes - Pontifícia Universidade Católica de Campinas
INTRODUÇÃO:
O propósito central deste trabalho consiste em um estudo do processo histórico de construção da identidade regional paulista pautado principalmente na obra de Cassiano Ricardo (1895-1979) “Marcha para o Oeste” com o objetivo de compreender as transformações e readaptações do imaginário da paulistanidade num contexto político novo, pós- Revolução de 30. A questão central, a partir da qual a obra acima será analisada, diz respeito ao processo de construção de um imaginário marcado pela idéia de uma excepcionalidade e vocação paulista. O momento de expansão e readaptação da identidade paulista, a partir dos anos 30, com o propósito de construção da identidade nacional, definiu as condições de apreensão e resinificação das obras setecentistas, bem como daquelas produzidas no primeiro período republicano, principalmente naqueles aspectos e sentidos construídos em torno da chamada epopeia bandeirante. Esta se constituiu na base de elaboração de um imaginário regional dominado pela defesa da autonomia, da vocação para o progresso, da ideia de liderança natural e formação da nacionalidade a partir do processo de interiorização no território, elementos que passaram a integrar o projeto de integração nacional sob a liderança do Estado Central.
OBJETIVO DO TRABALHO:
Este trabalho visa demonstrar que Cassiano Ricardo, influenciado pelo contexto político de sua época, ampliou o discurso do bandeirismo paulista para uma amplitude nacional visando à construção de um sentimento de identidade necessário para legitimação do Estado Novo, o que deve confirmar a hipótese sobre a existência de uma cooptação política ideológica na década de 1930.
MÉTODOS:
Inicialmente foi realizada um levantamento bibliográfico sobre o autor e período estudado, elencando que fatores de sua vida e época influenciaram na escrita da principal obra analisada, “Marcha para Oeste”. Realizou-se também uma análise minuciosa da obra, buscando identificar sua problemática central, além das hipóteses e os argumentos que o autor utilizou para legitimar sua teoria. Posteriormente, foi feito uma síntese historiográfica a partir de outros autores que buscaram interpretar tanto a obra em questão quanto sua repercussão no período e posteriormente. Foi realizado um esquema comparativo entre os tais autores a fim de identificar semelhanças e diferenças em suas interpretações sobre o objeto deste estudo. A partir deste esquema, buscou-se realizar um possível novo esquema interpretativo sobre a obra em questão.
RESULTADOS E DISCUSSÃO:
A partir da análise da obra de Cassiano Ricardo, bem como de outros autores que escolheram como objeto de estudo o período ou a obra em questão, observou-se uma concordância historiográfica no que se diz respeito a cooptação política e intelectual do período de 1930. É possível identificar aspectos comuns nas interpretações sobre a obra de Cassiano que, constantemente, são consideradas como estruturante da elaboração ideológica do regime. Os autores deste período foram constantemente interpretados como ferramentas utilizadas por este governo para disseminar as idéias que lhes eram favoráveis, afirmando a teoria de Azevedo de Amaral de que estes assumiam um papel de mediadores entre a massa e a ideologia dominante. Esta maneira unilateral de interpretação não deixa de ser verdadeira, uma vez que Cassiano amplia a dimensão histórica do fenômeno do bandeirismo para um panorama maior criando uma nova amplitude ao discurso da excepcionalidade paulista; readaptando assim, um ideal de identidade regional com o propósito de construção de uma identidade nacional; tal como previa o governo estadonovista. Desta maneira, a partir do resultado das análises historiográficas, as teorias sobre a simbiose política e intelectual do período se confirmam.
CONCLUSÕES:
A partir da realização deste trabalho, confirmou-se a teoria da existência de uma cooptação política e intelectual na década de 1930, do qual Cassiano Ricardo estava amplamente envolvido, fato que se afirma na obra “Marcha para Oeste”. Porém, este trabalho possibilitou a compreensão que suas obras não devem ser interpretadas apenas a partir desse olhar que o considera como meramente divulgador da ideologia da época, como “produto” de seu contexto histórico. A partir da dos resultados obtidos com as análises historiográficas, pode-se afirmar que Cassiano acreditava que o discurso era determinante da sociedade. Suas teorias ultrapassam o campo das idéias e acabam definindo e orientando ações, assumindo um papel estruturante na sociedade em que viveu, uma vez que teve grande influência no pensamento da época. Nisto consiste a dualidade dos trabalhos históricos que, inevitavelmente, sofrem influência dos processos e estruturas de suas épocas, porém também são estruturantes ao passo que possuem a capacidade de orientar o modo de pensamento e, conseqüentemente, ações da sociedade; tornando-se produto e agente da história. Pois, como afirmou o filósofo Jean Paul Satre: “Seria vão tentarmos nos tornar nosso próprio historiador: o historiador é também criatura histórica.” (SATRE,1964).
Palavras-chave: Marcha para Oeste, Bandeirantismo Paulista, Estado Novo.