65ª Reunião Anual da SBPC
H. Artes, Letras e Lingüística - 4. Linguística - 5. Teoria e Análise Linguística
RELAÇÕES ISOMÓRFICAS ENTRE SINTAXE E SEMÂNTICA NAS MODALIZAÇÕES DEÔNTICAS E EPISTÊMICAS POR ENCAIXAMENTO DE CLÁUSULAS COMPLETIVAS A VERBOS DE COGNIÇÃO
Emanuel Cordeiro da Silva - Unidade Acadêmica de Serra Talhada - UFRPE
INTRODUÇÃO:
Em muitas das línguas do mundo, é autorizado aos verbos de cognição o encaixamento sintático de cláusulas completivas. Essa categoria de verbos compõe um repertório lexical disponível à codificação de significados atrelados a processos mentais – conhecimentos, crenças, desejos – e a percepções. Na língua portuguesa, embora, por servirem à produção de significados subjetivos, funcionem mais como modalizadores epistêmicos, os verbos de cognição também funcionam como modalizadores deônticos. Eles, em decorrência disso, constituem-se enquanto um grupo verbal bastante heterogêneo, o que lhes permite tomar cláusulas-complemento com diferentes padrões sintático-semânticos.
OBJETIVO DO TRABALHO:
Tendo em vista tal caráter heterogêneo e as variadas formas de encaixamento de completivas dele resultantes, o presente trabalho, por meio de uma visão escalar entre os modos deôntico e epistêmico de modalização, objetiva investigar as relações isomórficas entre sintaxe e semântica no encaixamento de cláusulas completivas a verbos de cognição.
MÉTODOS:
O estudo foi realizado com base em dados reais de uso da língua. Foi analisado um corpus composto por 120 textos. Desse total, 60 são de fala, e os outros 60 são de escrita. Todos os dados foram coletados na cidade do Natal, no Rio Grande do Norte. A cada informante foi solicitada a produção dos seguintes tipos de texto: narrativa de experiência pessoal, narrativa recontada, descrição de local, relato de procedimento e relato de opinião, sendo todos eles produzidos nas duas modalidades de uso da língua. A coleta dos dados foi estratificada por sexo, idade e nível de escolaridade. O material corresponde à produção de 12 entrevistados e integra um corpus maior pertencente ao grupo de pesquisa Discurso e Gramática (D&G), formado por professores e alunos da UFRN. Para tratamento do corpus, foi feito um levantamento das ocorrências de completivas encaixadas a verbos de cognição. Após a identificação das ocorrências, os referidos verbos, sobre um continuum deôntico-espistêmico, foram distribuídos entre de cognição prototípica e de cognição não-prototípica. A partir daí, deu-se a observação dos padrões sintático-semânticos de encaixamento. O estudo seguiu uma orientação funcionalista. Foram adotadas a iconicidade e a prototipicidade como princípios teóricos norteadores.
RESULTADOS E DISCUSSÃO:
Foi verificado que, quando não-prototípicos, os verbos de cognição ocupam uma posição mais marginal na categoria a que pertencem, e que essa posição reflete um deslocamento para um ponto de maior deonticidade no continuum deôntico-espistêmico. A perspectiva escalar dos modos de modalização mostrou que o valor semântico do verbo de cognição exerce influência sobre a arquitetura da cláusula a ele encaixada. O verbos de preferência, diferentemente dos de processos mentais, apresentaram-se como não-codificadores de epistemicidade stricto sensu, o que, no que diz respeito à tomada de cláusula-complemento, aproxima-os dos padrões sintático-semânticos percebidos para verbos de modalização deôntica.
CONCLUSÕES:
Dentro da categoria de cognição, os verbos de preferência reivindicam um tratamento diferenciado. Para eles, é mais produtivo se pensar em epistemicidade não no sentido de gradientes de certeza, e, sim, de conhecimento do indivíduo sobre si mesmo. Em modalizações combinadas, o valor semântico do verbo da cláusula matriz é capaz de determinar da arquitetura da completiva. Nessas modalizações, é mais perceptível a isomorfia entre sintaxe e semântica, posto que a transição semântica do verbo de cognição entre os planos deôntico e epistêmico implica a transição da morfologia do verbo da completiva entre os modos subjuntivo e indicativo.
Palavras-chave: Gramática, Subordinação, Linguística Funcional.