65ª Reunião Anual da SBPC
E. Ciências Agrárias - 4. Recursos Pesqueiros e Engenharia de Pesca - 3. Recursos Pesqueiros de Águas Interiores
As características socioeconômicas dos pescadores ourienses e sua percepção em relação à UHE-Ourinhos.
Sarah Clédia Malta Ferreira - Universidade de Lisboa
Guilherme Debeus Costa e Souza - Universidade de Lisboa
INTRODUÇÃO:
A relação do homem com a água faz parte do processo de evolução da humanidade, adquirindo significados e funções que vão além das necessidades básicas de sobrevivência. Assim o estudo da percepção de comunidades que convivem de modo integrado com os recursos hídricos torna-se importante, pois é dedicada à análise da visão humana do mundo e como sua relação com a natureza, sentimentos e noção de respeito podem alterar seu comportamento geográfico (FILHO, 1996). Sendo assim, as modificações ocorridas no espaço ao longo da história se dão a partir de interpretações do homem sobre o local de suas relações com o meio.
Neste contexto, a humanidade sempre tentou garantir uma “harmonia ecológica” através de atuações sobre meio ambiente como resposta às progressivas imposições da natureza. Como afirma Dubos (1980) há uma progressiva humanização do planeta e por outro lado uma planetização da espécie humana. Nesse processo de relação sociedade/meio muito do que é percebido pela comunidade afeta a maneira como será efetivada essa ligação com o meio natural. Neste ínterim a compreensão da percepção humana sobre o espaço se mostra bastante importante na análise homem-meio, sobretudo em paisagens antropizadas, onde é importante este conhecimento para a melhor gestão futura destas alterações.
OBJETIVO DO TRABALHO:
A fim de abranger a problemática vivida pela população de Ourinhos/SP o principal objetivo do trabalho é compreender a percepção dos impactos gerados pela usina hidrelétrica de Ourinhos (UHE-Ourinhos) aos pescadores locais. Para isso torna-se relevante uma discussão a respeito das características socioeconômicas dos trabalhadores afetados por este empreendimento.
MÉTODOS:
Foram realizados os seguintes procedimentos para chegar à compreensão da problemática vivida na área: Revisão bibliográfica / Trabalho de campo para avaliar empiricamente os impactos ambientais da UHE / Aplicação de questionários com representantes da comunidade afetada. Entre os meses de janeiro e outubro de 2010, foram inqueridos quarenta pescadores nos cursos hídricos de Ourinhos e região, assim como no ministério do trabalho, visto que durante os meses da piracema (normalmente período de novembro à fevereiro) são impossibilitados de praticar a pesca e recorrem ao seguro desemprego disponibilizados pelo ministério do trabalho. Foram realizadas questões estruturadas e semi-estruturadas a com a finalidade de se debater descobrir:
- Escolaridade e idade da população afetada
- Número de agregados familiares
- Curso hídrico preferencial para a prática da pesca (esta questão torna-se pertinente, pois a cidade de Ourinhos conta com três rios robustos capazes de suportar a pesca artesanal)
- O motivo da escolha pela profissão de pescador.
- Se os entrevistados conhecem a UHE-Ourinhos, caso a resposta fosse positiva foi questionado se sua construção afetou sua vida cotidiana e se houve alguma alteração no seu rendimento financeiro derivado dos impactos desta central hidrelétrica.
RESULTADOS E DISCUSSÃO:
Baseado nos questionários realizados foi possível verificar que 70 % dos inqueridos não completaram o ensino fundamental, a baixa escolaridade deve-se ao fato de grande parte destes pescarem desde criança (67,5 %) isso mostra uma característica típica dos pescadores artesanais que aprendem seu ofício com os pais ou parentes mais velhos durante a infância. Assim, 80% dos inqueridos afirmam que a pesca é o único ofício que possuem. Esta questão é bastante delicada, pois as constantes modificações dos cursos hídricos frequentemente contribuem para queda na ictiofauna.
Tal realidade é bastante conhecida pelos pescadores uma vez que todos sabiam da existência da UHE-Ourinhos e conforme o levantamento realizado antes da construção da barragem a quantidade e variedade de peixes era superior, o que possibilitava a garantia de melhores salários, visto que antes da UHE cerca de 50% dos pescadores recebiam entre dois e três salários mínimos, e no ano de 2010, 67,5% recebiam até um salário mínimo. Todavia há que ressaltar que mesmo perante essas alterações 90% dos pescadores não se mostram contrários à implantação de centrais hidrelétricas, porém, acreditam que o planejamento destas obras devem ter em conta a vulnerabilidade desta classe de trabalhadores.
CONCLUSÕES:
O estudo verificou algumas alterações que a UHE-Ourinhos proporcionou aos pescadores locais, contribuindo para a compreensão da percepção destes trabalhadores no que toca aos impactos da hidrelétrica.
Por se tratar de uma profissão que exige grande conhecimento empírico dos ciclos da natureza, os conhecimentos para a pesca provém de anos de experiência e muitos aprenderam suas técnicas com os antepassados. Desse modo, a infância de muitos foi vivida no rio e não nas escolas, resultando na baixa escolaridade observada, fato que contribui para a precariedade vivenciada em momentos onde a pesca não é financeiramente viável, já que estes trabalhadores não possuem qualificação e experiência em outras áreas.
Todavia constata-se que a grande maioria dos pescadores assumiram que a UHE afetou suas vidas negativamente, mas vêem-na como uma obra necessária, porém mal planejada. Logo, não são contrários à instalação de UHEs, mas, gostariam que as mesmas não afetem a população local da mesma maneira que a UHE-Ourinhos. Assim, cabe às instituições públicas zelar pela melhor gestão e planejamento destas centrais, pois trata-se de populações que compreendem a necessidade de centrais fornecedoras de energia, porém estas devem ser ambientalmente e socialmente enquadradas na paisagem local.
Palavras-chave: Pesca em Ourinhos, Usina Hidrelétrica de Ourinhos, Pescadores de Ourinhos.