65ª Reunião Anual da SBPC
C. Ciências Biológicas - 12. Neurociências e Comportamento - 1. Neurociências e Comportamento
FUNÇÕES EXECUTIVAS: DESENVOLVIMENTO DOS 5 AOS 6 ANOS E RELAÇÃO COM INDICADORES DE DESATENÇÃO E HIPERATIVIDADE
Marina Kurcis Gonzales - UPM - Centro de Ciências Biológicas e da Saúde (IC)
Alessandra Gotuzo Seabra - Profª. Drª. - UPM - Centro de Ciências Biológicas e da Saúde (Orientadora)
INTRODUÇÃO:
Funções executivas (FE) designam um conjunto de habilidades ou processos que, conjuntamente, possibilitam ao indivíduo realizar comportamentos orientados a uma meta, a um objetivo. As principais habilidades que compõem as FE são memória de trabalho, planejamento, atenção seletiva, controle inibitório, flexibilidade cognitiva e monitoramento (GAZZANIGA, IVRY; MANGUM, 2006; TREVISAN, 2010). Em crianças, déficits nas FE têm sido relacionados a pobre desempenho acadêmico e certos distúrbios do neuro-desenvolvimento, como o Transtorno do Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH), que é comum na infância, tem início precoce e tende a persistir durante muitos anos ou toda a vida. Mesmo em crianças em idade pré-escolar, com idades entre 4 e 6 anos, a presença de indicadores de desatenção e hiperatividade está relacionada a pior desempenho em testes de funções executivas (TREVISAN, 2010), porém novos estudos são necessários para ampliar esta compreensão. Esta pesquisa objetivou investigar o desenvolvimento das FE ao longo da faixa etária de 5 a 6 anos por meio de dois testes e verificar se há relação entre o desempenho nesses dois testes de funções executivas e indicadores de desatenção e hiperatividade, conforme relato de pais e de professores.
OBJETIVO DO TRABALHO:
Investigar o desenvolvimento das funções executivas ao longo da faixa etária de 5 a 6 anos; identificar indicadores de desatenção e hiperatividade em crianças frequentadoras de escolas regulares de ensino infantil e fundamental e verificar se a ocorrência destes indicadores varia em função da idade; verificar se há relação entre os indicadores e o desempenho em testes que avaliam FE.
MÉTODOS:
Foram avaliados 157 sujeitos, sendo 69 da educação infantil (5 anos) e 98 do 1º ano do Ensino Fundamental (6 anos) de escolas públicas. Nenhuma criança se enquadrou no critério de exclusão de deficiência cognitiva, conforme a Escala de Maturidade Mental Colúmbia. Foi utilizada a escala SNAP-IV para avaliar sinais de desatenção e hiperatividade. Ela é composta pela descrição de 18 sintomas, os quais foram pontuados por pais e professores, em uma escala de quatro níveis de gravidade. Os testes utilizados foram: Teste de Trilhas para pré-escolares, para avaliar flexibilidade cognitiva, e Teste de Stroop para pré-escolares, para controle inibitório. O Teste de Trilhas possui partes A e B, devendo o sujeito ligar somente cachorrinhos (parte A) ou cachorrinhos e ossos (parte B) em sequência (ordem de tamanho). São computados escores de sequência, conexões e total, e tempo de execução. O Teste de Stroop possui duas partes, em que figuras são apresentadas (menino, menina, lua, sol). Na primeira parte a criança deve nomear as figuras (parte congruente) e, na segunda, dizer o substantivo oposto (incongruente). São registrados acertos, erros e o tempo de reação para ambas as partes do teste, bem como o efeito de interferência (desempenho na parte 2 subtraído do desempenho na parte 1).
RESULTADOS E DISCUSSÃO:
As crianças de 6 anos obtiveram melhor desempenho no Teste de Stroop para pré-escolares. Na parte 1, os alunos de 6 anos responderam mais rapidamente do que os de 5, entretanto, o escore em ambas as idades foi muito semelhante. Na parte 2, os alunos de 6 anos demoraram mais para responder, o que pode estar relacionado ao melhor desempenho nesta parte, ou seja, ao maior escore obtido. No Teste de Trilhas para pré-escolares houve tendência das crianças de 6 anos a melhor desempenho, apresentando maior número de acertos em sequências e conexões e menor tempo de execução. As análises estatísticas confirmam essas tendências, o que sugere que tais testes são válidos em discriminar crianças de 5 e 6 anos de idade, visto que os desempenhos delas são estatisticamente distintos, reforçando a possibilidade de avaliar as funções executivas em crianças dessa faixa etária precoce. Correlações de Pearson entre escores em ambos os testes e a SNAP-IV respondida pelos professores foram significativas, revelando relação das respostas dos professores com os escores, mas não com o tempo. As correlações foram negativas: conforme maior o índice de hiperatividade ou desatenção, pior o desempenho na tarefa executada. As respostas dadas pelos pais não obtiveram relação com os resultados nos testes.
CONCLUSÕES:
Com a progressão das idades, os desempenhos nos testes tenderam a aumentar. Além disso, observou-se também discordância entre os informantes no relato de sintomas de desatenção e hiperatividade e, de modo geral, os desempenhos nos Testes de Stroop e Trilhas para pré-escolares estiveram mais relacionados aos relatos dos professores do que aos dos pais, provavelmente porque exista um parâmetro de comparação, ou seja, o professor tem condições de comparar o desempenho de um aluno com os demais de mesma idade e série. Há de considerar a necessidade da utilização de múltiplos informantes, pois tanto a percepção dos pais quanto dos professores pode ampliar as informações sobre a criança. É interessante considerar que as medidas de interferência nos Testes de Stroop e de Trilhas revelam quão capaz é a criança de não se afetar por estímulos distratores proeminentes, e, mesmo nessas medidas, houve progressão com a idade, sugerindo que esses testes já são sensíveis a mudanças na capacidade de inibição das crianças.
Palavras-chave: funções executivas, TDAH, avaliação.