65ª Reunião Anual da SBPC
H. Artes, Letras e Lingüística - 3. Literatura - 6. Literatura
A METÁFORA DA AMBIÇÃO EM SONETO DE DOM FRANCISCO MANUEL DE MELO
Lêda Sousa Bastos - Depto. de Estudos Linguísticos e Literários - UESB
João Henrique Silva Pinto - Depto. de Estudos Linguísticos e Literários - UESB
Marcello Moreira - Prof. Dr./Orientador - Depto. de Estudos Linguísticos e Literários – UESB
INTRODUÇÃO:
A investigação sobre a agudeza presente em poemas do século XVII é de suma importância para a compreensão da elocução em sonetos de dom Francisco Manuel de Melo, assim como na produção poética de poetas que lhe foram coetâneos, em que, a par de uma lição de cunho moral, apresentada em poemas que tomam a vanidade da vida como matéria, produz-se também o que se chamava retoricamente"belo eficaz", pois que a agudeza das metáforas da elocução, em que se aproximavam dois cognoscíveis extremos por meio de uma relação analógico-dialética,demonstrava com vividez a precariedade da condição de todo vivente. Considerando o efeito do artifício metafórico em poemas do século XVII, este trabalho, desenvolvido no domínio do projeto “Estudos Filológicos e Textuais de Práticas Letradas Coloniais”, cujo subprojeto intitula-se “A poesia de agudeza no Postilhão de Apolo”,visaa apresentar os resultados da análise da ambição metaforizada pelo freixo e pelo pavão, enfatizando a eficiênciada agudeza como procedimento de ornamentação participante da elocução em um poema de dom Francisco Manuel de Melo, extraído da obra A Tuba de Calíope.
OBJETIVO DO TRABALHO:
Este trabalho tem como objetivo apresentar a análise de um poema de Dom Francisco Manuel de Melo, poeta do século XVII, de modo a evidenciar o modo como a ambição é metaforizada pelo freixo e pelo pavão,apresentando a ocorrência da agudeza de conceito, tal como definida por Tesauro e Gracián, cujo núcleo central é a metáfora, recurso elocutivo largamente empregado na poesia seiscentista.
MÉTODOS:
O corpus da pesquisa constitui-se de uma seleção de poemas do poeta Dom Francisco Manuel de Melo, retirada da obra A Tuba de Calíope, publicada pela primeira vez no século XVII. Empreendemos a análise de um soneto em que se tematiza a ambição, representada pelo pavão e pelo freixo, de modo a evidenciar como são produzidas as agudezas. Além disso, fizemos a leitura de tratados antigos, mas traduzidos para o espanhol e para o português por autores dos séculos XVI e XVII, em que se apresenta a figuração moral e simbólica tanto do freixo quanto do pavão, para que a metáfora aguda pudesse ser lida também em chave ética e política. O pavão, por exemplo, ou pavo real, era, por excelência, dentre as aves, desde o História dos Animais de Aristóteles, metáfora para os homens vaidosos de si, tornando-se nas monarquias católicas pós-tridentinas símbolo do cortesão pleno de vaidade. É por essa razão que Dom Francisco Manuel de Melo, ao falar da vanidade das coisas deste mundo, o faz referindo o pavão, não a própria vanidade, termo próprio substituído por seu correlato metafórico. Também lemos bibliografia respeitante à configuração do procedimento metafórico agudo na sociedade seiscentista, fundamentada na Retórica e na Poética de Aristóteles.
RESULTADOS E DISCUSSÃO:
Ao se fazer a análise do soneto selecionado, evidenciamos as agudezas nele presentes. A ambição foi metaforizada, oracomo alto freixo, a mais alta das árvores das florestas portuguesas de então, sendo o campo de congruência possibilitador da metáfora a grande altura da árvore e seu porte altaneiro, análogos da altitude social do ambicioso. A ambição também foi metaforizada como pavão, pois o pavo, ave real, o é por apresentar a plumagem mais galharda, galhardia e beleza essas análogas da vaidade, presunção e arrivismo dos ambiciosos. Assim sendo, ficou evidente que o poema é de cunho moral, visto que representa, ao tempo em que critica, a atitude e o comportamento do cortesão ambicioso da sociedade seiscentista.
CONCLUSÕES:
Feita a análise do soneto selecionado de Francisco Manuel de Melo, poeta pertencente ao período seiscentista, constatamos o uso engenhoso da metáfora no discurso poético a partir de definições de metáfora, sobretudo de Aristóteles e de João Adolfo Hansen, cujo uso da metáfora, fundamento da agudeza, constitui a faculdade intelectual do engenho, resultando num efeito que proporciona maravilha ao leitor agradando-o e persuadindo-o. Isso evidencia a capacidade que a agudeza tem de produzir deleite e admiração através da condensação metafórica de cognoscíveis extremos.
Palavras-chave: Elocução, Metáfora, Agudezas.