65ª Reunião Anual da SBPC
F. Ciências Sociais Aplicadas - 3. Economia - 11. Economia
ANÁLISE MULTIDIMENSIONAL DA POBREZA BAIANA
Fernanda Calasans Costa Lacerda - Profa. Msª/ Orientadora – Depto. de Ciências Sociais Aplicadas – UESB
Kamile Ferreira Araújo - Depto. de Ciências Sociais Aplicadas – UESB
Karen de Oliveira Campos - Depto. de Ciências Sociais Aplicadas – UESB
INTRODUÇÃO:
A questão de como lidar com os pobres sempre esteve presente ao longo do tempo, porém foi com a consolidação do sistema capitalista que o problema se acentuou. O Brasil tem mostrado uma forte tendência de desigualdade na distribuição de renda e níveis de pobreza. O país carrega uma herança de injustiça social, falta de investimentos eficazes na economia e descontrole por parte das autoridades em fazer um país crescer de maneira harmoniosa e equilibrada. Como consequência disso, parte significativa da população é privada do acesso às condições mínimas de dignidade e cidadania. A Bahia, dentro do contexto da pobreza do país, se apresenta como um estado brasileiro apontado como um dos estados com maior concentração de pessoas em extrema pobreza no Brasil. A análise da pobreza na Bahia geralmente tem deixado de lado as privações de caráter multidimensional que podem influir no estudo da pobreza e da desigualdade. A análise da pobreza sob o enfoque multidimensional na Bahia é um método ainda pouco aplicado, sendo, portanto, grande parte dos estudos sobre a pobreza no estado da Bahia ponderado com base no critério da renda. Diante disso, este trabalho analisa as demais privações sofridas pela população baiana além da insuficiência de renda, com base nos microdados da PNAD 2011.
OBJETIVO DO TRABALHO:
Analisar as privações sofridas pela população baiana para além da perspectiva monetária da pobreza. Identificar carências multivariadas sofridas pela população baiana durante o ano de 2011, com base nos microdados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD).
MÉTODOS:
Trata-se de uma pesquisa quali-quantitativa, descritiva, compreendendo os aspectos teórico-conceituais do fenômeno pobreza. Inicialmente, para elaboração do trabalho, fez-se necessário o levantamento bibliográfico de autores que abordam o assunto, a fim de obter informações teóricas e empíricas, relacionando-as com o assunto a ser pesquisado.
Num segundo momento, extraíram-se dos microdados da PNAD algumas informações relativas à situação social dos domicílios e indivíduos que residiam na Bahia no ano de 2011. Essas informações referem-se a quatro dimensões de análise: condições de moradia, saneamento, trabalho e educação. Essas dimensões são compostas por treze variáveis, sendo posse do domicílio, material das paredes, material do telhado, iluminação no domicílio, esgotamento sanitário, destino do lixo domiciliar, abastecimento de água no domicílio, condição sanitária no domicílio, trabalho precário, trabalho não precário, alfabetizados no domicílio, crianças na escola e anos médios de estudo. Utilizou-se do programa estatístico STATA na manipulação dos dados da PNAD.
A etapa final do trabalho constituiu na interpretação dos dados e das variáveis construídas por meio de investigação sobre o atendimento das privações, consideradas na análise, sofridas pela população baiana.
RESULTADOS E DISCUSSÃO:
A partir da descrição das dimensões saneamento, moradia, trabalho e educação, e das suas respectivas variáveis, que compõem o estudo multidimensional da pobreza, com base na análise dos microdados da PNAD, algumas questões se destacaram na Bahia no ano de 2011. Com base na dimensão moradia, se destaca o número representativo de baianos com propriedade de suas casas, 77,47%; no âmbito da educação a questão da taxa de analfabetismo ainda é considerada elevada, correspondendo a 12% da população; quanto ao saneamento básico, expressiva parcela da população possui acesso à água canalizada de rede geral, 88,40%, porém ainda há a privação de parte significativa com relação ao acesso ao esgotamento sanitário, cerca de 37%, e à coleta direta do lixo, 17,4%; uma alta proporção da população trabalha em condições precárias, em torno de 41,54%, entendidas como o não acesso ao sistema previdenciário social. Esse quadro evidencia que, a despeito da melhoria dos indicadores sociais, existem necessidades que precisam ser atendidas o quanto antes, uma vez que podem comprometer a vida de boa parte da população baiana.
CONCLUSÕES:
A inclusão de variáveis que envolvam outros aspectos, além da variável renda, nos estudos da pobreza é possível e se apresenta como uma condição necessária para a construção de análises mais completas sobre a real situação de pobreza na Bahia. O combate a esse problema sempre esteve ligado a políticas de transferência de renda. Porém, a evolução dessa análise, considerando o seu aspecto multidimensional, a partir da inclusão de variáveis de caráter social, contribui para a formulação de políticas de combate a pobreza.
A consideração de outros aspectos além da renda fará com que as políticas econômicas e sociais atuem juntas para a erradicação, ou mesmo a minimização da pobreza, já que essas abordagens estão mais preocupadas com o aspecto qualitativo do que o quantitativo.
Assim, por ser um fenômeno complexo, o estudo da pobreza necessita de uma análise que englobe, não só a renda dos indivíduos, mas também outros aspectos que estão ligados à sua incidência e que são necessários para o desenvolvimento digno de qualquer ser humano, como condições de saúde, educação, moradia entre outros. Conforme a interpretação dos dados do PNAD é possível afirmar que a população baiana ainda sofre privações significativas, o que reforça a necessidade do uso da Análise Multidimensional.
Palavras-chave: Abordagem das necessidades básicas, PNAD, Bahia.