65ª Reunião Anual da SBPC
G. Ciências Humanas - 7. Educação - 3. Educação Ambiental
POSSIBILIDADES BIOFÍLICAS E EDUCAÇÃO AMBIENTAL: ESCOLHENDO A ESPÉCIE-SÍMBOLO DO PARQUE NACIONAL SERRA DE ITABAIANA (SERGIPE) POR VISITANTES.
Cléverton da Silva - Depto. de Biociências - UFS
Paulo Sérgio Maroti - Prof. Dr./Orientador. Depto. de Biociências - UFS
INTRODUÇÃO:
Vivemos em uma sociedade totalmente dependente dos recursos naturais, porém, com ações que denotam ignorância quanto a este elo. Diante de tal realidade, as unidades de conservação (UCs) passam a ocupar relevante papel para esse modelo de vida uma vez que tornaram-se os últimos redutos naturais ou "ilhas de vida". Parques, estações ecológicas e outras categorias de áreas naturais protegidas utilizam-se de trilhas interpretativas para a transmissão de valores ambientais e conteúdos de ecologias em espaços ao ar livre. O Parque Nacional Serra de Itabaiana (PARNASI) localizado no agreste sergipano, único sob tal categoria de manejo recebe número elevado de visitantes durante o ano, em sua maioria de estudantes e professores. Biofilia foi primeiramente conceituado por E. Wilson como a atração inata do ser humano pelo mundo natural, o que proporcionou aos indivíduos e às tribos uma vantagem adaptativa ao longo de toda a história evolutiva (Wilson, 2008). Em UCs, algumas pesquisas com visitantes utilizam-se do potencial biofílico de algumas espécies para atrair a atenção das pessoas para o importante papel das UCs e da conservação de espécies da fauna e flora. Essas espécies são também denominadas de espécies-símbolo ou espécies-bandeira (Pádua & Pádua, 1997).
OBJETIVO DO TRABALHO:
Esta pesquisa tem como objetivo geral a inicialização de um projeto de educação ambiental a ser vinculado aos Planos de Uso Público do Parque. Dentre os objetivos específicos destaca-se o levantamento da espécie-símbolo do PARNASI junto aos visitantes e posterior divulgação em materiais didáticos e paradidáticos visando a divulgação da importância do PARNASI junto ao público do entorno.
MÉTODOS:
Inicialmente foram realizados levantamentos em literatura especializada junto ao banco de dados da Universidade Federal de Sergipe além do contato com o gestor da área, para a determinação de possíveis espécies da fauna do PARNASI com potencial biofílico. A definição das espécies possibilitou a criação de cédulas de votação, as quais foram aplicadas às escolas visitantes do Parque. As cédulas de votação foram estruturadas contendo 8 espécies da fauna (Cebus xanthosternos, Cnemidophorus abaetensis, Tolypeutes tricinctus, Allobates alagoanus, Tamandua tetradactyla, Hyalinobatrachium sp., Herpsilochmus pectoralis, Cerdocyon thous) do PARNASI, onde o aluno deveria votar marcando com um “x” no animal que melhor identificasse o Parque. Antes do uso das cédulas para a votação, os alunos foram submetidos a uma explanação sobre a fauna e flora local e sua importância. Para melhor exemplificar a questão da simbologia associada à UC foram usados outros exemplos de animais e a associação com seus biomas como as tartarugas do Projeto Tamar. Posterior à coleta foi realizada a análise de dados tendo o programa Excel como base para os cálculos de porcentagem e confecção dos gráficos de preferência biofílica do público amostral.
RESULTADOS E DISCUSSÃO:
Fizeram parte da pesquisa cinco escolas do estado de Sergipe (136 alunos), nos períodos de novembro de 2011 até dezembro de 2011. A espécie eleita com 52 votos foi o tamanduá-mirim. Pôde-se observar que para todas as escolas participantes da pesquisa, o grupo que corresponde a mastofauna, É O MAIS VOTADO. Trata-se de uma escolha associada ao significativo potencial biofílico dessas espécies devido ao seu elevado grau de parentesco evolutivo com o ser humano. Cabe ressaltar que a biofilia de mamíferos, em detrimento de répteis e anfíbios, despertam maior interesse pelas pessoas de uma forma geral. Por outro lado, os lagartos, representado na cédula pelo Cnemidophorus abaetensis, muito comum e típico da região nordeste, não só foi muito pouco indicado para espécie-símbolo como apenas três escolas o indicaram, podendo significar certa fobia a estes animais, possivelmente por serem associados às cobras e serpentes. Isto pode ser um problema crucial para a espécie. Assim, mostram-se necessários trabalhos ligados a produção de materiais didáticos/paradidáticos voltados às espécies da herpetofauna focando sua relevância para o ecossistema e visando desmistificar tal visão maniqueísta de espécies úteis ao homem e que precisam ser mantidas e aquelas que devem ser exterminadas.
CONCLUSÕES:
Pôde-se concluir que independente da faixa etária e do grau de escolaridade os animais naturalmente indicados por seu carisma e potencial biofílico são aqueles pertencentes à classe Mamallia, o que evidencia grande “laço” afetivo entre o ser humano e os grupos evolutivamente mais próximos. Quanto à questão da "negação" de algumas espécies, principalmente o caso dos répteis, tal fato relacionado a esta pesquisa chega a nos preocupar e, fazer algumas indagações. Tais escolhas e rechaço quanto aos répteis estariam possivelmente associados às opções religiosas do local, como o caso do cristianismo. A região nordeste do Brasil, onde está situado o PARNASI e as escolas participantes desta pesquisa, caracteriza-se como uma área onde existe domínio quase que completo do cristianismo. Com base nos resultados obtidos, vale ressaltar a importância da produção de materiais regionais quanto à importância do PARNASI e sua fauna, focando principalmente tais espécies "negadas" como os répteis e anfíbios. Os materiais didáticos e paradidáticos podem de alguma forma auxiliar nessa mudança de percepção/concepção de alunos e professores sobre os animais locais.
Palavras-chave: Biofilia, Espécie-bandeira, Unidade de Conservação.