65ª Reunião Anual da SBPC
G. Ciências Humanas - 9. Sociologia - 6. Sociologia Urbana
A dinâmica de realocação e ressignificação dos moradores dos habitacionais populares da cidade do recife/PE: o caso do conjunto habitacional Via Mangue
Antonio Marques Silva Lima - Bolsita/PET/Conexões: Encontros Sociais - UFPE
Nathielly Darcy Ribeiro Araújo - Bolsista/Fundação Joaquim Nabuco
INTRODUÇÃO:
Na cidade do Recife, o capital imobiliário em sua dinâmica local dita o processo da mudança nas areas residenciais da cidade, especialmente, as aquelas em que existem aglomerados habitacionais pobres e favelas, visto que “Os pobres sem poder desfrutar da segurança habitacional ‘universalizada’ apresentaram a sua versão de ‘domínio da natureza’, construindo as suas casas nas margens dos rios, lagos e nos morros” (NERY; SÁ. 2009 p.235). Devido à grande especulação imobiliária e a realização de constantes obras na capital, a rotina para a população que reside nesses locais é de desapropriação e de consequente realocamento das comunidades de origem para outros locais onde são construídos habitacionais, visando resolver as questões sociais e de estética urbanística.
Esse processo nem sempre pacífico, é gestado pela iniciativa pública, que tem a função de retirar essas pessoas dos locais que virão a ser utilizados para outros fins, e recolocá-las em habitacionais, que geralmente se apresentam na forma de blocos de apartamento, possuindo dependências de uma casa comum, quarto, sala, cozinha e banheiro.
Na presente pesquisa, farei um estudo de caso, no Conjunto habitacional Via Mangue, que conta com 992 unidades de apartamentos, localizados no Pina, para onde vão famílias que foram retiradas das ocupações Xuxa, Paraíso, Deus nos Acuda, Combinado, Beira Rio e Pantanal.
OBJETIVO DO TRABALHO:
O objetivo deste trabalho é analisar o processo de realocamento e re-significação das novas estruturas domiciliares pelos moradores do Conjunto Habitacional Via Mangue.
MÉTODOS:
O primeiro passo se deu com a realização de entrevistas semi-estruturadas com moradores. Estas entrevistas funcionaram como base de acesso às informações sobre as condições de moradia dentro dos habitacionais e das praticas de sociabilidade entre os moradores. Em seguida, se aplicou a técnica de grupo focal.O grupo focal pode ser definido como um grupo acessível e aberto ao debate de assuntos de interesse comum, permitindo a troca de pontos de vista, ideias e experiências. Este grupo deve ser escolhido dentro do universo a ser pesquisado, de preferencia moradores que estejam lá desde a inauguração das casas. Os métodos em questão foram aplicados em moradores maiores de 18 anos e que tenham sido realocados pela prefeitura da cidade do Recife em grupos formados entre 6 a 10 pessoas em quatro reuniões ao longo da pesquisa.A utilização do recurso fotográfico foi também um grande ponto a favor da pesquisa, por que a fotografia tem uma forma mais sutil e especialmente rápida de captar a realidade de objetivar o olhar dentro do campo de pesquisa, constituindo um instrumento quase que indispensável em uma pesquisa que tentou mostrar espaços físicos e a convivência dentro desses espaços.
RESULTADOS E DISCUSSÃO:
A astúcia em utilizar e modificar o uso das estruturas são as armas dos moradores, que não se vendo incluídos nos planos de construção do habitacional, acabam por utilizar artefatos para fazer daquele espaço, um espaço realmente seu, onde haja estrutura não só para abrigar pessoas, mas também suas praticas e ideias. O habitar em si vai além do tempo e do espaço como entendido em certas correntes nas ciências da natureza, o recordar é um mecanismo muito presente nesses momentos, onde se tinha praticas já enraizadas e organizadas e no novo momento elas também mudam e se arrumam no novo espaço. Como no caso de pessoas que tem casas de aluguel e dali tiram sua renda e quando vão para o novo apartamento só terão direito a um, como lidar com a logica do mercado de imóveis? O uso do imóvel não deve deixar de lado sua função social de amparar uma família ou mesmo um individuo, mas tem de se levar em consideração o nível de afetividade e as relações entre os moradores da localidade.
Toda a carga de significado dada às estruturas habitacionais, e até mesmo as novas formas de sociabilidade proporcionadas pelo local, nos remete à noção de gosto puro e gosto bárbaro de Pierre Bourdieu. Para o autor, somos sempre coagidos a reproduzir o originário, ou seja, o puro, e em troca nos é oferecido o exibicionismo ingênuo.
CONCLUSÕES:
Diante das novas estruturas habitacionais construídas para atender aos anseios da população realocada das áreas de moradia precária, somos levados a pensar na nova dinâmica que se processará nesse novo local de residência. Frente a uma proposta de habitação que objetiva atender as especificidades dos moradores de um determinado local, observamos os problemas que podem decorrer a partir da elaboração de um projeto arquitetônico, construído nos moldes da eficiência e elegância. A pergunta que fica é a seguinte: “será que realmente a nova estrutura foi construída para atender as necessidades físicas e as individualidades dos moradores?”. A mudança para uma nova moradia não consegue abarcar todas as especificidades que os moradores têm e por isso eles usam de artifícios para adequar o novo local a suas visões de mundo e reinventam os novos espaços. Apesar de tentar promover uma emancipação social, a realocação não é necessariamente o milagre que salve uma comunidade. A intervenção de um órgão na vida de pessoas que até então não se viam como integrados à sociedade por completo e estava à margem da utilização das instalações publicas e seus serviços podem ser visto muitas vezes como uma forma de opressão, o estado que agora cuida intensamente da vida dessas pessoas marginalizadas, acabam imprimindo em suas ações seus interesses.
Palavras-chave: Habitação, Recife, realocação.