65ª Reunião Anual da SBPC
C. Ciências Biológicas - 8. Genética - 1. Genética Animal
Caracterização de sistema de cromossomos sexuais múltiplo X1X1X2X2/X1X2Y em Coryphaena equiselis
RODRIGO XAVIER SOARES - UFRN
GIDEÃO WAGNER WERNECK FELIX DA COSTA - UFRN
AMANDA TORRES BORGES - UFRN
WAGNER FRANCO MOLINA - UFRN
INTRODUÇÃO:
Coryphaenidae, composta por duas espécies epipelágicas (dourados do mar) distribuídas por todos os oceanos tropicais e subtropicais do mundo, sustenta grande parte da pesca industrial e artesanal. Características morfológicas como a presença de dois canais pré-nasais ossificados, rara para Percoidei, aloca a família Coryphaenidae à sub-ordem Carangoidei, formando um grupo monofilético com as famílias Echeneidae, Rachycentridae, Carangidae e Nematistiidae, tendo com a Família Rachycentridae, sinapomorfias que os tornam um grupo monofilético e confirmado pela filogenia molecular por Gray et al. (2009).
A caracterização cromossômica em peixes marinhos ainda é incipiente diante diversidade da ictiofauna marinha, e se acredita que a falta de barreiras geográficas presente nesse ambiente, possa favorecer a homogeneidade cariotípica em grupos com alto potencial de dispersão. Entre os Perciformes marinhos, a subordem Carangoidei, do qual faz parte a pequena família Coryphaenidae (Springer e Smith-Vaniz, 2008), tem revelado um elevado conservadorismo diploide. De fato, a maior parte das espécies apresenta 2n=48 cromossomos, contudo, sobretudo para espécies pelágicas de grande porte, persiste uma grande lacuna no conhecimento sobre os padrões cromossômicos de alguns destes grupos.
OBJETIVO DO TRABALHO:
Neste trabalho objetivou-se caracterizar citogeneticamente a espécie Coryphaena equiselis (Coryphaenidae), através de técnicas clássicas, como o bandamento C, Ag-RONs, além de identificar as regiões ricas em pares de base GC e AT através dos fluorocromos base-específicos CMA3 e DAPI respectivamente.
MÉTODOS:
Os exemplares de Coryphaena equiselis utilizados nos estudos citogenéticos, foram coletados no Arquipélago de São Pedro e São Paulo (00°55’N e 029°21’W), Brasil. Todos os exemplares foram sexados e posteriormente tiveram o tecido renal coletado para obtenção de cromossomos mitóticos através da técnica de Gold et al. (1990). As regiões organizadoras de nucléolo (RONs) foram detectadas através da impregnação por nitrato de prata idealizada por Howell e Black (1980). As regiões heterocromáticas foram evidenciadas pela banda C segundo Sumner (1972). Adicionalmente, os cromossomos foram corados com fluorocromos base-específicos Cromomicina A3 e DAPI (Carvalho et al., 2005). As imagens foram obtidas através de microscópio óptico de epifluorescência OlympusTM BX50 e sistema digital de captura Olympus DP70 e os cromossomos classificados segundo Levan et al. (1964).
RESULTADOS E DISCUSSÃO:
Coryphaena equiselis apresentou 2n=48 cromossomos nas fêmeas com fórmula cariotípica constituída por 2m+6sm+40a (NF=56), enquanto os machos exibiram 2n=47 com fórmula cariotípica formada por 3m+6sm+38a (NF=56), com um grande cromossomos metacêntrico despareado.
As ag-RONs e coloração com fluorocromos base-específicos CMA3+/DAPI- foram localizadas no braço curto de um único par cromossômico (par 1). Blocos heterocromáticos localizaram-se na maioria dos cromossomos em regiões centroméricas e terminal.
C. equiselis exibe heterogametia masculina derivada da presença de um sistema de cromossomos sexuais múltiplos X1X1X2X2/X1X2Y. Análises envolvendo diversos grupos de peixes têm indicado que sistemas de cromossomos sexuais diferenciados podem surgir repetidas vezes, através de eventos independentes em um mesmo táxon.
O cromossomo metacêntrico presente nos representantes machos tem aproximadamente o dobro do tamanho dos demais, sendo possivelmente derivado da fusão cêntrica de dois cromossomos acrocêntricos menores, os cromossomos sexuais X1 e X2, homólogos do cromossomo Y. A ausência de fortes bandas heterocromáticas no cromossomo sexual pode ser evidência de um estado inicial de formação de um cromossomo neo-Y.
CONCLUSÕES:
O padrão cariotípico da espécie pelágica Coryphaena equiselis, reconhecidamente com hábitos migradores e ampla distribuição geográfica, revela padrões cariotípicos conservados. De fato, apresenta valor diploide considerado basal para Perciformes, 2n=48 cromossomos. Adicionalmente ainda emergem dos cariótipos de Coryphaenidae outros padrões cromossômicos conservados, como sítios ribossomais principais simples e reduzido conteúdo heterocromático, localizado em regiões centroméricas ou terminais. Por sua vez, a existência de heterogametia cromossômica masculina em C. equiselis, devida a um sistema de cromossomos sexuais múltiplos X1X1X2X2/X1X2Y, representa uma condição derivada, bem como a primeira ocorrência de cromossomos sexuais para Echeneoidea (Rachycentridae + Coryphaenidae + Echeneidae) ou da monofilética subordem Carangoidei.
Os dados aqui apresentados sugerem que rearranjos estruturais cromossômicos podem estar relacionados a processos de especiação na família Coryphaenidae, e representam a primeira descrição de heteromorfismo cromossômico sexual em Perciformes pelágicos marinhos.
Palavras-chave: Peixes marinhos, Citogenética, Coryphaenidae.