65ª Reunião Anual da SBPC
F. Ciências Sociais Aplicadas - 9. Desenho Industrial - 1. Programação Visual
Jawati Tinin: elaboração de material didático bilíngue Kokáma-português para a comunidade indígena Nova Esperança–AM
Altaci Corrêa Rubim - Depto. de Linguística - UnB
Marjorie Amy Yamada - Depto. de Desenho Industrial - UnB
Vanessa Porto - Depto. de Desenho Industrial - UnB
Ana Suelly Arruda Camara Cabral - Profa. Dra. - Depto. de Linguística, Português e Línguas Clássicas - UnB
Rogério José Camara - Prof. Dr. / Orientador - Depto. de Desenho Industrial - UnB
INTRODUÇÃO:
A comunidade indígena kokama Nova Esperança, localizada na periferia de Manaus, AM, enfrenta até hoje as consequências da conquista europeia. Assim como em outras minorias nativas, o sufocamento idiomático causado pela colonização e o contato constante com a sociedade não indígena gerou a deterioração de sua língua original, a qual se encontra hoje entre as 190 línguas condenadas ao desaparecimento no Brasil.
Desde o fim do século XX, a preocupação em salvaguardar as línguas minoritárias tem crescido e, em decorrência disso, muitos projetos de revitalização de línguas foram criados. Os kokama, que vivenciam um processo de fortalecimento linguístico e cultural, buscam por meios que possam ajudar no processo do ensino do idioma Kokáma como segunda língua para sua comunidade brasileira.
O material didático desenvolvido neste projeto de pesquisa, o Jawati Tinin, visa ao ensino da língua indígena Kokáma para crianças da etnia kokama, numa faixa etária de 7 a 9 anos de idade. Essas crianças já são alfabetizadas em língua portuguesa, e a tem como língua materna. O ensino do Kokáma se dá, portanto, num contexto de ensino de segunda língua. O material é bilíngue Kokáma-Português, e sua elaboração insere-se num contexto de fortalecimento linguístico-cultural do povo kokama no Brasil.
OBJETIVO DO TRABALHO:
Criar a interface gráfica do material didático Jawati Tinin, que seja condizente com o contexto do povo kokama da comunidade indígena de Nova Esperança, que traga elementos da cultura gráfica desse povo e crie um laço afetivo com a criança, além de auxiliar no fortalecimento do ensino aprendizagem da língua Kokáma e, consequentemente, de sua cultura.
MÉTODOS:
Após elaborado o conteúdo do material pela indígena Altaci C. Rubim, iniciamos o processo de compreender os propósitos pedagógicos dos exercícios nele propostos. Realizamos assim uma análise comparativa com outros materiais didáticos para ensino de línguas indígenas diversas.
Outro ponto abrangeu pesquisar e conhecer mais sobre a comunidade kokama de Nova Esperança: histórico, atividades do cotidiano, localização, o uso da língua Kokáma, a escola kokama, o que se ensinava/aprendia naquele espaço e quais eram seus objetivos dentro da comunidade.
Pesquisamos também grafismos e outras expressões artísticas da comunidade: paleta de cores, paisagem, representações de mundo. Houve uma preocupação quanto ao uso das ilustrações no material didático : realizamos uma pequena pesquisa de como os kokama representam o mundo que os cerca através de desenhos vindos da própria comunidade, a fim de não nos afastarmos da cultura imagética desse povo.
Demos especial enfoque à pesquisa de tipografia para o público infantil em contexto de alfabetização: quais fontes seriam as mais indicadas, que tipo de família escolher, qual o tamanho ideal das fontes etc. Quanto à produção gráfica, pesquisamos formatos econômicos de gráfica, tipos de papel econômico e encadernações para uso escolar.
RESULTADOS E DISCUSSÃO:
O tamanho escolhido para o material foi o formato econômico 9 (20 x 30 cm) por ser grande o suficiente para permitir que a criança escreva e desenhe no material com uma certa liberdade. Optou-se pela encadernação canoa, por permitir a total abertura do material e melhor manuseio deste por parte da criança. É importante ter em vista que essas crianças ainda estão na fase de aperfeiçoamento da coordenação motora, em especial a classificada como fina, o que faz com que, muitas vezes, elas necessitem de muito espaço para escrever, muitas vezes extrapolando o espaço destinado à tarefa.
O grid tem proporção 4:6. Quanto às margens, definimos as seguintes medidas: 24 mm para a margem superior, 30 mm para a inferior, 20 mm para a interna e 25 mm para a margem externa. Optamos por definir uma margem que não fosse simétrica para que o material não ficasse monótono e tedioso em sua narrativa.
Definimos duas famílias tipográficas para o material, ambas não serifadas: a Cronos Pro, para textos em Português, e a Tekton Pro, para textos em Kokáma. Optamos por escolher duas famílias a fim de diferenciar as duas línguas. O tamanho usado nos textos, em ambas as famílias, foi o 14 pt. Todos os textos são alinhados à esquerda, sem justificação.
CONCLUSÕES:
A obsolescência ou o não uso no cotidiano da língua nativa é um fenômeno que hoje está ocorrendo com muitos povos indígenas no Brasil, inclusive com o povo kokama. A perda da língua ou o não uso desta significa também a perda de uma parte importante da identidade cultural de um povo. Muitos esforços estão em andamento para tentar reverter esse processo de obsolescência da língua Kokáma, e um dos principais investimentos nesse sentido está sendo através do ensino escolar indígena. Assim, a criação do material didático Jawati Tinin surge num contexto de fortalecimento linguístico e cultural para os kokama no Brasil.
Conseguimos, ao fim, alcançar nosso objetivo de criação de uma interface gráfica para o material didático Jawati Tinin que aproximasse do ensino da língua Kokáma não apenas as crianças, mas também toda a comunidade de Nova Esperança. Mais do que um simples material didático, o Jawati Tinin serviu de inspiração e de fortalecimento da auto-estima dos indígenas kokama, que agora estão mais empenhados na elaboração de outros materiais didáticos e paradidáticos que possam auxiliar no fortalecimento da língua e da cultura.
Palavras-chave: Fortalecimento de língua indígena, Diagramação, Material didático indígena.