65ª Reunião Anual da SBPC
G. Ciências Humanas - 7. Educação - 3. Educação Ambiental
CONHECIMENTO POPULAR DOS PROFISSIONAIS DE TURISMO DA ILHA GRANDE (RJ) SOBRE AS ESPÉCIES MARINHAS NATIVAS DA REGIÃO
Fabiana Santos - Departamento de Ecologia, UERJ.
Camila Meireles - PPG em Ensino de Ciências, Ambiente e Sociedade; FFP/ UERJ
Lucienne Andrade - Profa. Msc.-CEDERJ/UERJ
Joel Creed - Prof. Dr.-Departamento de Ecologia, UERJ.
Magui Aparecida Vallim - Profa. Dra/ Orientadora- Dep. de Ensino de Ciências e Biologia, UERJ
INTRODUÇÃO:
A Ilha Grande está localizada na Baía da Ilha Grande, região com forte apelo turístico devido sua beleza paisagística. A região é reconhecida por sua biodiversidade marinha, mas apesar disso está sob ameaça de diversos impactos negativos, como o turismo desordenado. A ilha já presenciou importantes ciclos da economia brasileira, já esteve vinculada à pesca, às fábricas de sardinhas e instituições carcerárias. Mas com o declínio da pesca e o fechamento destas instituições, a região viu seu potencial econômico se estabelecer no turismo, onde alguns dos principais atrativos são os passeios náuticos e o mergulho. No entanto, a Ilha Grande, que para muitos é considerada um “paraíso ecológico”, sofre com os impactos deixados pela prática de um turismo pouco sustentável, estando alguns desses relacionados às embarcações de lazer e ao lixo gerado. Nesse cenário conflituoso e servindo de atrativo para milhares de turistas, a biodiversidade marinha da região está em perigo, uma vez que pouco se conhece sobre sua importância e até mesmo sobre as espécies que ali vivem. Sendo assim, é importante que se avalie o conhecimento dos atores envolvidos com o turismo sobre as espécies marinhas da região, uma vez que se trata de um recurso de grande importância para a economia local.
OBJETIVO DO TRABALHO:
O objetivo desse trabalho foi verificar a percepção dos profissionais de turismo da Ilha Grande, RJ, sobre as espécies marinhas nativas da Baía da Ilha Grande
MÉTODOS:
A pesquisa foi realizada, no período de agosto a novembro de 2011, com profissionais de turismo que atuam na Ilha Grande, Angra dos Reis, RJ, através de entrevistas do tipo aberta com gravação de voz. O público-alvo foi composto por 40 profissionais (agenciadores de passeios náuticos, barqueiros, instrutores de mergulho autônomo, funcionários do Parque Estadual da Ilha Grande (PEIG) e funcionários responsáveis pelo atendimento aos turistas do cais de turismo). Esses profissionais foram abordados de forma aleatória e convidados a participar da pesquisa em seus estabelecimentos/locais de trabalho na Vila do Abraão, Ilha Grande, vila essa que é considerada a “porta de entrada” da Ilha Grande e onde se concentram os principais serviços de turismo. Perguntou-se aos entrevistados se eles conheciam as espécies marinhas nativas da Baía da Ilha Grande, explicando, se necessário, o significado da palavra “nativa”. Após a realização das entrevistas, os organismos citados nas respostas foram quantificados e agrupados, segundo o número de falas, através do método de Análise de Conteúdo (Bardin, 1977), de acordo com seus filos/subfilos correspondentes, a fim de verificar quais os grupos de organismos eram os mais representativos para esse público.
RESULTADOS E DISCUSSÃO:
Todas as espécies marinhas da Baía da Ilha Grande citadas são representantes do reino animal. Apesar da região apresentar uma grande diversidade de macroalgas, o grupo não foi citado nas entrevistas. Isso indica a pouca familiarização dos respondentes com esses organismos ou, até mesmo, pode revelar o seu baixo grau de importância para esses profissionais. As espécies mencionadas pertencem aos seguintes filos: Cnidaria, Echinodermata, Annelida, Mollusca, Arthropoda e Chordata. O filo Annelida foi registrado no discurso apenas do grupo formado pelos funcionários do PEIG. O agrupamento artificial formado pelos peixes despontou como o grupo com maior representação, alcançando mais de 55% das falas em quatro das cinco categorias criadas com os profissionais. Os peixes recifais foram os mais citados pelos instrutores de mergulho e os não recifais, como a garoupa e o robalo, pelos demais profissionais. No entanto, o peixe recifal sargentinho se destacou na fala dos agenciadores de passeios, o que se deve à sua alta abundância na região, além da espécie ser um grande atrativo para os turistas durante os passeios. As tartarugas marinhas e as estrelas-do-mar foram muitas vezes mencionadas, organismos estes que também são bem apreciados durante a prática de snorkelling.
CONCLUSÕES:
A maioria dos profissionais entrevistados, que atua no turismo voltado para os passeios náuticos e mergulho livre (snorkelling) na região da Ilha Grande, apesar do contato direto ou indireto com o mar, pouco conhece sobre a biodiversidade marinha local. O conhecimento se restringe principalmente aos peixes não recifais de importância econômica na alimentação e ao peixe recifal conhecido popularmente como sargentinho, além das tartarugas marinhas e das estrelas-do-mar, organismos ícones para o mergulho na região. A exuberante vida marinha presente nos costões rochosos dos arredores da Ilha Grande praticamente passou despercebida na maioria das falas desses atores sociais locais. Isso nos leva a inferir que, devido ao pouco conhecimento a respeito desses organismos, esses atrativos, apesar de importantes, podem ser pouco valorizados na prática profissional cotidiana desses indivíduos. Isso poderia maximizar os impactos sobre os ecossistemas de costões rochosos - ecossistemas mais visitados durante os mergulhos - e toda sua diversidade de espécies, resultando assim no declínio de um recurso essencial para o turismo subaquático da Ilha Grande.
Palavras-chave: Baía da Ilha Grande, Biodiversidade Marinha, Turismo.