65ª Reunião Anual da SBPC
C. Ciências Biológicas - 10. Microbiologia - 2. Microbiologia Aplicada
EFEITO DA RELAÇÃO C:N NA BIOESTIMULAÇÃO DA DEGRADAÇÃO DE QUEROSENE PELA BACTÉRIA UFPEDA 834 Ochrobactrum anthropi E AVALIAÇÃO DA FITOTOXICIDADE
Davi de Lima Cavalcanti - Centro de Ciências Biológicas - Depto.de Antibióticos – UFPE
Débora de Souza Pereira Silva - Centro de Ciências Biológicas - Depto.de Antibióticos – UFPE
Norma Buarque de Gusmão - Profa. Dra. - Centro de Ciências Biológicas - Depto.de Micologia – UFPE
Maria de Fátima Vieira de Queiroz Sousa - Profa. Dra./Orientadora – Ciências Biológicas - Depto.de Antibióticos – UFPE
INTRODUÇÃO:
O terminal portuário de Suape-PE, abriga importantes distribuidoras de combustíveis de petróleo, sobretudo de gasolina. O armazenamento e o transporte de gasolina, bem como sua venda em postos na área urbana, pode trazer riscos de contaminação ambiental. Na tentativa de minimizar os danos causados ao ambiente por esse combustível, o desenvolvimento de técnicas de remediação é de fundamental importância. Entre estas técnicas, destaca-se a biorremediação que consiste na utilização de processo ou atividade biológica por meio de organismos vivos, que possuam a capacidade de modificar ou decompor determinados poluentes, transformando, assim, contaminantes em substâncias inertes (Jacques et al., 2010; Soares et al., 2011).
As bactérias possuem características metabólicas diversas que as colocam num grupo de microrganismos de reconhecida atividade degradadora. Crescimento rápido e facilidade para se aclimatar rapidamente são as principais condições, que são fundamentais na seleção de microrganismos biodegradadores do petróleo e derivados (Gomes, 2004).
Uma das técnicas usadas na biorremediação é a bioestimulação, que consiste em introduzir nutrientes, como o nitrogênio, em um sistema poluído com a finalidade de acelerar o processo de degradação (Sarkar, et al., 2005).
OBJETIVO DO TRABALHO:
Investigar o efeito da relação de carbono e nitrogênio na bioestimulação de querosene pela bactéria UFPEDA 834 Ochrobactrum anthropi e avaliação da fitotoxicidade do material bioprocessado.
MÉTODOS:
Microrganismo - A bactéria utilizada UFPEDA 834 Ochrobactrum anthropi pertence a Coleção de Culturas do Departamento de Antibióticos da Universidade Federal de Pernambuco.
Teste de Potencial de Biodegradação do Querosene - foi utilizada a técnica de Hanson et al. (1993), empregando o meio mineral de Bushnell-Haas (BH) contendo o querosene na presença do indicador 2,6-diclorofenol-indofenol (DCPIP) (0,8 mg/mL).
Ensaio de Aclimatação - foi realizada em frascos de Erlenmeyer contendo o meio mineral BH, 20% (v/v) do inóculo e concentrações crescentes (1 a 10%) de querosene transferidas a cada 48 horas. Os frascos foram mantidos sob agitação de 150 rpm e a temperatura de 30±1ºC.
Ensaios de Bioestímulo – foram utilizados em frascos de Erlenmeyer 20% da suspensão microbiana, previamente aclimatada, 10% do querosene e 70% do meio BH ou dos meios BH modificados, em que as relações de C:N estavam na proporção de 50:1 e de 100:1. Os experimentos foram realizados à temperatura de 30±1°C, sob agitação de 150 rpm. Foram realizadas amostragens para as determinações de: pH, biomassa e cromatografia gasosa.
Teste de Fitotoxicidade - o efeito tóxico do material biodegradado foi avaliado utilizado-se sementes de feijão (Phaseolus vulgaris) seguindo a metodologia de Tiquia et al. (1996).
RESULTADOS E DISCUSSÃO:
A linhagem UFPEDA 834 Ochrobactrum anthropi descoloriu o meio em 72 horas após a adição do indicador DCPIP. Este fato indica uma boa adaptação enzimática utilizada na degradação do querosene.
Nos ensaios de bioestímulo a composição do meio BH sem modificação permitiu a maior quantificação celular (0,98g/L), comparado com as relações de C:N 100:1 (0,75g/L) e 50:1 (0,46g/L). Já os valores de pH apresentaram perfis semelhantes, decrescendo de pH 7 para pH 5. De acordo com Kumar et al. (2005) a acidez do meio é causada pela formação de subprodutos ácidos da degradação do petroderivados.
A análise cromatografica revelou que no meio BH sem modificação foi obtido o melhor percentual de degradação do querosene (77%), seguido das relações C:N 100:1 (69,5%) e 50:1 (69,3%). Segundo Nikolopoulou e Kalogerakis (2009) a aplicação de uma quantidade excessiva de nutrientes sobre as necessidades metabólicas de micróbios podem resultar em diminuição da atividade de biodegradação.
Nos testes de fitotoxicidade os índices de germinação com o meio BH sem modificação apresentou o melhor resultado (22,7) comparado com as relações C:N 50:1 (13,4) e 100:1 (2,1). O controle com o querosene não bioprocessado não apresentou germinação, como era previsto devido a sua toxicidade.
CONCLUSÕES:
O aumento na concentração do constituinte do meio provedor de nitrogênio, no caso o nitrato de amônio contido no meio mineral BH, nas relações de carbono e nitrogênio de 100:1 e 50:1, não estimulou uma maior biodegradação do querosene pela bactéria UFPEDA 834 Ochrobactrum anthropi nas condições empregadas. No entanto, os valores de biodegradação do querosene obtidos com o meio mineral BH sem modificação foi elevado, além de ter a vantagem de gerar menor custos que os meios com acrescimo de nutriente. Além disso, a biodegradação do querosene pela bactéria UFPEDA 834 Ochrobactrum anthropi atenuou a fitotoxicidade da fonte oleosa. Por fim os resultados mostraram que a bactéria em estudo apresenta grande potencial para a degradação de querosene, podendo ser usada em pesquisas de processos de remediação de áreas poluídas pelo referido petroderivado.
Palavras-chave: biodegradação, biorremediação, petroderivado.